Ísis: o Mito de Osíris e a maternidade – por Elen Biguelini
‘A maternidade era grande parte da vida da mulher egípcia. Logo uma deusa...’
Em nosso primeiro texto sobre as deusas e figuras femininas da história do Egito escolhemos aquela que é a atualmente mais conhecida, bem como a mais reconhecida por uma de suas representações – a de uma mulher alada.
Para conhecer a história da deusa Ísis é preciso conhecer o mito de Osíris, ou a história de seu marido, Osíris, de seu filho Hórus e do inimigo destes, o irmão de Osíris, Set.
O mais velho, e bom, rei Osíris teve seu trono usurpado pelo irmão Set, por quem foi assassinado. Tanto o rei usurpado e sua rainha, quanto o assassino eram herdeiros do deus criador Ra, sendo filhos dos deuses Geb e Nut. A mãe, deusa da noite e é representada em todas as tumbas que sobreviveram através de estrelas no teto e esposa gêmea de Geb, deus terra.
Osíris seria o bom irmão, enquanto Set representa a maldade. O bem e o mal em embate eterno.
Com a morte do marido, Íris procurou vastamente pelos pedaços de seu corpo, que haviam sido espalhados por todo o Egito. Quando encontrou todos os pedaços, juntou-os e se uniu a ele promovendo sua ressurreição. Da união dos dois nasceu o filho, Hórus, que seria o legitimo herdeiro do trono egípcio. Seu pai, ressurgido após receber novamente a vida por meio da esposa, torna-se o governante do reino da morte.
O filho então tentou vingar a morte de Osíris, culminando finalmente em uma batalha na qual o sobrinho retira o olho do tio – formando o amuleto atualmente conhecido como Olho de Hórus.
Este é uma descrição do mito que foi modificado ao longo da história do Egito, mas que apresenta sempre estas três importantes figuras, aliado também a esposa de Set, Néftis, também irmã dos outros três e deusa protetora dos mortos. Muitas são as versões, mas o papel principal de todos é basicamente este. Bem e mal, usurpador e rei, mãe e filho, sobrinho e tio. Etc.
A representação da deusa Isis é constante por todo o Egito. Ela é encontrada de todas as formas, com asas, acompanhando o marido, com o bebê no colo sendo amamentado ou com uma criança ao seu lado.
A maternidade era claramente grande parte da vida da mulher egípcia. Logo, uma deusa que a representasse não poderia faltar ao panteão daquela sociedade. Não é à toa que é representado tanto pela própria Ísis, quanto por sua irmã Néftis.
Através do leite dá a vida ao bebê, assim como deu a vida ao marido após ter encontrado seu corpo.
Embora a adoração desta figura só tenha se tornado comum após a Quinta Dinastia Egípcia, esta divindade se tornou uma das mais frequentemente adoradas no antigo Egito e não apenas unicamente neste. Era importante também para os Núbios e para os Romanos, que muito aproveitaram dos cultos egípcios para a sua sociedade, tendo, em especial, incorporado Ísis ao seu panteão.
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
Nota do editor: a imagem que ilustra este texto é de reprodução.
‘[…] o sobrinho retira o olho do tio – formando o amuleto atualmente conhecido como Olho de Hórus.’ Na verdade o sobrinho perde um olho combatendo o tio e depois tem a visão restituida pelo deus Thoth. Diversas versões, numa delas o olho é oferecido para Osiris que o leva para o mundo dos mortos. Algusn dizem que simbolizava, dentre outras coisas, as fases da lua. Na decada de 70, para quem é antigo, havia um enlatado americano chamado ‘Isis’ onde uma professora se transformava na deusa. Epoca da Mulher Bionica, da Mulher Maravilha. Porém o Antigo Egito não tinha mulheres somente no aspecto religioso. Todos lembram das piramides, mas o Templo Mortuario de Hatshepsut, ao menos nas fotos, é muito bonito.