Por Gisele Teixeira
Começa por Caçapava do Sul a série de eventos que, na região Centro-Sul do RS, assinala o centenário da chamada Revolução de 23, terceira (e última) guerra civil do ciclo iniciado em 1835 e marca forte no imaginário riograndense. A abertura da programação ocorre no dia 25 de janeiro, com uma mesa redonda sobre Memórias, Narrativas e Imaginário, às 18 horas, na Casa de Cultura Juarez Teixeira (CCJT). Foi nesta data que, em 1923, iniciou o conflito armado que se estendeu até dezembro do mesmo ano e custou mais de mil vidas.
O encontro é uma realização da CCJT e Projeto Doble Chapa, com apoio institucional da Unipampa\Campus Caçapava do Sul e Campus Bagé, Geoparque Caçapava Aspirante Unesco e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo\Prefeitura de Caçapava do Sul. Um segundo evento – em moldes semelhantes – está projetado para a primeira quinzena de março. As atividades de janeiro e março buscam reforçar e construir apoios ao evento principal da programação do centenário, em Bagé em data a ser definida.
Antônio Chimango
Obra máxima da chamada literatura gauchesca e sucesso imediato de público – 36 edições oficiais e outras tantas clandestinas – o livro Antônio Chimango surgiu em 1915, mas tem relação mais que direta com o contexto da Revolução de 1923. A começar pelo Chimango da sátira em versos, o caçapavano Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863 -1961), centro e referência maior da disputa que levou ao conflito armado.
Não por acaso, a obra satírica de “Amaro Juvenal” – pseudônimo usado por Ramiro Barcellos (1851 – 1916) – foi escolhida como eixo e fio condutor desta primeira mesa da programação. O convidado especial para desenvolver o tema é o escritor, pesquisador e tradutor José Francisco Botelho, autor de vários trabalhos sobre a obra e seu contexto. Entre eles – e com destaque – um largo ensaio (“Antônio Chimango, um clássico da campanha”) publicado na edição que comemorou o centenário do aparecimento da narrativa literária mais popular da história do RS.
Caçapava e região
Pelos personagens e locais que serviram de referência e inspiração a Ramiro “Amaro Juvenal” Barcellos, Antônio Chimango tem forte relação com Caçapava e municípios limítrofes – em especial com São Sepé e Cachoeira do Sul. Por ser a terra do alvo da sátira, o Borges\Chimango, Caçapava está presente desde o verso de abertura da narrativa (“ Nos cerros de Caçapava\Foi que viu a luz do dia…”).
Outra referência forte é a estância de Antão Faria – amigo de Ramiro – em terras que pertenciam a São Sepé. De lá teriam vindo muitos dos modelos que inspiraram o autor. Inclusive o do Tio Lautério, o personagem que narra a história do Chimango. Segundo aponta a edição do centenário da obra, Tio Lautério foi inspirado diretamente na figura do tropeiro ( ex-escravo) Eleutério ( 1851 -1942), com quem Ramiro Barcellos costumava manter largas conversas.
Guerra de movimentos
A terceira guerra civil do ciclo que inclui Revolução Farroupilha (1835 a 1845) e Federalista (1893-1895) iniciou , não por acaso, no dia 25 de janeiro de 1923 , data da posse de Borges de Medeiros no quinto mandato no governo do estado. A eleição e contagem de votos dobraram os índices – praxe e regra naquele contexto histórico – de fraudes e, por isto, ninguém foi apanhado de surpresa com o começo das ações armadas, iniciativa dos inconformados apoiadores do candidato Joaquim Francisco Assis Brasil.
A guerra que veio se estendeu por dez meses e deixou um saldo de mais de mil mortes em 21 combates. Na definição dos autores que tratam do tema foi uma guerra de movimentos, com poucos enfrentamentos diretos de maior expressão. Os combates de Ibirapuitã (Alegrete) e do Santa Maria Chico e de Ponche Verde (Dom Pedrito) são os mais lembrados , pelo porte e pela simbologia das perdas. No segundo morreu o “doble chapa” Coronel Adão Latorre, legendária (para o bem e\ou para mal) figura dos maragatos. Em todos esteve presente do lado Borgista (Chimangos) o caudilho uruguaio Nepomuceno Saraiva e sua coluna de mais de 300 “orientales”. De acordo com o lado que assinava a narrativa, estes combatentes uruguaios eram apontados como “mercenários” ou “voluntários”
Na região em que está inserida Caçapava (Centro-Sul), o combate mais expressivo foi o do Passo da Juliana, em terras de São Sepé, na primeira semana de setembro. O livro de César Pires Machado, Revolução de 1923\Combate do Passo da Juliana traz um mais que detalhado relato do episódio, com composição das unidades em confronto (comandadas e formadas basicamente por moradores de Caçapava – incluía Santana da Boa Vista, na época – e São Sepé, além de movimentos, ações de combate e consequências imediatas.
Agenda
O quê: Mesa sobre o centenário da Revolução de 1923, imaginário, contexto e narrativas.
Convidados: José Francisco Botelho, Euclides Torres, João Batista Henriques e João Timotheo E. Machado.
Coordenação da Mesa: João Alberto D. Santos
Quando: Dia 25 de janeiro, 18 horas
Onde: Casa de Cultura Juarez Teixeira – General Osório 730, Caçapava do Sul
Entrada franca. Evento aberto ao público em geral
Contato
Casa de Cultura: (55) 996-9610582 ou [email protected]
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