Cleópatra – por Elen Biguelini
História, o filme (e Liz Taylor) e o figurino de uma mulher ícone
Finalizamos hoje com uma mulher que causou furor na história. Cleópatra é um nome conhecido por todos, representado em diversos quadros, peças de teatro e, mais notavelmente, em um filme clássico de 1963 com a belíssima Elizabeth Taylor representando a enigmática e bela faraó de origem grega.
Ao invés de tratarmos da figura histórica, sua “morte suspeita” (teria sido suicídio por veneno de cobra?) ou seu amor tempestuoso, escolhemos focar na representação magnifica de Elizabeth Taylor e uma questão que há muitos anos tem martelado na cabeça desta articulista.
Por que o figurino do filme é, ao mesmo tempo que tão belo e à primeira vista coerente, tão estranhamente errado?
Este questionamento pairou sobre os pensamentos desta autora por vasto tempo, e só foi desvendado quando estudando figurinos ao longo da história.
O figurino de Cleópatra utilizado por Elizabeth Taylor reflete a época em que o filme foi feito e não necessariamente a roupa egípcia ou grega. Como na década de 50 as cinturas femininas eram marcadas, seria inconcebível para os figurinistas Irene Sharaff, Renie Conley, Oliver Messel e Vittorio Nino Novarese.
Ainda que um filme de época, a moda dos finais de anos 50 não aceitaria uma representação fiel das silhuetas egípcias porque estas não evidenciariam o magnifico corpo de sua atriz principal, muito menos demonstrariam o que naquele corpo era visto como sublime.
Cleópatra, como símbolo de beleza, precisava ser retratada como um símbolo de beleza para aqueles que iriam assistir.
Não discutiremos aqui o conceito de beleza ou de feiura, mas comentaremos que, ao longo dos séculos, aquilo que é considerado belo modificou-se. Isto se evidencia de forma marcante na História da Arte, por meio das figurações daquilo que os artistas percebiam como belo.
O cinema, como uma arte, e o figurino, como outra arte ainda mais específica, durante muitos anos seguiram estes padrões.
Atualmente, romances históricos são muito menos anacrónicos, no sentido que não iriam modificar tanto a silhueta a ponto de descaracterizar uma obra – ao menos, não o fariam sem um propósito em específico, como o clássico caso do “AllStar” em “Maria Antonieta” (2006). Mas ainda que atualmente os figurinistas hollywoodianos tentem ser mais fieis à moda da época, cometem equívocos.
Mas voltando a Cleópatra. Nota-se que o filme ganhou o Oscar de Melhor Figurino para filmes em cor. Isto porque, como já foi dito, o importante para a arte cinematográfica era a representação da beleza idílica, sexual, e simplesmente estonteante de Elizabeth Taylor em trajes dourados, com diademas magnificas e com decotes que deixam a mostra seu corpo ideal para a época.
Alguns artigos sobre o figurino do filme.
https://www.anothermag.com/art-photography/2865/top-10-facts-about-cleopatras-costumes
http://costumevault.blogspot.com/2016/02/cleopatra-or-most-undeserved-oscar-win.html
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
Cabe lembrar Kathleen Martínez, uma advogada dominicana com mestrado em arqueologia que há pelo menos 20 anos procura a tumba de Cleopatra. Não achou, mas comprou boas brigas.
Cinema é entretenimento e negócio. As pessoas precisam de uma valvula de escape. Vermelhos acham que tem que ser ‘pedagogico’. No Brasil, tirando as comedias, é o existencialismo barato, a psicanalise de almanaque de farmácia ou a critica social. Tudo feito a facão diga-se de passagem. Elisabeth Taylor não era tão bonita assim. As pessoas não se ligam nos truques de camera, na maquiagem, etc. Padrão de beleza da epoca ate que ponto foi definido pelo cinema?
O que leva também ao conceito de arte. A diferença entre techne e episteme, tecnologia e ciencia. know-how e know-why. Coisas que se perderam pelo caminho.
O que leva Ricciotto Canudo que escreveu um ensaio definindo o cinema como setima arte. Visão do inicio do século XX adotada pelos criticos (caso contrario ficariam sem profissão). Cocteau, se não me engano, disse que só seria arte quando os materiais utilizados fossem tão baratos quanto lapis e papel. Alas, arquitetura virou profissão, escultura, pintura e poesia estão nichados (tem gente que odeia poesia porque socaram muita coisa ruim goela abaixo na escola). E musica é o que a casa tem para oferecer, sem sofisticação nem estudo, e as porcarias que por ai surgem tem que ser consideradas boas devido a origem social dos ‘artistas’.