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As mulheres oitocentistas brasileiras e a literatura – por Elen Biguelini

A vida das mulheres oitocentistas brasileiras se restringia a seguir papéis de feminilidade definidos por uma sociedade colonialista e patriarcal que não permitia a elas estudo além daqueles considerados extremamente femininos. A escrita era uma atividade não necessariamente vetada as mulheres, mas não incentivada, assim como a leitura. Ambas, poderiam leva-las ao “desvio moral”.

Infelizmente a sociedade contemporânea ainda repete muitos destes estigmas que vetam as mulheres o acesso ao conhecimento. Ainda que hoje seja muito mais frequente a presença de autoras no cânone literário (assim como a obra clássica de Jane Austen, a obra de J.K. Rowling, por exemplo, ou de brasileiras como Clarisse Lispector, etc.), ainda encontram uma dificuldade na aceitação de suas obras (quando não romances, por exemplo) ou de seu nome. Mary Shelley, a grande autora de “Frankenstein” teve sua autoria debatida deste grande clássico por ser mulher, e mais recentemente J.K. Rowling escondeu o prenome Joanne para ser melhor aceita.

Muito mudou no cotidiano feminino entre o século XIX e o século XXI, mas as tarefas domésticas e a suposta “predileção” pelo lar e pela maternidade, ainda acompanham a vida feminina contemporânea. Grupos mais radicais e conservadores ainda perpetuam a ideia de que o lugar da mulher é o lar, ainda que a História tenha comprovado que ela nunca verdadeiramente tenha se limitado a ele.

Infelizmente, ainda muitas das questões colocadas por Nísia Floresta Brasileira Augusta e Mary Wollstonecraft ainda surgem na vida contemporânea. As mulheres ainda vivem à mercê dos desejos masculinos, ainda que agora a educação não seja mais um método de mantê-la alienada de si própria. O movimento feminista em muito modificou a forma como as mulheres são aceitas pela sociedade, mas muito ainda precisa ser mudado. Já a história das mulheres tem tentado dar luz a vida de senhoras que ao longo dos anos participaram de forma mais ativa na História. Ou seja, passou a observá-las como parte ativa da história, e não apenas decorativa anexada aos homens. A história da literatura e a crítica literária feminista tem feito o mesmo com as mulheres que escreveram ao longo da História.

Mas ainda há muito a ser descoberto, muito a ser desvendado e muitos preconceitos e estigmas a serem derrubados.

Pretendemos, durante as próximas semanas, apresentar algumas autoras brasileiras, sua obra e a importância delas para a História das Mulheres no Brasil. Focaremos na literatura de autoria feminina brasileira e portuguesa. Algumas autoras sobre as quais trataremos já foram mencionadas nesta coluna, outras não. Todas têm seu valor na História, ainda que sua obra não seja valorizada pelo cânone literário.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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