Forrobodó. Documento de Tarso Genro agita e torna pública a barafunda interna do PT
Num primeiro momento, atribuiu-se a Tarso Genro, e somente a ele, documento que será apresentado ao Diretório Nacional do Partido. Mais tarde, soube-se que o ministro das Relações Institucionais é o autor do texto final, mas a assinatura será, também, de outras figuras ditas coroadas na sigla.
O certo, porém, é que o conteúdo do documento tem tudo para ser explosivo. Além de contestar o comando hoje exercido pelo chamado grupo paulista, muito ligado a José Dirceu, e que tem como integrantes, o atual presidente da sigla, Ricardo Berzoini, e o vice-presidente e assessor especial do Presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, entre outros, Tarso (e quem com ele concorda) chega a propor o afastamento dos atuais dirigentes, e vem de novo com a expressão refundação do PT.
Isso pode não interessar diretamente ao cidadão comum. Este, vamos convir, tem outras preocupações, muito mais próximas e diretas. No entanto, para quem avalia a política com outros olhos, inclusive com a mira no futuro, é fundamental entender o que acontece, afinal de contas, no interior de um dos principais protagonistas da cena nacional. Isso se não for o maior – afinal, detém a Presidência da República e da Câmara dos Deputados.
Estão aí as razões sobradas, penso sem modéstia, para reproduzir aqui nota do jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo, na página dele na internet. E foi ali, na madrugada de sábado, quando foi publicada, que começou a discussão pública desse episódio que está longe de terminar. Acompanhe:
Documento de Tarso provoca guerra interna no PT
A uma semana de comemorar 27 anos de existência, o PT arrosta mais uma crise interna. Foi provocada por um documento escrito por Tarso Genro. Chama-se Mensagem ao Partido. No texto, o ministro das Relações Institucionais desanca o Campo Majoritário -tendência que comanda a legenda-, ressuscita a crise do mensalão e volta a esgrimir a tese de que só uma refundação autêntica recolocará nos trilhos o partido de Lula.
Abespinhados, líderes do Campo Majoritário pintaram-se para a guerra. A reação é comandada pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, cuja substituição é insinuada no texto de Genro. O contra-ataque virá na forma de um segundo documento. A redação final foi confiada a Marco Aurélio Garcia, devolvido à assessoria internacional de Lula depois de ter substituído Berzoini na presidência do partido durante a crise do dossiêgate.
A batalha dos documentos desaguará na próxima reunião do diretório nacional do PT. Será realizada em Salvador (BA), no dia 10 de fevereiro. Na noite da véspera, também na capital baiana, o PT festejará o 27º aniversário de sua fundação, num jantar com a presença de Lula. O presidente observa a encrenca à distância. Nos subterrâneos, dá corda a Tarso Genro. Mas evita envolver-se diretamente no arranca-rabo.
O documento de Tarso Genro está em sua terceira versão. A penúltima tinha cinco laudas. A última, que incorpora contribuições de luminares de correntes mais à esquerda do petismo, tem sete folhas. Foi vazada em termos ácidos. Afirma que o PT ainda não superou a crise ética que rói a sua reputação desde 2005. Uma crise, anota o documento, de corrupção ética e programática.
Não foi, nas palavras de Genro, algo apenas conjuntural. Não decorreu apenas de desvios comportamentais. Tampouco resultou de meros abusos de poder e de confiança. Foi provocada por um modo de construção eleitoralista, e pelo afastamento do PT das organizações de base e do mundo do trabalho e da utopia socialista.
O nome de José Dirceu (PT-SP) não é mencionado uma única vez. Tarso Genro chega mesmo a anotar que suas constatações não visam incriminar indivíduos. Mas a sombra do deputado cassado, chefe da quadrilha dos 40, nas palavras do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, perpassa o texto do ministro. Dirceu é sócio fundador do Campo Majoritário.
É ele o dínamo de uma crise que, para Genro, o PT ainda não superou. Na gênese do tufão, o ministro enxerga a hegemonia absoluta de um núcleo dirigente que ditava as regras partidárias em processo decisório alheio às instâncias do partido. A grave crise ética e política, escreve Genro, chega mesmo a ameaçar a sobrevivência do PT.
Para superar a crise, além da substituição da atual direção do PT, o ministro defende a formação do que chama de novo campo político no interior do PT. Uma maioria partidária capaz de oxigenar as relações internas e restabelecer o diálogo entre as diferentes tendências abrigadas sob o guarda-chuva da legenda. Como antídoto contra as verbas não contabilizadas da era Delúbio Soares, prega que o partido volte a se financiar predominantemente com as contribuições de seus filiados.
Nesta sexta-feira (2), em visita a São Paulo, o governador petista da Bahia, Jaques Wagner, anfitrião dos festejos do aniversário da legenda e da reunião do diretório da próxima semana, cruzou, no aeroporto, com Marco Aurélio Garcia. Foi informado de que o texto de Genro, entalado na garganta dos atuais gestores do PT, terá uma resposta à altura. Marco Aurélio encaminhava-se justamente para um encontro do “Campo Majoritário”, alvo de Genro. Acontece neste sábado (3), em São Roque (SP).
A guerra de textos revive a atmosfera do segundo semestre de 2005. Uma época em que, nas pegadas do mensalão, Genro trocou o Ministério da Educação pela presidência interina do PT. Substituiu a José Genoino, cuja reputação fora sugada pela crise. Tentou, refundar o PT em meio à tormenta. Foi esmagado pelo grupo de José Dirceu. Tenta agora o revide.
Ao ler o texto de Genro, Dirceu disse a um petista de sua confiança que o ministro vai grudar à sua biografia mais uma coça. Do resultado do enfrentamento depende o futuro do PT. Um futuro que a legenda tentará desenhar num Congresso partidário programado para julho.
SE DESEJAR ler também outros artigos sobre este e outros temas políticos nacionais, pode fazê-lo acessando a página do jornalista na internet, no endereço http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/.
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