Reproduzido do portal da Deutsche Welle Brasil / Reportagem assinada por Nadia Pontes
No Rio Grande do Sul, moradores de pelo menos 52 cidades ainda contabilizam na sexta-feira (14/07) os estragos após a passagem de um ciclone extratropical. No estado, um homem de 68 anos morreu na cidade de Rio Grande, e mais de 17 mil pessoas foram afetadas pelo evento climático.
Em cidades do estado de São Paulo, duas mortes foram associadas ao ciclone. Em São José dos Campos, uma mulher de 24 anos morreu após ser atingida por uma árvore enquanto dirigia o carro de uma autoescola. Em Itanhaém, uma idosa de 80 anos foi vítima de choque elétrico.
O fenômeno meteorológico provocou ventos de mais de 140 km/h, chuvas volumosas, queda de granizo e inundações principalmente na região Sul. Foi o terceiro ciclone extratropical a atingir o Brasil em menos de um mês.
O ciclone extratropical é uma área de menor pressão atmosférica do que o ambiente do entorno, em que os ventos giram ao redor de um centro, no sentido horário. Esses sistemas afetam o tempo das regiões onde atuam provocando nuvens, chuva, redução da temperatura do ar e ventos fortes.
Embora seja um fenômeno meteorológico comum na região Sul, o aumento da temperatura do ar e do oceano em consequência das mudanças climáticas pode deixar os ciclones extratropicais mais intensos, afirmam especialistas ouvidos pela DW.
O que são ciclones extratropicais?
São sistemas de baixa pressão atmosférica, em geral vinculados a frentes frias. Eles provocam um contraste muito grande de temperatura, umidade, chuva em seu entorno. Além disso, ventos muito intensos são gerados na direção dele, explica Tércio Ambrizzi, professor de Ciências Atmosféricas na Universidade de São Paulo.
O que foi diferente no evento mais recente registrado no Brasil?
Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), diz que o desenvolvimento do ciclone extratropical que atingiu a região Sul do Brasil se formou em cima do continente.
“Foi uma particularidade, porque os ciclones tendem a se formar sobre o oceano, às vezes bastante longe da costa”, afirma.
A intensidade do fenômeno meteorológico também chamou a atenção. “Eles costumam ser fracos, mas o último teve uma intensidade bastante alta, por isso o vento e chuva fortes”, pontua Seluchi.
Segundo o pesquisador, ciclones são bastante comuns na região. Quase toda frente fria está associada a um ciclone extratropical. Logo, se há muitas frentes frias, há muitos ciclones extratropicais.
Onde os ciclones extratropicais ocorrem?
Na América do Sul, um mapeamento das áreas mais ciclogenéticas – como os especialistas definem as áreas mais propensas ao fenômeno – aponta duas regiões principais. Uma fica no extremo sul, na costa da Patagônia. A outra é a região da bacia do Prata, ou seja, o sul do Brasil, Uruguai e nordeste da Argentina, explica Seluchi.
A área sobre a Patagônia registra uma frequência maior de formação de ciclones extratropicais durante o verão. Já na região ao sul do Brasil, o fenômeno ocorre durante os meses de inverno e primavera.
“Existe também uma terceira região de formação de ciclone, que é perto da costa de São Paulo e Rio de Janeiro, mas é muito raro a formação sobre o continente”, diz Seluchi.
Os ciclones extratropicais estão se tornando mais frequentes no Brasil?
Um estudo feito por Tércio Ambrizzi há alguns anos mostrou que os ciclones não sofreram aumento em termos numéricos, mas em intensidade.
“Em princípio, há relação com as mudanças climáticas. Com a atmosfera acumulando muito mais energia em função do aquecimento que o planeta está sofrendo por conta da emissão de gases de efeito estufa, os sistemas se tornam mais intensos”, diz.
O impacto sobre a vida das pessoas depende da região onde o fenômeno se desenvolve. “Em junho passado houve um ciclone extratropical muito intenso que se desenvolveu no oceano. O fenômeno se desenvolveu em função de um outro sistema, que foram vórtices ciclônicos de altos níveis. Naquele junho, ele se propagou na região do Atlântico. O atual se desenvolveu exatamente em cima do Rio Grande do Sul, por isso causou tanta chuva. A intensidade das chuvas e dos ventos causam muitos danos e colocam vidas em risco”, afirma Ambrizzi.
Marcelo Seluchi destaca que, antigamente, detectar ciclones sobre os oceanos era muito difícil. “Não existiam dados observados, não havia boas imagens de satélite, então muito provavelmente houve muitos ciclones que não foram detectados no passado, que não fazem parte da série histórica”, detalha o meteorologista, pontuando que a série histórica mais confiável que registra o fenômeno reúne informações dos últimos 25 anos.
Seluchi afirma que ainda não existem estudos muito claros sobre como as mudanças climáticas podem afetar a frequência e a intensidade dos ciclones extratropicais. As projeções feitas com base em modelos indicam que alguns ciclones tenderiam a se formar um pouco mais para o sul num cenário de aquecimento global.
“Há um fato que pode influenciar a intensidade dos ciclones, que é justamente o aquecimento da atmosfera e do oceano. Um oceano mais quente consegue evaporar mais água. Uma atmosfera mais quente, por conta do aumento da temperatura, retém mais umidade, que é um elemento muito importante para determinar a intensidade dos ciclones”, explica Seluchi.
Isso ajuda a explicar o fato de a costa leste da América do Sul, a bacia do Prata e o sul do Brasil serem regiões de maior frequência de ciclones extratropicais, argumenta o meteorologista. A costa do lado do oceano Pacífico, na área do Chile, não registra muito o fenômeno, pois é uma área que tem baixa umidade, diz Seluchi.
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Hummm…. Conseguiram fazer uma materia sem citar o El Niño. Nenhuma menção sobre fenomeno parecido ter acontecido antes e há quanto tempo. Vide ciclone bomba de meados de 2021. Vide furacão Catarina de 2004. Aquecimento global existe e é um problema, mas isto daí é propaganda acéfala.