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O Rei encontrou as únicas estrelas que estão a sua altura! – por Leonardo da Rocha Botega

O cronista volta 32 anos no tempo, e mostra a veneração que cercava Pelé

Dia 31 de outubro de 1990, o mundo parou! Ou pelo menos uma parte dele, a parte futebolística. Era dia de reencontro! Quatorze anos depois, a camisa dez da Seleção Brasileira era devolvida a quem melhor lhe soube usar. Quatorze anos depois a bola era tocada por quem melhor lhe soube tratar. Aquele era um dia de festa! Cinquenta anos do maior atleta do século, cinquenta anos do maior jogador de futebol da História. Cinquenta anos de Pelé!

Nada melhor do que comemorar aquela data da forma como Pelé mais encantou e com a camisa que se tornou sinônimo daquele encanto. A cidade de Milão, na Itália, onde até hoje os torcedores rivais do Milan e da Internazionale se dividem sobre o nome certo do estádio, San Siro ou Giuzeppe Meazza, se uniu para torcer pela Seleção Brasileira contra o combinado do Resto do Mundo. Pouco importa se do outro lado estavam ídolos do dia a dia como Carlo Ancelotti, Hagi, Stoichkov, Marco Van Basten, Roger Milla, Francescoli, João Paulo, Júlio César, Alemão. Nenhum era Pelé! Assim como nenhum foi ou será Pelé!

Em seu primeiro lance, o Rei dominou a bola com um leve toque, como quem acaricia o amor de sua vida, e no segundo toque o lançamento para a corrida do companheiro. Em seu segundo lance, um domínio perfeito com o peito, como quem coloca a amada no coração, e mais um passe com a tranquilidade que o futebol brasileiro tanto precisava naquele momento. Alguns meses antes, a seleção havia sido eliminada em uma Copa do Mundo onde o seu futebol parecia ser qualquer coisa, menos futebol, ou pelo menos o futebol que Pelé nos ensinou.

Minutos depois, o lance do que poderia ter sido. O lateral Leonardo recebe a bola na esquerda, olha para a área e cruza, a bola encontra o jovem atacante do Fluminense, Rinaldo. Ele domina de costas, Pelé está na linha de entrada da área, logo depois da meia lua, sozinho, posicionado aguardando o passe.

Não precisava ter sido um passe igual aquele que ele mesmo deu para o Jairzinho definir aquele jogo dificílimo contra a Inglaterra em 1970. Ou aquela “açucarada” lindíssima para o Carlos Alberto Torres fechar a Ópera em forma de futebol assistida naquele mesmo ano. Bastava uma simples rolada de bola! Mas não! Rinaldo tentou roubar a cena e o gol do cinquentenário não saiu! O Estádio vaiou! Pelé aplaudiu!

Pelé não fez gol! Não fez uma partida estupenda ao longo dos quarenta e dois minutos em que esteve em campo. Mas fez melhor! Permitiu que um menino, então com doze anos, apaixonado por futebol, pudesse ver em campo o ídolo de seu pai, falecido alguns meses antes. Naquele momento, os relatos que cresci ouvindo fizeram sentido. A partir dali passei a nunca mais dar bola para a inútil discussão sobre quem foi o melhor jogador da História. O melhor estava ali, aos cinquenta anos, jogando contra os melhores daquela geração e todos o veneravam. Assim como meu pai o venerou! Segue em paz, Pelé! O Rei encontrou as únicas estrelas que estão a sua altura!         

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

Nota do editor. A foto (sem autoria determinada) de Pelé, que ilustra esta crônica, é uma reprodução obtida no Instagram e publicada também no portal G1, AQUI.

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Um Comentário

  1. As reações são o mais interessante neste assunto. Milton Neves lembrou que uma tia teve que assinar uma nota promissória para ele ir numa excursão ver Pelé jogar. Outro da ESPN foi ‘salvo’ na Copa dos EUA, entrou onde não podia e estava para ter a credencial cassada quando abriu a porta do elevador. Pelé viu a confusão, pegou o jornalista pelo braço e saiu conversando. Fim de assunto. Outro da mesma emissora lembrou que o pai o levou para ver Pelé jogar (depois tu escolhe o teu time). Um ianque que sigo na rede social lembrou Pele do Cosmos e comentou que gosta de ‘soccer’ até hoje por conta disto. Ianque lembrou também (coisa que poucos fazem) da tregua de 48 horas na guerra civil da Nigéria para assistir Pelé jogar. Coisa que o ianque achou incrivel, por dois dias as pessoas pararam de se matar para ver uma partida de futebol por causa de um jogador.

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