Por Laurent Keller / Da Agência de Noticias da UFSM
Grandes produções audiovisuais como Blade Runner: o Caçador de Andróides e a série Black Mirror, criaram no imaginário popular um medo de que ferramentas tecnológicas muito avançadas acabariam, em algum momento, se tornando uma ameaça à existência humana, em decorrência do seu nível de inteligência. Em 2023, este sentimento começou a tomar proporções maiores com a série de avanços realizados em torno do que é chamado de Inteligência Artificial (IA), promovendo questionamentos, inclusive, no meio educacional. Contudo, dispositivos como ChatGPT são realmente uma ameaça à qualidade de aprendizagem, ou eles estão recebendo o título de vilões injustamente?
Ao longo destes seis meses iniciais de 2023, o mundo tomou conhecimento de ferramentas tecnológicas que fazem uso da IA em seu funcionamento. Evidências sendo cantada pela cantora Ariana Grande e foto do Papa Francisco vestindo casaco da Balenciaga são apenas dois exemplos que viralizaram nas redes sociais recentemente, mas que já impressionaram a todos pelo nível de semelhança com a realidade. Contudo, apesar de as criações citadas terem repercutido por serem engraçadas, outros usos dessas IAs têm despertado preocupação entre algumas pessoas, porque, para além dos dispositivos já citados, ferramentas como o ChatGPT, Decktopus AI ou o ChatPDF representam uma revolução na forma de se produzir conteúdos criativos, científicos e educacionais. Isso porque tais ferramentas agora são capazes de desempenhar atividades que, até pouco tempo atrás, só poderiam ser feitas por humanos.
Para se ter uma ideia, o ChatGPT funciona da seguinte forma: você acessa um chat para conversar com a ferramenta e solicitar qualquer tipo de informação; o dispositivo, utilizando uma base de dados gigantesca, é capaz de te responder, te poupando do esforço de pesquisar por conta própria e de estruturar um texto explicando o conteúdo. Outra Inteligência Artificial semelhante é o ChatPDF, em que o usuário faz a inserção de um documento na plataforma, para que o próprio dispositivo analise o conteúdo daquele texto e, posteriormente, responda os questionamentos que o usuário fizer acerca do material. Além destes, outro recurso é o Decktopus AI, que produz apresentações profissionais, por meio do que é solicitado por quem está utilizando a ferramenta, e também consegue traduzir apresentações para idiomas diversos.
A partir desse panorama, é possível compreender o porquê de a Inteligência Artificial ter se tornado um motivo de medo para o meio educacional, uma vez que estudantes desde o nível básico até a pós-graduação podem utilizá-la para fins acadêmicos, abrindo espaço para o plágio, baixa produção de novos conhecimentos e até mesmo desinformação. Ao encontro desse pensamento, o professor do Departamento de Processamento de Energia Elétrica (DPEE) do Centro de Tecnologia (CT), Anselmo Cukla, argumenta que a IA apresenta desafios para seus usuários, no entanto, assim “como qualquer ferramenta, quando mal utilizada, apresenta resultados fracos ou sem sentidos”. Essa explicação do professor diz respeito ao modo de funcionamento das Inteligências Artificiais, que, diferente do que se idealiza, não são capazes de atender a todas as demandas com 100% de precisão.
Para explicar como funciona uma IA e refletir sobre as formas com que ela pode afetar o ensino brasileiro, a Agência de Notícias da UFSM conversou com Cukla e alguns outros docentes da instituição para descobrir o que eles pensam sobre o assunto.
Como funciona uma Inteligência Artificial?
Basicamente, as Inteligências Artificiais são projetadas para desempenharem atividades que, até então, só poderiam ser feitas por humanos, como redigir uma redação em linguagem natural. Porém, para além de tarefas simples, boa parte das IAs são feitas com o objetivo de desenvolver ações repetitivas ou difíceis de realizar, como responder clientes em alguma rede social ou certos procedimentos médicos, por exemplo. Cukla esclarece que uma IA é composta essencialmente por três blocos principais: entrada de dados, processamento e resposta ao usuário. Nesse sentido, a IA, resumidamente, é um conjunto de algoritmos que processam um grande volume de informações fornecidas pelo usuário e entrega um resultado a partir desses materiais, segundo o docente. Para que isso aconteça, esses algoritmos são “ensinados” a realizar determinada função, o que é conhecido como machine learning, por meio das bases de dados apresentadas pelo programador.
Apesar de parecer ser uma tecnologia nova, a IA já está bem inserida na realidade brasileira, já que o país é o que mais usa Inteligência Artificial na América Latina, segundo dados do estudo de 2022 Avanços na cultura organizacional baseada em dados, analytics e IA. Conforme essa pesquisa, elaborada no território nacional, 63% das empresas já utilizam aplicações baseadas na tecnologia. Fora isso, a Inteligência Artificial vem se desenvolvendo há décadas, de acordo com o também professor do DPEE do CT, Leonardo Emmendorfer: “[com IA] podem-se realizar tarefas como o reconhecimento biométrico, onde a identificação e verificação de indivíduos é obtida com base em características únicas, como impressões digitais, padrões da íris e características da face. Nesta aplicação, uma base de exemplos seria composta de diversas imagens da face da mesma pessoa, em diferentes situações. Outros casos de sucesso incluem a robótica, a detecção de fraudes, a análise automática de risco de crédito e os sistemas de recomendação, muito presentes em plataformas de conteúdo e em redes sociais”, explica…”
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