A reação da economia brasileira – por Valdeci Oliveira

A redução – a primeira em três anos – dos juros pelo Banco Central em 0,5 ponto percentual, “baixando” a Selic para 13,25%, mostra que a economia brasileira, sob gestão do presidente Lula, dá sinais de otimismo tanto ao dito “mercado” brasileiro quanto internacional. Uma diminuição ainda tímida, é bom deixar claro, pois as medidas tomadas pelo governo federal até aqui, e que já resultaram em queda dos índices de inflação e desemprego, certamente deveriam corresponder a um índice maior no corte. Taxa Selic menor facilita o crescimento econômico sustentável, a busca de crédito e investimentos, mas também menos desembolso por parte do governo.

Para que tenhamos uma imagem referencial do que isso significa, cada vez que se acrescenta um ponto percentual na Selic, a dívida pública brasileira é ampliada em R$ 42,6 bilhões, dinheiro que vai diretamente ao rentismo (aquele “mecanismo” que faz com a turma que especula detendo títulos do governo ganhe muito produzindo absolutamente nada).

Simbólico disso foi a BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, afirmar, por meio do seu relatório semestral, que a nossa dívida está entre os papéis de sua preferência para ganho (não por nada que, coincidentemente, fazem uma defesa radical, um verdadeiro dogma à manutenção da taxa de juros lá em cima como “remédio” para controle inflacionário).

Importante sempre frisar que, para além da macroeconomia, evoluímos também no respeito aos direitos humanos e combate às desigualdades de renda, raça e gênero, no aumento real do salário mínimo, na redução dos preços dos alimentos e combustíveis e na ampliação da taxa de isenção do imposto de renda. Assim, a atual gestão do Banco Central, que vem aplicando uma política diferente da proposta e vencedora nas urnas, foi meio que obrigada a se “render” à realidade.

Ou seja, não se trata de um gesto de boa vontade ou concessão feita pelo BC, mas sim técnico, algo que deveria ter iniciado há pelo menos três ou quatro meses, para que o quanto antes deixemos para trás a insana posição de primeiro no pódio, o vergonhoso título de “campeões” da maior taxa de juros do planeta.

A postura da BlackRock, porém, não se apega apenas aos percentuais da taxa básica para vislumbrar grandes ganhos, mas também à estabilidade da moeda brasileira e das perspectivas futuras. Por se tratar de alguém que lucrou mundialmente U$ 1,15 bilhão só nos três primeiros meses do ano e persegue, sem dó nem piedade, apenas resultados aos seus investidores, a posição da gestora é mais uma demonstração de que os prognósticos catastróficos inseridos nos discursos e narrativas construídas por alguns setores da oposição sequer ficam em pé.

A fuga de capitais, a insegurança jurídica nos negócios e a crise de credibilidade e governabilidade que povoaram a grita quase histérica dos ultraliberais desde o anúncio da vitória do presidente Lula nos mostram que se tratava apenas disso, oposição por oposição, sem se importar realmente com os destinos do país como uma nação soberana, inclusiva e capaz de ditar os rumos do seu próprio destino.

Mas àqueles que ainda insistem em pegar uma gota de verdade e transformá-la num oceano de mentiras, a agência de classificação de risco Fitch Ratings, conhecidíssima do mercado financeiro, elevou a nota de crédito do Brasil nos últimos dias de julho, colocando o país a duas “casas” da nota máxima.

Talvez por isso os opositores do governo Lula têm insistido que o presidente é, a exemplo das suas duas gestões anteriores, simplesmente um cara de sorte. Se assim é, basta, como disse o próprio metalúrgico, continuar votando nele. O resto é perfumaria e discurso de derrotado.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.