Domenico DeMais – por Orlando Fonseca
Sobre o sociólogo do “ócio criativo”, Domenico De Masi, morto há 8 dias
Sábado à tarde, fazendo jus ao meu ócio pouco criativo, estava zapeando canais da TV, quando me deparei com uma entrevista com o sociólogo Domênico De Masi. Como sempre me agradei de suas ideias sobre o fazer criativo, sobre a história do trabalho, simpatia pelo Brasil e pelos brasileiros, dediquei-me a ficar olhando e escutando suas palavras.
Um velhinho simpático e sabido, que ainda pode(ria) trazer ideias novas a este meu repertório que se mantém curioso. Mal sabia eu que a matéria estava sendo reprisada porque havia falecido o grande mestre. E o que mais me chamava a atenção, enquanto respirava suas ideias, era que, aos 85 anos, ainda esboçava expectativa sobre o mundo que nasce aos auspícios da Inteligência Artificial.
Quando desgrudei um pouco da TV, para dar uma olhada no celular, é que soube da notícia de sua morte. Os sites de notícia informavam que, em agosto, segundo o jornal italiano “Il Fatto Quotidiano”, o intelectual italiano descobriu que estava doente. E que coincidência, isso se deu durante suas férias em Ravello, na costa Amalfitana. Embora os ares puros da região e a maravilha do cenário, o período de ócio poderia ensejar coisas melhores ao professor. Até o momento em que redijo este texto, a causa da morte ainda não havia sido comunicada.
Domênico De Masi nasceu em Rotello, em 1938, mas era um cidadão do mundo. Por sua afeição ao Brasil, que visitou muitas vezes, tinha o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Ele foi professor emérito de sociologia do trabalho na Universidade Sapienza de Roma e reitor da Faculdade de Ciências da Comunicação dessa mesma instituição.
Ativista político em seu país, mantinha boa relação com o presidente Lula, com o qual se encontrou em junho deste ano, em Roma. Na pauta, a conjuntura política atual do Brasil e da Itália (tinha relação com o Movimento 5 Estrelas), e abordaram ainda a necessidade de se estabelecer a paz tanto na Europa, afetada pelos conflitos no Leste, quanto no resto do mundo, com mudanças nos organismos internacionais. Esta é a segunda vez que os dois se encontram, a primeira foi em 2020.
Na visão do professor, que se dedicou a investigar sobre o desenvolvimento do trabalho e seu futuro, o avanço tecnológico é estratégico para um cenário em que cada vez mais pessoas poderão desempenhar funções de qualquer lugar. Algo que se aprofundou com a pandemia, a qual, pelas restrições dos protocolos de distanciamento, impôs novas compreensões sobre ambiente de trabalho, desempenho profissional e capacidade produtiva, para além dos antigos conceitos de lugar e condicionantes de produtividade.
Mas sua contribuição para o tema, em que pese a importância de suas investigações, é sobre os intervalos de não atividade, de lazer, no que ele identificou o seu conceito de “ócio criativo”. Para ele, o tempo que uma pessoa se dedica a atividades prazerosas é fundamental para que a mente desenvolva habilidades criativas.
E não é difícil que cada um de nós lembre de alguma ocasião em que chegamos a um resultado positivo, seja em um problema matemático, seja no conserto de um equipamento doméstico ou em uma passagem difícil em um instrumento musical, quando demos uma pausa, fomos tomar um café ou um copo de água, olhar a paisagem, tomar uma ducha ou dar um mergulho.
De Masi adorava os brasileiros, em especial a sua alegria e seu modo de resolver as coisas, pelo chamado “jeitinho brasileiro”. E não é difícil de entender o porquê de nossa maneira de encontrar soluções com o que se tem à mão: a necessidade é a mãe da inventividade. Longe da Europa, quando precisávamos de construir algo, ou de dar solução a algum conflito, simples: ou criávamos o equipamento com o que havia por perto, ou inventávamos a lei, a norma, o protocolo na mesma hora.
Algo impensável para nossos colonizadores, em suas terras, com séculos de história, tanto de progresso como de códigos éticos e legais. Gosto do sociólogo italiano, que, embora seu passamento no sábado passado, vai ficar muito tempo na história das ideias do mundo. Sim, o título é uma brincadeira com o seu nome, a que cheguei dando asas à imaginação: ele era (e sempre será) De Mais.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
E tem a picaretagem do conceito aberto. ‘Ocio criativo’. O que é ‘criativo’? Qualquer ‘criativo’ serve? Moda atual é inovação. Dá-se um coice na macega e sai ‘inovação’ para todo lado. Enchente no RS e todos viraram ambientalistas e ‘especialistas’ em mudanças climaticas. ‘Ocio criativo’ e algo que agrada vermelhos, receber sem trabalhar. Servidores publicos, muitos por ai, idem.
Visitada melhor dizendo.
‘Jeitinho brasileiro’ é um mito. Virou sinonimo de corrupção ou enjambração. Noutra semana no Pais de Gales prenderam uma quadrilha. Colocavam um gnomo na frente das casas. Depois de dois dias, se nao fosse recolhido, sinal que a casa estava vazia e poderia ser ‘vizitada’.
‘[…] mais pessoas poderão desempenhar funções de qualquer lugar.’ Isto foi revisto em muitos lugares. ‘Algumas pessoas’ é mais preciso.
‘[…] necessidade de se estabelecer a paz tanto na Europa, afetada pelos conflitos no Leste, quanto no resto do mundo, com mudanças nos organismos internacionais.’ Vermelhos tem fetiche com o Conselho de Segurança da ONU. Talvez cortina de fumaça. Não conseguem resolver os problemas do Brasil ‘vamos resolver os problemas do mundo; se alguém perguntar estamos ocupados’. Assento no CS não vai rolar. ‘Soft Power’ tupiniquim é uma cascata que só se fala por aqui, é mais propaganda interna. E o Molusco com L., abstemio, honesto e famigerado dirigente petista, conseguiu arrumar uma pletora de inimigos importantes la fora.
Sociologo servi de ‘autoridade’ no discurso dos vermelhos. Falacia ‘Argumentum ad vericundim’. ‘Mas o importantissimo sociologo fulano de tal defende a renda basica universal’. Ou seja, bons são os que dizem o que ‘eu’ quero que seja dito. Discordantes devem ser ignorados na impossibilidade de serem aniquilados. Simples assim.
Manuel Castells (o da sociedade em rede) deu entrevista decadas atras no programa Conversations with History. Universidade da Californai em Berkeley. Um dos assuntos, se lembro bem, foi a diferença entre a sociologia ianque e a europeia. Ianques são mais empiricos, tentam investigar o que acontece na sociedade. Europeus mais criticos/prescritivos.
Domenico de Masi foi moda (no Brasil, até mais que na Italia). Nenhuma novidade, Bauman foi. Piketty idem. Nada demais tampouco, moda na academia faz parte do jogo. Da veterinária a engenharias. De tempos em tempos as publicações tendem a um numero maior em determinados assuntos.