Masculinidade tóxica e importunação sexual – por Elen Biguelini
Quando as feministas dizem que o machismo e o patriarcado não fazem mal apenas as mulheres, eles se referem, entre outras coisas a masculinidade tóxica. Já foi discutido nesta coluna a questão da masculinidade normativa, termo cunhado por bell hooks (autora da qual também já discorremos anteriormente), mas o tema da masculinidade tóxica foi apenas mencionado.
O que esta masculinidade e por que é tóxica?
Basicamente é a exacerbação de tudo que denominaria um “macho”: a violência, a superproteção, o desejo de se impor, etc. É tudo de negativo na masculinidade, mas que é vendido para os meninos como “ser homem”: não poder chorar, lavar a louça (tema de nosso texto anterior) ou cuidar de um bebê, por exemplo.
Mas nada disso é verdade, e a noção equivocada de que os homens só podem ter sentimentos sexuais e não emocionais é o que leva muitos a não compreenderem que o corpo feminino não é sua propriedade. É o que leva homens a crer que mulheres que aceitam caronas com eles ao final da aula tem interesse físico na sua pessoa, quando desejam simplesmente chegar em casa sem sofrer uma violência. É o que leva homens a crer que falar abertamente de suas conquistas é bom, mas que se ouvir uma menina fazendo o mesmo, ela é “vadia”.
Logo, masculinidade tóxica e machismo exacerbado andam de mãos dadas com a importunação sexual. Aquele que não compreende que a fala “forte” e superprotetora é na verdade violenta é um ser humano que seguiu padrões de masculinidade negativos. É o mesmo que leva a um marido pensar que a violência que ele perpetua em sua mulher frequentemente é culpa dela. Como “macho” ele pensa ter poder físico maior que ela e que ela deve lhe obedecer. Se ela repetir o erro, por vezes a mata, pois sua vida só importa enquanto subserviente.
São os mesmos homens que pensam que uma jovem vestida para o carnaval está pronta para ir para a cama com eles e, logo, merecem ter seu corpo apalpado indevidamente: ou que uma jovem que bebeu não tem direito de escolher ou não se irá ter uma relação sexual.
Claramente, nenhuma destas opiniões é correta. E felizmente a sociedade caminha mais e mais para compreender isto. Mas as imagens negativas de masculinidades super exacerbadas continuam a ser difundidas pela mídia, filmes e tv. Todo dia vemos um homem que se diz superior a todos, reafirmando-se como macho, mas que logo depois é descoberto como tendo sido o causador de um abuso sexual.
Temos ainda muito que andar para defender as mulheres, mas precisamos também defender os homens, visto que assim como as mulheres sofrem com esta necessidade de se demonstrar como superior físico, meninos com alguma característica supostamente feminina são espancados na rua, homens trans desaparecem, etc.
As feministas usam uma frase que faz muito sentido também neste contexto: “Não ensine suas filhas a não serem abusadas, ensinem seus filhos a não abusarem”. Se ensinarmos nossos filhos que ser homem não significa ser violento, sem emoção (que não a raiva) e capaz de expressar o que sente verdadeiramente, estaremos proporcionando um mundo mais seguro para nossas filhas e TAMBÉM para nossos filhos.
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
ATENÇÃO
1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.
2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.
3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.
4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.
5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.
OBSERVAÇÃO FINAL:
A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.