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Narcisa Amalia de Campos (1852-1924) – por Elen Biguelini

Foi poetisa, jornalista e abolicionista. E, se disse, “política e revolucionária”

Nasceu em 3 de agosto de 1852 em São João da Barra, no Rio de Janeiro. Foi filha do também poeta Joaquim Jácome de Oliveira Campos Filho (c.1847-1878), conhecido como Jácome Campos, e sua esposa a professora portuguesa Narcisa Inácia de Pereira de Mendonça Campos. Seu pai era professor e, como é frequente na autoria feminina, incentivou e educou (junto a sua esposa também professora) suas filhas. Além dos conhecimentos repassados pelos pais, aprendeu latim e francês.

Aos 10 anos de idade, mudou-se com sua família para Rezende, também no Rio de Janeiro, onde se casou e permaneceu até sua mudança para a capital do reino.

Em Rezende, seus pais fundaram dois colégios, um para meninos, outro para meninas. Narcisa auxiliou sua mãe ministrando na escola desde seus 13 anos de idade.

Foi obrigada a se casar aos 14 anos, com João Batista da Silveira (c.1848-1876), que morreu longe da esposa, quando havia ido para Juiz de Fora para atuar, e em segundas núpcias com o padeiro Francisco Cleto de Rocha (1848-1904), conhecido como Rocha Padeiro.

Usava a poesia como válvula de escape. Durante o primeiro casamento começou a traduzir pequenos textos para alguns periódicos tais como o “Astro Resendense”, o “Monitor Campista” e o “Correio Fluminense”, e em 1872 publicou seu primeiro livro de poemas “Nebulosas”. Seu livro de contos “Nelúmbias” saiu dois anos depois.

Após a separação, em 1887, de seu segundo marido, que se demonstrara ciumento para com as diversas relações sociais da autora com outros poetas, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do país, onde se dedicou a educação e fundou o periódico “o Gazetinha”, dedicado ao sexo feminino. Sua produção diminuiu drasticamente, cessando em 1902.

Faleceu em 24 de junho de 1924 no Rio de Janeiro, já idosa para os padrões da época, cega e esquecida.

Foi poetisa, jornalista e abolicionista. Sua obra e sua pessoa foram admiradas durante sua vida, tendo se correspondido com admiradores. Em visita do Dom Pedro II à escola de meninos de seu pai, foi admirada também pelo imperador. Escreveu, inclusive, sobre a situação das mulheres e contribuiu com o periódico feminista de Francisca Senhorinha da Motta Diniz. Neste texto, a autora “subverteu a ideia da mulher como anjo imaculado na Taerrao, usando para isso o contraposto com a escravidão, a falta de uma educação reflexiva para as mulheres e o casamento como instituição que não cumpre com seu objetivo- o companheirismo e respeito mútuos”. (Ternero; Nunes, 16)

Luis Guimaraes Junior, no periódico “Diário do Rio de Janeiro” afirma que a autora “é uma imaginação galante e arroubada, um coração harmonioso e espírito privilegiado” (nº339 de 10 de dezembro de 1871, 1).

Segundo Gisele Barbosa, “[i]nfluenciada por ideias vindas da Europa, Narcisa Amália enxergava, com enorme lucidez, a função social da poesia. Para ela, além de entreter e proporcionar prazer ao ouvinte ou leitor cabia ao poeta, através de sua obra, atuar como agente transformador da sociedade em que vivia” (Barbosa, 2003, 2), o que se demonstra por meio de sua poesia que é, entre outras, abolicionista, política, revolucionária e em defesa da liberdade. Segundo Barbosa, “[a] poesia para Narcisa era um instrumento de luta pela liberdade – dos outros e de si mesma” (Barbosa, 2003, 6).

Segundo Anna Faedrich, a poesia da autora é eclética e “dialoga com os poetas das três gerações românticas” (Faedrich, 2016, 148).

