Nos últimos anos, nossa cidade aprendeu a celebrar um dos seus sítios históricos por conta de um evento que vem crescendo: o Brique da Vila Belga. Neste 13 de abril, a Vila Belga, espaço que dá nome ao evento, completa 116 anos, elevando consigo um dos fundamentos do progresso de Santa Maria: o passado ferroviário.
Têm sido momentos festivos os domingos em que há Brique, com suas bancas e performances musicais, teatrais e de toda ordem. Acima de tudo, a cidade e seus moradores se reunindo em tempos de alegria e paz. Com isso, cresce minha expectativa de que a gente – os santa-marienses, nascidos ou vividos aqui – tenha aprendido a cultuar os monumentos de nossa memória, os símbolos de nossa história.
No início do século passado, as instalações da ferrovia, da Gare e das oficinas de trens criaram aqui um dos maiores entroncamentos da malha ferroviária no Estado. O movimento dos trens, de carga ou de passageiros, a vinda de funcionários e engenheiros, permitiu que a cidade tivesse o primeiro influxo econômico, social e cultural de sua história.
A Vila Belga, cuja pedra fundamental foi lançada em 1903, é testemunha desse momento, no qual a Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea, a maior da América Latina, ocupa o centro da mobilização econômica e financeira, dando impulso a inúmeros outros empreendimentos em Santa Maria, como a Casa de Saúde, e as escolas Hugo Taylor e Santa Terezinha – hoje o conhecido Maneco.
Em boa hora, o movimento entre Poder Público e sociedade civil organizada estão dando formato e sustentação a uma ideia que emula aquele momento no passado. O Distrito Criativo é um dos grandes movimentos dos últimos anos em Santa Maria, desde meados do século passado em que o influxo econômico foi impulsionado pela instalação da primeira universidade no interior do país (ao mesmo tempo que se percebia a decadência do transporte ferroviário).
E a Vila Belga e o seu Brique têm muito a ver com isso. Já são quase quarenta empreendimentos da economia criativa (e o número só vem crescendo) o que dá vida pulsante no lugar. E nada melhor do que gente circulando, produtos culturais em oferta para dar vida a um local tão importante para a cidade.
Com isso, cria-se a necessidade de que o espaço das ruas esteja limpo e bem iluminado, as fachadas peculiares bem cuidadas, coloridas e, como dizem os jovens e influenciadores, “instagramáveis”.
Com isso também se pode vislumbrar a reforma da Gare da Viação Férrea e sua revitalização. Um espaço importante e emblemático, como marco do desenvolvimento da cidade, não pode permanecer degradando ao longo do tempo. Como se trata de um imóvel cedido pela União ao Município, há contingências consignadas pelo Termo de Cessão, por isso não são poucos obstáculos burocráticos a serem vencidos, mas é preciso dar agilidade ao início da ocupação cultural daquele sítio histórico.
Da mesma forma, o prédio da Associação dos Empregados da Viação Férrea, contemplado com projeto do Iconicidades, precisa com urgência tomar o mesmo rumo que vem sendo empreendido por prédios e casas no entorno da Vila Belga, que se renova e renova a esperança de vermos nossa cidade pulsando.
O futuro depende do cuidado com o patrimônio histórico e cultural da cidade nos dias de hoje. Podemos aproveitar esta comemoração da Vila Belga para aprofundar o investimento na memória cultural de Santa Maria. A grande novidade trazida com o Distrito Criativo é o método de sua formação, uma mobilização de várias forças reunidas pelo diálogo. Se temos um problema com a memória da cidade, o que afeta profundamente nossa autoestima cidadã, estamos vendo que, com o diálogo e a soma de interesses comuns, podemos vencer nossa teimosa amnésia coletiva. Vida longa à Vila Belga.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Resumo é que o Distrito Empulhativo não chega a ser um problema. Busilis é que a unica alternativa. Porque é conveniente para alguns. ‘Ah! Mas tem o polo logistico!’. Sim, uns vinte anos que falam nisto, como o porto seco. Depois o aeroporto. Ou a industrialização. Ou o turismo. Muito se fala, assuntos são rotativos, e o que fica é inação ou esforço em projetos que nunca se completam ou não entregam os resultados marketados. É muito bom para a cidade ter muita memoria e nenhum futuro.
