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A vitória do Centrão – por Giuseppe Riesgo

“A estrutura se protege. O mecanismo se ajusta. E o povo é feito de palhaço”

Ao final do ano passado escrevi neste espaço sobre a eficiência do estamento burocrático em perpetuar o patrimonialismo tipicamente brasileiro. Não é exagerado dizer que a maior representação do estamento é o conhecido “centrão” do Congresso Nacional. Pois bem, hoje, 01 de fevereiro de 2023, visualizamos mais uma vitória do estamento, apoiada inclusive por aqueles que se diziam combatentes dele.

Rodrigo Pacheco, apoiado por Lula e Alexandre de Moraes, conivente com a volta de condenados ao poder, promotor do retrocesso e defensor dos abusos do judiciário, foi reeleito presidente do Senado. Em votação secreta, 49 senadores reconduziram ao único posto que poderia frear os desmandos do STF um senador claramente contrário a isso.

O centrão, como era de se esperar, comemorou. Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Davi Alcolumbre e outros estarão bem representados na mesa diretora do Senado. E o possível impeachment de Alexandre de Moraes ou de qualquer outro ministro do STF que esteja exorbitando de seus poderes, engavetado enquanto durar a presidência de Pacheco.

Do outro lado do corredor, na Câmara dos Deputados, algo até outubro, impensável: um grande acordo partidário unindo – pasmem – PT, PL e 18 outros partidos em torno da candidatura de Arthur Lira. Partidos que somam 496 deputados concederam 464 votos para que Lira seja reconduzido como presidente da Câmara. Lira, este, apoiado também por Lula e por figuras bem conhecidas do Ministério Público e da Justiça Federal. Eleito, em votação também secreta, por deputados que até ontem bradavam contra a volta do PT, contra o centrão e contra o populismo.

Percebendo o risco de que o Congresso seja, mais uma vez, apenas uma casa “carimbadora” dos atos do Poder Executivo, o único deputado que teve a coragem de enfrentar o mecanismo, o centrão e o governo federal foi Marcel van Hattem. Lançou sua candidatura independente para apresentar uma alternativa à candidatura de esquerda (Chico Alencar, PSOL-RJ) e à candidatura do centrão apoiado por Lula (Arthur Lira, PP-AL). Recebeu apenas 19 votos. Deputados ditos de direita e contrários a Lula certamente somam números maiores do que esse (só do PL são 99 deputados). É a vitória do centrão e demonstração de que, na política, há muito teatro, discurso e aparências. Na hora do voto (ainda mais se for secreto) as coisas mudam.

Eu vivi muito isso na Assembleia Legislativa. E agora viverei aqui no Congresso em Brasília. A estrutura se protege. O mecanismo se ajusta. E o povo é feito de palhaço, pagando toda essa conta sem nem mesmo saber em quem seu representante votou.

(*) Giuseppe Riesgo é ex-deputado estadual pelo partido Novo. Atualmente ocupa a Chefia de Gabinete do Deputado Federal Marcel van Hattem. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

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5 Comentários

  1. Como tudo na vida, meio copo cheio e meio vazio. Ir para BSB significa aprender como a ‘ilha’ funciona. Perigo é achar que aquela bolha representa o pais ou tem qualquer ligação com a realidade.

  2. Outra campanha orquestrada pelos vermelhos, erraram (2021 se não me engano) o fluxo de capitais. Narrativa: ‘economia não esta tão bem assim’. Banco Central ficou independente e comprou ouro. Todos os paises estavam comprando ouro. Narrativa/teoria da conspiração: ‘ouro é do garimpo ilegal que massacra os yanomamis’. Alas, existem indigenas que praticam o garimpo também, mas isto fica para debaixo do tapete porque atrapalha a ‘narrativa’. Alas, garimpeiros se movimentam por toda a região, muitos não tem certidao de nascimento e nem nacionalidade definida. Alas, aviões conseguem voar abaixo do limite inferior de detecção de radares. Ou as pistas podem ficar fora dos limites da reserva (transporta-se no lombo de gente até lá). Mas isto não importa, o que importa é que os ongueiros vão ganhar muito dinheiro no ar condicionado, só tendo que ficar com os pes em cima da mesa e confirmar as ‘narrativas’ do governo.

  3. Crime de responsabilidade de ministro do supremo (com ‘s’ minusculo, para não chamar de Inferior Tribunal Federal) é algo cinzento. Suspeição no caso do referido tribunal quando o mesmo é ‘vitima’ é complicado. Decoro idem. Verdade é que a esquerda mancomunada com o establishment alardeia a narrativa da ‘defesa da democracia’. Não colou para todos, mas não importa, é questão de gestão de imagem. Basta fazer parecer (com o discurso) que a ‘democracia esta em risco’. Vide eleição para a mesa do Senado. Um senador (que é da turma dos CAC’s) pulou a cerca e votou no tal Pacheco (que se acha muito esperto). Saiu atirando, Cavalão o teria ‘coagido’ a dar um golpe. Pergunta é: porque um golpe necessitaria de um senador? Investigue-se. Sim, porque o Cavalão não é candidato a mais nada, podem gastar munição (no sentido politico) nele a vontade. Nem para cortina de fumaça serve mais, quem presta atenção é trouxa.

  4. Centrão tem muito a ver com grotões atrasados do pais. Tem a ver com a força politica desproporcional do Norte e Nordeste. Como o problema anterior, não há solução a vista.

  5. Decadencia é o que se espera de um pais quando a classe dirigente se corrompe. Cinismo politico já esta instalado, noções de ‘republica’, ‘pais’ e ‘nação’ se perderam. É ‘eles lá’ e ‘nós aqui’. Sendo que o ‘nós’ pode ser o pessoal desorganizado da rua (que paga as contas e se ferra) ou os diversos grupos de pressão ‘(OAB, a guilda dos causidicos, os grupos de pressão dos servidores publicos, o agronegocio, os industriais, os caminhoneiros, etc). Desagregação que é estimulada de cima para baixo.

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