Obra

“Nebulosas”. Rio de Janeiro: Garnier, 1872. Poesia

“Nelúmbias”. Contos 1874.

Tradução do francês “Os climas antigos”, de Gaston de Saporta. Segundo o periódico “Diário do Rio de Janeiro” (nº328 de 27 de novembro de 1870, 1) teria sido vertido ao português por D. Narcisa Amália da Silveira.

Tradução de “História da minha vida”, de George Sand.

Tradução de “Romance de uma mulher que amou” de Arsène Houssaye.

Poesias diversas no “Correio Paulistano”. 1871.

Poesia “A música”, na revista “Artes e Letras” de Lisboa, em 1872.

“O Africano e o Poeta”, poesia. Acesso via: https://pluralsingular.com.br/narcisa-amalia-de-campos/

Alguns trechos de seus poemas em Barbosa, 2003.

“Perfil de uma escrava”. In. FAEDRICH, Anna “A lírica de Narcisa Amália: diálogos, intempéries e esquecimento”. In AMÁLIA, Narcisa. “ Nebulosas”. Rio de Janeiro: Gradiva, 2017, 175 

Referências:

“Narcisa Amália de Campos”: CulturadoBrasil. Acesso via https://pluralsingular.com.br/narcisa-amalia-de-campos/

BARBOSA, Gisele Oliveira Ayres. “Aspectos sociais e políticos da poesia de Narcisa Amália”: In. Ampuh, XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.. Acesso via https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjDzr37nviAAxUzHbkGHeUgAcsQFnoECDYQAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.seo.org.br%2Fdownload%2Fdownload%3FID_DOWNLOAD%3D349&usg=AOvVaw38siWK0nyOjLBpYHsPAU5-&opi=89978449

Dados biográficos de seu pai.: https://www.geni.com/people/Joaquim-J%C3%A1come-de-Oliveira-Campos-Filho/600000007880234482

FAEDRICH, Anna “A lírica de Narcisa Amália: diálogos, intempéries e esquecimento”. In. AMÁLIA, Narcisa. “ Nebulosas”. Rio de Janeiro: Gradiva, 2017. Acesso via: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjO_oydn_iAAxUtq5UCHSCLCXI4ChAWegQIBBAB&url=https%3A%2F%2Fwww.e-publicacoes.uerj.br%2Findex.php%2Fpalimpsesto%2Farticle%2FviewFile%2F35000%2F24718&usg=AOvVaw0cM0gifSI125cbX0IP9CWO&opi=89978449

FAEDRICH, Anna. Narcisa Amália e as intempéries da produção literária feminina. Palimpsesto, Rio de Janeiro, Ano 15, n. 22, jan.-jun. 2016. p. 138-155. Disponível em: http://www.pgletras.uerj.br/palimpsesto/num22/dossie/palimpsesto22dossie09.pdf. Acesso em: dd mmm. aaaa. ISSN: 1809-3507.

LOPES DE OLIVEIRA, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 38.

SILVA, Olga Mattos de Lima e Silva. “Trajetória a poetisa Narcisa Amália de Campos: 1872-1924”. In. IV Seminário Internacional Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: 2021. Acesso via: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjDzr37nviAAxUzHbkGHeUgAcsQFnoECDoQAQ&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D4727160&usg=AOvVaw3YYow-W_pT0a0mwI7Z6fZh&opi=89978449

TERNERO, Nataly Rafaele; NUNES, Aparecida Maria. “Literatura e jornalismo no oitocentos: o discurso da poetisa Narcisa Amália em favor da instruação intelectual da mulher no semanário “o Sexo feminino””. In. “Revisa (Entre Parênteses). Nº8, volume 2, 2019. Acesso via https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/entreparenteses/article/view/1084

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Nota do Editor: a imagem de Narcisa Amalia de Campos, que ilustra este artigo, é uma reprodução obtida na internet.

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