Urb está em decadencia. Obvio. Campanhas de marketing e moções não faltam. Existe necessidade de um novo ciclo economico. Unicas sugestões são de gente que só sai da capital da Depressão Central para turismo ocasional. Sugestões irrazoaveis (daqui a pouco alguém vai palpitar que é necessario construir um Torre Eifel por aqui para atrair turistas). É o FEBEAPA. Na mesma categoria dos ‘genios’ (e ‘genias’) que incluiram um ‘projeto de vida’ no ensino médio. Gente nefelibata não tem noção da propria burrice.
‘[…] o que afeta profundamente nossa autoestima cidadã’? Ruas esburacadas, sujeira (urb é muito suja). Transporte coletivo na base do que casa tem para oferecer. Não existe coleta seletiva. Não se discute a cidade, as patotinhas acham que a aldeia é propriedade delas. Para isto serve o ‘Distrito Empulhativo’, cortina de fumaça!
‘[…]quarenta empreendimentos da economia criativa (e o número só vem crescendo).’ Nesta afirmação só existe um numero e um adjetivo ‘criativa’. Nada de concreto. Asserções genéricas são muito utilizadas para esconder a realidade. Alas, se fosse importante mesmo não seria necessário ficar martelando o assunto.
Florianopolis planeja mais de meia duzia de ‘Distritos Criativos’. Até prova em contrario, aqui como lá, é pura marketagem. Vide Tecnoparque. Inaugurado em 2013. ‘[…] fruto de união de esforços de diferentes setores da sociedade e até de gestões do governo que raramente ocorre’. Pronunciaram-se no evento, dentre outros, Valdeci Oliveira e o então presidente da Cacism, Luiz Fernando Pacheco. A instituição ‘entregou’ o que prometia? Ou daqui 50 anos ‘vai se tornar o Vale do Silicio, não tem nada que impeça isto’. Resumo da ópera é simples: numa epoca era moda instalar parques tecnologicos e incubadoras. Jogou-se um monte de dinheiro nisto, não foi feita nenhuma avaliação. Pegam as exceções, os ‘casos de sucesso’, e usam como ‘laranja de amostra’.
Revista ‘The Economist’ (não sei se a ultima ou penultima) mencionou um estudo do ‘Washington Post’. Algo como 56% dos jovens ianques não vêem vantagem de fazer um curso superior. Existem peculiaridades, obvio. Cursos que não levam a um posto de trabalho remunerado (ou seja, não existe mercado de trabalho para a qualificação); custo do curso (não só particulares, nas publicas há que se sustentar); diferença salarial entre quem tem diploma e quem não tem encolhendo (exceções direito, medicina, etc). Há também a curva demografica.
Patrimonio historico local tem que ser preservado, não é esta a questão. Passado ferroviário é algo que não falta Brasil afora. Em SC existem meia duzia de museus. Em São Paulo muito mais. No Paraná o de Curitiba é famoso. Na avenida que passa na frente da Estação Rodoferroviaria (que agora é só rodo) para quem sai da mesma é a esquerda. Caminho que levava, se lembro bem, ao CEFET (que deve ter virado IF). Todos estes lugares, ao menos nos maiores, têm uma característica comum: a cidade não ‘gira’ em torno do passado.
‘Nossa cidade’ tem mais de 280 mil habitantes. Bolha da classe média que frequenta o local não representa a totalidade. Tem muita gente, muita mesmo, que não coloca o pé por lá há decadas. Outro tanto nunca esteve no local, não conhece nem por foto.