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O regresso de um governo que não se omite – Por Valdeci Oliveira

Como diria alguém, de tédio a gente não morre. Mesmo com as adversidades criadas por setores da sociedade desde o fim das eleições presidenciais, com o resultado das urnas mostrando que o povo brasileiro desejava mudanças na economia e no respeito à vida, hoje respiramos outros ares. E isso constatei tanto nas intenções quanto na prática nos dias em que estive em Brasília, na semana passada, e que incluiu visitas e reuniões com representantes de diferentes escalões do governo federal. Pelos corredores dos ministérios e secretarias, o trânsito das pessoas, para além das suas convicções partidárias, voltou a ser constituído e visto como inerente das relações político-institucionais. Nessa ida à Capital Federal, a primeira sob a gestão do presidente Lula, também vi o tamanho da rachadura que precisa ser consertada na parede chamada Brasil – que em muitos pontos carece de ser refeita.

Mas o fato é que a simples disposição em fazê-lo já nos indica um horizonte de possibilidades. Mesmo não tendo ainda a total dimensão do desmonte feito nos últimos anos, os sinais vão aparecendo conforme vão se abrindo as gavetas, ouvindo servidores, analisando números e checando contas. A disposição em encará-lo nos revitaliza, pois nos oferece a chance concreta de voltarmos ao caminho do qual não deveríamos ter desviado. Um caminho onde, para ficar apenas no trato com servidores, estes não eram chamados ou repreendidos aos gritos, como nos foi relatado por trabalhadores e trabalhadores de uma importante empresa pública, onde estivemos discutindo pautas relacionadas ao combate à fome. Da mesma forma, cenas similares foram reproduzidas em outras pastas e setores da estrutura federal e, pasmem, no “período do ódio e da violência política”, houve até casos de servidores que acabaram sofrendo assédio moral pelo simples fato de terem se vacinado contra a covid-19 e de, na sequência, terem postado o ato de proteção à saúde nas redes sociais. Triste, mas real!

Felizmente, viramos a chave e, a rigor, o que temos agora é um governo real, “de carne e osso”, plural, que busca entender e atender, dentro do possível, as múltiplas demandas. Acerta sempre? Por óbvio que não, mas não se furta em criar as condições, chamar para o diálogo, apresentar propostas e oferecer ações em resposta a questões tão sérias quanto imediatas.

Não faltam episódios – nessa etapa bastante inicial da gestão – que atestam o protagonismo do presidente Lula e da sua equipe diante do caos a que vinha submetido o país e sua gente. Nesse rol, incluo, principalmente, o atendimento de urgência à população yanomami – relegada à indigência e à morte pelo envenenamento (provocado pelo garimpo ilegal) das suas fontes de água e de alimentação -, o reforço das ações de saúde pública e a proteção vigorosa à democracia nacional, como se viu no inaceitável episódio do 8 de janeiro. O mesmo esforço é e foi dedicado à manutenção e ampliação de auxílio a quem precisa comer e não tem, ao atendimento e apoio às regiões afetadas pelo excesso de chuva como pela falta dela (como é o nosso caso), a ações de segurança e combate à violência nas escolas, ao combate aos discursos de ódio, a alternativas legais que não privem a população dos investimentos governamentais.

Na prática saem as motociatas, os passeios de jet ski, a criminalização e negação da política e os ataques a jornalistas e minorias e entram a obrigação e a responsabilidade. E na correlação de forças ora apresentada, num Congresso ainda mais conservador do que o anterior, busca compor, construir consensos, chamar o maior número de sujeitos sociais para a mesa de negociação. E isso está e continuará sendo feito.

E a prova de fogo do momento talvez seja a Comissão Parlamentar de Inquérito dos atos golpistas a ser instalada na Câmara Federal. Apesar de importante para deixar ainda mais claro que os crimes perpetrados contra o Estado Democrático de Direito têm CPFs e CNPJs, o desafio maior será em não contaminar a pauta de propostas a questões estruturais apresentada, um raro momento de se fazer justiça a imensa maioria do povo brasileiro. E esse debate será enfrentado como estão sendo todos os outros.

Aliás, é bom deixar registrado, as digitais impressas nas diversas tentativas de supressão da democracia já estão aparecendo na Comissão criada no legislativo do Distrito Federal.

A questão é que os problemas macros, que são os verdadeiros responsáveis por colocar em patamares inferiores grande parcela da população brasileira, continuarão existindo e precisam ser debelados. E nesse jogo, a extrema-direita se apresenta em campo com o objetivo único de aniquilar a qualquer custo – e justifica, inclusive, a violência como método – toda ideia ou proposta progressista e de avanço social. E o mesmo vale para quem as propõem ou defendem. Jogada às cordas, essa versão chucra e animalesca da clássica direita liberal ainda aposta em cenários belicosos para impedir qualquer avanço de reconstrução e recuperação nacionais.

Mas como escrevi no início, respiramos outros ares. Há diálogo, disposição, responsabilidade e propostas sérias. E com isso, chances reais de voltarmos a ser um país normal. Goste-se ou não das ações do governo até aqui, há um fato evidente e cristalino no país: há governo e há governo que trabalha muito e não se omite.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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