Homens perdem sua essência ao lavar a louça? – por Elen Biguelini
Após várias semanas discutindo sobre a importância do patrimônio público, voltamos a levantar uma questão que, embora em pleno século XXI, ainda volta a tona de vez em quando: os papéis supostamente fixos de feminilidade e masculinidade.
Durante esta semana este foi um dos grandes assuntos da internet brasileira. Em pleno mês da mulher, uma jovem demonstrou todo seu desconhecimento ao afirmar que lavar louça retiraria a essência masculina de um homem.
Para além de rir da ridiculariedade desta afirmação, é importante raciocinar sobre o que ela pensa estar dizendo, e porque este tipo de linguagem continua a perseguir homens e mulheres até hoje.
Para esta jovem, que claramente não considerou que homens que moram sozinhos lavam a louça, ou que homens gays lavam suas louças, ou que funcionários de restaurante lavam louça, etc, o ato físico de fazer uma atividade corriqueira no lar iria contra o que se espera de um “Homem”.
Poderíamos aqui discorrer sobre bell hooks (em minúscula, como ela própria assina), masculinidade hegemônica e outras questões teóricas importantes sobre os papeis masculinos na sociedade e aquilo que é esperado dos “Homens”, mas optamos por uma discussão mais prática.
O que verdadeiramente destruiria a masculinidade de alguém lavar louças? O que no ato de passar a esponja sobre um prato e depois enxaguá-lo iria diminuir a virilidade de um ser um humano? Seria o ato de esfregar um objeto repetidamente possível de causar alguma disfunção erétil, ou alguma doença?
Não. Não há nada no ato em si que possa justificar este pensamento absurdo.
Deve ser, então, uma questão social. É irônico que uma posição baseada unicamente em padrões sociais ignore tão explicitamente a sociabilidade. Uma opinião baseada mais no “querer achar alguma coisa” do que verdadeiramente em fatos. Como pode ser socialmente inaceitável que um homem lave a louça, quando é literalmente relacionado a uma profissão que é, por vezes, vista como masculina, a de Chef. Para que um homem (ou uma mulher) se torne um Chef, ele precisa lavar muitas louças pelo caminho, visto que é este o caminho de entrada em muitas cozinhas.
Esta opinião se baseia única e exclusivamente em um desejo de “manter a mulher na cozinha”. Quem pensa que homens não podem lavar a louça, pensa que eles também não podem cozinhar, limpar a casa, lavar a própria roupa ou cuidar das crianças.
É o pensamento machista de que as mulheres devem fazer tudo em casa (e que se for perguntado ao marido o quê sua esposa faz com seu tempo, ele provavelmente responderia nada, pois o trabalho doméstico não é valorizado).
Felizmente, no entanto, atualmente essas opiniões retrógradas e desinformadas têm sido abandonadas. Cada vez mais homens fazem muito mais do que lavar a louça. Eles verdadeiramente dividem tarefas. Alguns, ainda “ajudam”, ou seja, fazem apenas um pouco. Mas outros já realmente percebem que cabe a eles metade das tarefas.
Que a fala infeliz desta jovem seja logo esquecida, e que a resposta de espanto recebida pela sociedade faça com que ela aprenda com este erro. Homem nenhum será menos homem porque lava a louça em casa, assim como mulher alguma será menos mulher porque dirige, trabalha, ou qualquer outra coisa que por muitos séculos foram proibidas por serem atividades masculinas.
*Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
Resumo da ópera não precisa de doutorado para fazer: a louça tem que ser limpa.
Ao que se chega no ‘[…] é importante raciocinar […]’. Para começo de conversa meu conceito de ‘raciocinar’ é diferente. Segundo, se um vermelho (eles usam muito o truquezinho ‘retorico’ para pautar debates, como se a obrigação da humanidade fosse debater a ideologia deles) fala ‘é importante’, pergunta-se para quem? Também o ‘devemos’, ‘é imperativo’, ‘temos que’. Quando estas expressões aparecem é imperativo virar as costas e ir embora ou trocar de canal. Simples assim.
Noutro dia li um artigo (não tupiniquim) sobre o desenho dos Simpsons. Autora reclamava que dos personagens da série de cada quatro somente um era feminino. As mulheres estariam subrepresentadas. Alas, a animação tinha (só aparece como figuração agora) um personagem, Apu, que era um indiano estereotipado. Dublador, depois de 28 temporadas, achou que não era certo e resolver abandonar o barco. A ‘controversia’ gerou um documentario e muito papel escrito. Com retribuição monetaria para todos os envolvidos. Obvio que tudo isto desagradou boa parcela dos migrantes indianos nos EUA, teriam ‘perdido representação’ e os esterotipos ‘levavam a brincadeiras e iterações com outras pessoas na maior parte das vezes positiva’. Total zero, o dublador voltou para o anonimato (se escrever obscuridade vai aparecer uma mala enchendo o saco).
Kuakuakuakuakua! É o FEBEAPA que assola o pais. Uma jovem (não existe espaço para desenho nos comentarios) fez uma declaração polêmica em alguma plataforma, viralizou em determinadas bolhas e resultou em muitos reais na conta da mesma. Obvio. Simples assim. Não precisa tese academia sobre o assunto. Alas, é por isto que o Brasil não vai desenvolver nunca. Alguem vai gastar recursos publicos ‘estudando’ este tipo de coisa. Alas, um dono de construtora falou umas bobagens noutro dia. Foi levemente cancelado (porque quem tem, tem medo). Quem se importa com a opinião do sujeito pode ter se ofendido (sai da frente do sol Xandão!). Vida que segue.