RESCALDO. Em feito histórico, RS elege primeiras parlamentares negras para Assembleia e Câmara
Quarteto de deputadas rompeu uma barreira de quase 90 anos no Rio Grande
Reproduzido do jornal eletrônico SUL21 / Texto assinado por Luciano Velleda
As mulheres negras fizeram história no Rio Grande do Sul na eleição de 2022. O Estado que, em 87 anos de Assembleia Legislativa, jamais havia elegido uma deputada negra alçou ao posto nesta eleição duas de uma só vez – e outras duas para a Câmara dos Deputados, feito igualmente inédito.
Bruna Rodrigues (PCdoB) e Laura Sito (PT) serão as primeiras mulheres negras no parlamento gaúcho. Daiana Santos (PCdoB) e Denise Pessôa (PT) farão a mesma história em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Aumentar a representação política de mulheres e pessoas negras tem sido um grande desafio no País. Desde a eleição de 2018, os partidos políticos precisam cumprir a cota mínima de 30% de candidaturas femininas. Para este ano, cada mulher e parlamentar negro eleito terá peso 2 no próximo cálculo da distribuição do fundo partidário.
Bruna Rodrigues (PCdoB) conta que, durante a campanha, falava para as pessoas que o RS nunca havia elegido uma mulher negra e as pessoas se surpreendiam com o fato. Eleita vereadora em Porto Alegre em 2020 e, desde então, compondo a chamada Bancada Negra na Câmara com outros quatro parlamentares, ela acredita que sua vitória deve-se à compreensão do eleitor sobre a necessidade de novos rumos.
Na sua análise, a Capital entendeu a importância da representação de uma bancada antirracista em 2020 e o mesmo ocorreu agora com o Estado. Bruna destaca a importância de romper o lugar comum em que o negro atua apenas em serviços de limpeza ou manutenção e não está sentado no parlamento com mandato.
“Porto Alegre entendeu a importância da representação negra e agora o Rio Grande do Sul sonhou junto. Vencemos essa barreira que há mais de 200 anos estava gigante à nossa frente. Essa vitória é coletiva”, celebra, se dizendo também feliz com a vitória das outras colegas da Câmara. “Não queremos andar sós, queremos andar acompanhadas.”
Atuação na Assembleia
Também eleita junto com Bruna para a Assembleia Legislativa, Laura Sito (PT) interpreta o feito histórico como um movimento nacional que reafirma a necessidade de uma agenda antirracista para o Brasil.
“Foram várias mulheres negras que nós elegemos deputadas pelo País afora, um fortalecimento que já vem desde 2018 e 2020, que cresce ainda mais em 2022, quando o Rio Grande do Sul não poderia ficar de fora desse movimento”, afirma a atual vereadora da Capital.
“É importante que a gente compreenda que combater o racismo no Rio Grande do Sul é um dos gargalos fundamentais do combate às desigualdades estruturais do nosso Estado. Vejo nossa eleição como simbólica, potente e muito importante para podermos pensar o desenvolvimento local do nosso estado a partir do combate a todas as desigualdades estruturais”, avalia.
A mais nova deputada do PT projeta como um grande desafio lidar com a correlação de forças na Assembleia. Em 2023, o PT terá 11 parlamentares que, somados com PCdoB e PSOL, formarão uma bancada de 14 nomes, ainda bem distante da maioria de uma Assembleia composta por 55 deputados.
“Somos uma minoria e precisaremos de muito diálogo, mas também uma forte combatividade para defender os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras do nosso Estado, defender o serviço público, defender o patrimônio público, a Corsan e o Banrisul, com a garantia do combate às desigualdades”, projeta.
Representante do Brasil na Frente Parlamentar de Combate à Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Laura planeja levar a pauta do enfrentamento da fome para a Assembleia. “Pretendo atuar, como principal bandeira, a luta contra a fome. No Rio Grande do Sul hoje, 52% da população não consegue fazer todas as refeições. Tenho o tema da segurança alimentar e nutricional como minha prioridade de atuação e levarei essa bandeira para a Assembleia Legislativa.”
A vez de Brasília
Após uma trajetória de quatro mandatos na Câmara de Caxias do Sul, Denise Pessôa (PT), atual presidente do legislativo, é a primeira mulher negra, junto com Daiana Santos (PCdoB), eleita para a Câmara dos Deputados. Um fato que ela considera histórico e que representa a ascensão do povo negro ao poder.
No âmbito feminino, a Câmara passou de 77 a 91 deputadas federais eleitas, representando 17,7% do parlamento.
“Agradeço o apoio de todas as pessoas que confiaram no meu trabalho e ajudaram a construir essa campanha. Agora vamos estar lá no Congresso Nacional, com uma bancada de sete deputados federais pela nossa Frente Brasil da Esperança, sendo destes, três mulheres. Essa renovação no Congresso é muito representativa e agora quero contar com a população para construir esse mandato”, diz Denise.
A mais nova deputada federal enfatiza haver alguns dias pela frente para trabalhar a vitória do candidato Luis Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. Segundo ela, uma missão “para defender a democracia e construir com todos que têm compromisso com essa tarefa”.
Pouco após ter sua eleição para deputada federal confirmada no último domingo (2), Daiana Santos (PCdoB) usou as redes sociais para agradecer os eleitores. Além de destacar a vitória como primeira deputada negra eleita pelo Rio Grande do Sul, ela fez questão de enfatizar também sua orientação sexual.
“Agradeço a cada um dos 88.107 votos que me elegeram a primeira deputada federal negra e sapatão do RS. Chegou a nossa vez! Eles vão ouvir as nossas vozes, a nossa luta e os nossos tambores. Nos encontramos na luta”, convocou.
Eleita vereadora em 2020, Daiana é atualmente vice-presidente do PCdoB em Porto Alegre (a presidente é a colega Bruna Rodrigues). Educadora Social e Sanitarista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é idealizadora e coordenadora do Fundo das Mulheres POA, projeto social que atende mulheres chefes de família em situação de vulnerabilidade.
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Claudemir com P., de piada. Folha de SP. ‘Partidos que mais elegeram deputados federais negros são de direita. 135 deputados se declararam pretos ou pardos. Há contestações, obvio. 25 se elegeram pelo PL. Republicanos 20. União Brasil 17. PT 16. PP com 15. MDB 8. Problema? Diversidade não como objetivo comum, mas como ferramenta politica.