Temos atravessado em nosso país, nos últimos anos, uma zona de esquisitices que só aumenta. Desde quando, nas últimas eleições presidenciais, as redes sociais foram usadas e abusadas para veicular fake news, o volume de boatos, teorias da conspiração, bizarrices têm aumentado o acervo de um imaginário de horror, na cena política.
A coisa chegou a um ponto tal que nem parece mais delírio a notícia, veiculada no final de semana, de que o governo federal pediu à PF uma investigação das cenas, em um filme que está sendo produzido, nas quais acontece a simulação de um atentado ao “presidente”.
Entre aspas, porque na verdade se trata de uma personagem ficcional, em uma história ficcional, como soe acontecer com filmagens para o cinema. Até mesmo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, apareceu – na vida real, diga-se – determinando a investigação, pois, segundo ele: “As imagens são chocantes e merecem ser apuradas com cuidado”.
Os precedentes só nos autorizam a pensar que uma grave mudança ocorre com a ascensão ao poder de um grupo político com ideias, no mínimo, controversas. Temos um presidente que estimula o uso da violência (não vejo de outra forma a flexibilização da aquisição de armas pela população civil).
O Brasil chega a 46 milhões de permissões para compra de armas por civis. Já somam 605,3 mil pessoas que têm carteirinhas ativas para acesso a armamento, número maior que o total do efetivo de PMs no país, e de militares em serviço nas Forças Armadas. E estamos falando de armamento pesado e munição de grosso calibre.
Só para termos um parâmetro, o total do efetivo de PMs em ação chega a 406,3 mil agentes; militares em serviço somam 357 mil pessoas. É um poder de fogo estarrecedor: o contingente de caçadores, atiradores e colecionadores (os que podem ter a tal da autorização) triplicou desde 2019.
Temos, ao longo dos últimos anos, uma escalada de violência que estimula a insegurança geral. Não há dúvida, e isso se deve ao crescimento do tráfico de drogas e suas repercussões sociais de toda ordem. Trata-se de um mercado que movimenta milhões, que produz a ilusão, em adolescentes pobres, sem outra perspectiva de vida, de ascensão rápida e de um empoderamento sem limites.
Cenário propício para a ocorrência de uma disputa sangrenta, envolvendo a luta urbana por territórios e a afirmação de indivíduos jovens, sem uma ética que não a da sobrevivência: é matar ou morrer. Aliado aos desequilíbrios sociais promovidos pelo desastre que têm sido as políticas econômicas, com a miséria aumentando o contingente de pessoas com fome, sem emprego, sem futuro, a tragédia se anuncia sem cortes.
Em vez de promover reformas estruturais para fazer frente à insegurança pública, à insegurança alimentar, aos problemas da saúde e da educação, é mais fácil promover um clima de caos. Nisso se observa uma inversão dos papéis entre o que é obra de ficção e paranoia conspiratória, como a que se revela no fato de um ministro da república vir a público para requerer investigação sobre um filme que está sendo produzido. Certamente haverá, dentre as personagens da trama cinematográfica, um detetive inteligente e sagaz, para descobrir o que os sinistros perseguidores do presidente estão aprontando. Corta!
A produção do filme “A Fúria” divulgou nota, afirmando que a cena foi divulgada sem autorização e tirada de contexto, o que configura uma ilegalidade. Mas o que mais impressiona é que tudo serve de pretexto ao atual governo para considerar que está sendo atacado.
Enquanto isso, a polícia real (pelo menos a do Paraná), não considera crime político o ataque de um correligionário do governo, gritando o nome do presidente, que entra atirando em um aniversário cuja temática celebra um pré-candidato adversário, e mate o aniversariante.
Onde vão chegar as cenas dos próximos capítulos desse teatro do absurdo em que virou a cena política nacional? Teorias de conspiração não têm levado a lugar nenhum, ou melhor, quando não produzem cenas bizarras só têm servido para prenunciar desastres.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Se o presidente fosse Molusco com L., o honesto, com o mesmo filme teria a mesma repercussao ou maior. Obvio. Basta a tentativa de expulsar um jornalista extrangeiro do pais porque divulgou o afeto presidencial demasido por bebidas alcoolicas. O estatuto do desarmamento teve referendo que foi ‘democraticamente’ desrespeitado no governo petista. Agora ‘chiam’, mas nao e para gostarem mesmo. Correligionario gritou ‘aqui é cavalão!’. Petista pegou terra numa floreira e jogou dentro do carro. Esta filmado. Nada disto era para ter acontecido. Trafico ja sabe que mais cedo ou mais tarde irao liberar a maconha. Ja testa meta-anfetaminas e opioides no mercado. Resumo da opera: ideologia da esquerda é religiao, nao as leis de Newton; humanidade produz absurdos, para quem tem fé em utopias Lexotan resolve.