A luz acabou, e o ventilador parece rir da minha abundante transpiração – por João Luiz Vargas
“Já são dezenove horas e tu recém chegando... e me chamando de querida”
Mas que dia!
São somente onze horas e sinto-me como se fossem dezenove horas de uma caminhada sem interrupção. Mas são somente onze horas.
Vamos ver o que este grande amigo traz de novidades ou de alento ao meu dia:
– O que? Levantaste agora? Já são onze horas!
Que vida! Tomara que na outra eu tenha tua sorte…
Vejam, esta é a colaboração de um grande amigo que deseja meu sucesso e minha felicidade. Que poderei esperar dos que não são meus amigos?
Passam as horas, e os problemas que me apresentam são, para mim, insignificantes. Mas hoje não estou conseguindo equacioná-los; pelo contrário, estou agravando-os.
Agora, para completar, recebo a comunicação que o funcionário do banco está a minha procura. Evidente que não é para dar-me algo, e sim solicitar minha presença monetária para saldar um débito já velho e grande.
A luz acabou. O ventilador, que tornava o ambiente mais agradável está em minha frente com suas pás paradas. Parece rir de minha abundante transpiração.
Como não fui almoçar, estou agora com fome. Peço um copo de leite e torradas. O queijo é ruim e, no fundo do copo, constato uma mosca morta por afogamento.
– Querida, cheguei!
– Já são dezenove horas e tu recém chegando… e me chamando de querida! Pensas que são onze horas?
Pois não é. Pega o pequeno e leva até minha mãe, que hoje está de aniversário.
(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve habitualmente no site às sextas-feiras – e acima, excepcionalmente nesta segunda .
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