Educação especial e o trabalho dos monitores escolares – por Demetrio Cherobini
A atividade exercida nas monitorias é exigente e não pode ser um “bico”
Há poucos dias, o pai de um dos meus alunos chamou-me a atenção para uma questão importante: na educação especial, a atuação dos monitores escolares deveria ser realizada por profissionais concursados.
Essa reflexão faz sentido. A forma atual como nossa prefeitura emprega monitores é por meio de contrato temporário. Muitas pessoas enxergam essa função como um “bico”. As vagas são ofertadas todos os anos para estudantes secundaristas ou graduandos, ou seja, pessoas sem formação concluída na área da educação. O salário gira em torno de parcos setecentos reais mensais para 30 horas de trabalho semanais. É menos do que ganha um entregador da Ifood.
Por causa dessa precarização, é difícil preencher todas as vagas. Com frequência, os próprios pais e professores acabam correndo atrás dos sujeitos interessados, geralmente adolescentes sem experiência. Passa-se, às vezes, o ano inteiro sem completar o quadro de monitores da escola, porque as pessoas simplesmente não têm interesse num trabalho em condições tão ruins.
Isso incide na qualidade da educação das crianças com necessidades especiais? Muito. Em primeiro lugar, porque o trabalho de monitor é exigente e não pode ser um “bico” feito por quem não achou coisa melhor.
Os monitores passam mais tempo com o aluno do que o educador especial. Eles desempenham funções de auxílio à locomoção, alimentação e higiene dos estudantes. Não há determinação para que façam trabalho pedagógico, mas seria muita ingenuidade crer que os monitores não se envolvam também com essas tarefas. É sabido que o fazem, seja por iniciativa própria e empatia com os alunos, seja por sugestão da instituição.
Portanto, na prática o monitor acaba tendo papel ativo na educação dos meninos e meninas com necessidades especiais. E não é ruim que isso ocorra, desde que esse trabalho seja devidamente organizado, planejado, qualificado, bem remunerado e regulado por legislação condizente com a atividade educacional profissional.
Ora, profissionais concursados, via de regra, possuem maior valorização e são amparados por mais leis trabalhistas que a média dos trabalhadores brasileiros. Isso significa melhores condições gerais de trabalho, fato que reverte no aumento da qualidade do trabalho educativo praticado na escola.
A sugestão do pai de meu aluno é, portanto, lúcida, coerente e merecedora de toda credibilidade. O trabalho do monitor tem grande importância para o bom andamento da educação especial. Por isso, deve ser pensado de maneira mais generosa do que atualmente. Mantidas as condições atuais, dificilmente os meninos e meninas incluídos nas escolas terão suas necessidades atendidas, o que acarretará em obstáculos maiores ao seu aprendizado e desenvolvimento.
(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.
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