Como fui insensível. Nunca, quando estava junto a ele, percebi que era o que eu buscava ser – por João Luiz Vargas
A porta da casa ficou inacabada. Não teve o acabamento normal que qualquer pedreiro daria. Mas ele não deu. Fez como sempre: deixou os arremates mais sofisticados sem fazê-los. E comum, em suas obras de arquitetura, o inacabamento.
Agora ele é essa pessoa calma que diz construir casas, para nós inacabadas, mas já foi tudo na vida: pintor, industrialista, até inspetor. Mas para mim foi quem sempre, em sua vida, deixou as coisas importantes para depois.
Passou o tempo e ele, como todos nós, chegou ao final. Em sua partida fiquei a meditar porque partia, se tantas coisas teria que acabar. E, dentro deste pensamento, sou despertado, só agora, que ele foi realmente o primeiro homem com profundo desejo socialista que conheci.
Sim, um socialista, pois nós queríamos que, em suas obras, o acabamento fosse feito. Parece até que eram mais importantes que um todo. Ele transmitia, em seu jeito calado e brincalhão quando falava, que interessava o maior, não os acessórios. Se tantas atividades teve, foi buscando, um dia, encontrar uma que lhe desse segurança de estar fazendo algo para auxiliar a humani-dade, não pessoas isoladas.
Como fui insensível. Nunca, quando estava junto a ele, percebi que era o que eu buscava ser e, se assim não sou, é por falta de coragem ou incapacidade. Tomara que agora ele tenha encontrado uma sociedade que entenda que o acabamento de uma obra não está no seu final e, sim, em seu começo.
(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve habitualmente no site às sextas-feiras.
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