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O quintal – por Orlando Fonseca

Groenlândia, Canadá e Canal do Panamá, agora é a vez de a América Latina toda estar na mira dos projetos megalomaníacos do atual presidente dos EUA. O seu Secretário de Defesa, Pete Hegseth, não fez rodeios em uma declaração, recuperando aquele velho jargão imperialista da política externa norte-americana, ao dizer que Trump está “pegando seu quintal de volta”. E o que ele considera quintal está abaixo e além daquele famigerado muro que vem construindo desde o seu primeiro mandato, na fronteira com o México. A expressão denota uma abjeta concepção de dominação histórica, que parecia vencida, com os anos de globalização e convivência diplomática pacífica. Nos velhos tempos, os países da região eram reduzidos a meros instrumentos de interesses estratégicos e econômicos de Washington. Pois é, com certeza, o megalômano republicano não pretende reativar a cooperação, querendo o “seu” quintal de volta; trata-se, em verdade, de seu idiossincrático e extemporâneo sonho americano, desenhado na sigla MAGA.

Ao reduzir a pó a antiga agência de cooperação, USAID, Trump deu mostras inequívocas de que este não é o objetivo de seu governo. De modo que, voltar a ser quintal dos gringos, não traz nada de positivo de lambuja. Basta que a gente lembre tudo o que veio junto com as alianças para o progresso de décadas pretéritas. A frase do Secretário de Defesa evidencia a total falta de respeito à autodeterminação dos povos latino-americanos. É a reativação da lógica intervencionista, que já foi sustentada pela Doutrina Monroe e por operações políticas, militares e econômicas que violaram a soberania de países do continente. Nós, latinos, não temos nada a comemorar neste propósito, aliás, latinos é o que menos ele quer por perto, enquanto leva adiante o seu projeto: Make America Great Again (MAGA). Talvez Trump queira o quintal de volta pra ter onde confinar os imigrantes ilegais de seu feudo, em uma espécie de senzala continental.

Sim, foi nesta eira do Caribe para baixo que muitos latinos deram sangue e suor, plantando, colhendo e criando produtos consumidos pelos americanos. Foram séculos de dominação na produção de frutas, rumba, reggae, samba, tequila e rum. Nesta nova cobiça internacional das grandes potências, estão as chamadas “terras raras”, territórios com abundância de minérios, tais como cobre, lítio, nióbio e outros, importantes e fundamentais para a indústria das novas tecnologias. Recentemente, Trump passou pelo fracasso na tentativa de solução de paz, negociando terras com apoio à Ucrânia. Agora se volta especialmente ao Brasil, um dos mais ricos no item cobiçado, e à Bolívia. Olhos muito abertos para os sinais de afago ou truculência desta diplomacia trumpista.

Por isso a importância da participação (e liderança) do presidente Lula na Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos); da mesma forma que a busca pelo multilateralismo, tonificando o sul-global. Basta ver que, na declaração citada, percebe-se a temeridade desta nova orientação: a justificativa dada pelo Secretário americano é o combate à influência de potências rivais, neste caso a China, que ampliou sua presença na região por meio de investimentos em infraestrutura, comércio e cooperação tecnológica. “Estamos trabalhando para investir de uma forma que atenda aos interesses americanos em nosso quintal, ao mesmo tempo em que interrompemos a influência chinesa”, afirmou Hegseth. Para nós, latinos, importa a resistência, neste momento complicado da História, não se iludindo com acenos ou ameaças. A solução está no fortalecimento de laços econômicos, culturais e especialmente em defesa da democracia (ou do que restar dela depois do vendaval Trumpista) e da humanidade (se ninguém inventar de dar um para-te-quieto atômico). A grandeza da Nossa América está muito além de servir a uma Casa Grande, seja Branca ou não.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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14 Comentários

  1. Resumo da opera. Não é de se esperar muito de um comuna azedo velho. Depois de uma certa idade a pessoa já não tem condições de mudar e se adaptar. Velho truquezinho do ‘inimigo externo’.

  2. Alas, na Europa basta ser contra a agenda ‘woke’, ser nacionalista (contra o projeto de unificação europeia) e ser contra a migração ilegal em massa para ser taxado de ‘extrema-direita’. Que responde chamando os outros de ‘globalistas’.

  3. Zapeando passei pela CNN. Entrevista com uma nulidade chamada Rui Falcão. Falou ‘nos satélites do Elon Musk sobre a Amazonia’. Depois falou da saudação ‘n@zist@’ e depois da ‘pregação n@zist@’ que fez na Europa. A entrevistadora falou ‘mas ele negou’. Contradição de praxe: ‘mas se ele assumisse seria um fato novo’. Ele fez ‘pregação’ mas não assumiu?

  4. ‘[…] em defesa da democracia […] e da humanidade […]’. Democracia surgiu há uns 2500 anos. Humanidade há uns 150 mil. Agora dependem dos vermelhos para sobreviver. Que não têm 150 anos. Kuakuakuakuakua!

  5. ‘Para nós, latinos, importa a resistência, […]’. Kuakuakuakuakuakua! Sim, vamos todos nos reunir ao redor dos vermelhos e do Rato Rouco! Kuakuakuakuakua!

  6. ‘Agora se volta especialmente ao Brasil, um dos mais ricos no item cobiçado, e à Bolívia.’ Isto é cascata para engambelar ignorantes. Bolivia não esta na lista. Brasil tem produção ridicula. Tem estimativa grande de ocorrencia, inclusive num tipo de argila.

  7. Terras raras são o lantanio, o neodimio, o escandio e demais. Niobio e litio não tem a ver com a coisa. Alas, ouvindo um geologo descobre-se que as terras raras não tem depositos. Têm que ser retiradas do refugo da mineração de alguns veios de ferro e cobre. O processo mais avançado é tecnologia chinesa.

  8. ‘[…] pra ter onde confinar os imigrantes ilegais de seu feudo, em uma espécie de senzala continental.’ Ou seja, os imigrantes ilegais tem que se conformar a serem enviados aos paises de origem que seriam ‘senzala’. Paises de origem que foram abandonados devido as ‘explendidas’ condições de vida que só foram atingidas devido a ‘pujança’ dos latino-americanos? Alas, muitos ilegais por lá são da Venezuela. Onde foi decretada ‘emergencia economica’ noutro dia.

  9. ‘[…] falta de respeito à autodeterminação dos povos latino-americanos.’ Pelo que se viu até agora limitou-se a America Central. Ou seja, America do Sul nem para quintal serve. Alas, ninguém falou em invadir a Amazonia.

  10. ‘Ao reduzir a pó a antiga agência de cooperação, USAID,[…]’. Um antro de roubalheira, mas também de caixa 2 dos democratas e de alguns republicanos. Fonte de um ‘slush fund’.

  11. Orquestrações dos vermelhos são risiveis. Conta do supermercado está alta? Gasolina na casa do chapéu? ‘Vamos sentar a pua no Agente Laranja e seu governo!’. Cortina de fumaça. Problema é que a grande massa tupiniquim não liga muito para politica externa. Isto fica para os bagrinhos estratégicos da classe média alta.

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