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E aí veio o balde de água fria – por Marcelo Arigony

Felicidade, crianças sem almoço (e talvez sem café) e o enxugamento de gelo

Hoje (terça, 19) acordamos antes do sol raiar, para cumprir mandados de busca e de prisão. O trabalho tem sido intenso nos últimos dias.

Foram duas prisões ontem, mais quatro prisões hoje pela manhã. Diversas diligências sendo realizadas, e trabalho exaustivo para documentar tudo que é feito na rua.

Quem olha de fora pensa que o difícil é cumprir o mandado de prisão, porque é arriscado e a gente pode levar o tiro e a mordida do pitbull.

Mas essa é a parte que a gente curte. Polícia é assim. O ruim é o que vem depois. Formalizar tudo isso de acordo com o devido processo legal, para que a prova não se perca, e o trabalho não vá por água abaixo.

Enfim, a gente estava muito feliz pelo êxito nas investigações, com a sensação do dever cumprido, e de utilidade no trabalho que tem prestado para a comunidade de Santa Maria.

Aí, perto do meio-dia, lembrei que eu precisava mandar este texto semanal.

Olhei pela janela da delegacia e vi duas crianças pequenas, 5 ou 6 anos de idade. Estavam acompanhando alguma mãe ou irmã, testemunha, vítima, investigada… até nem sei.

Mas sei que ainda estavam sem almoço, e talvez também não tenham tomado café. Sei também que vieram de uma área de vulnerabilidade social onde faltam políticas públicas que possam dar caminhos para fora de tudo que a gente tem visto da criminalidade.

Aí foi um balde de água fria. Enquanto a gente não mudar esse panorama, tudo o que a gente faz é enxugar gelo. E vou parar por aqui para não dizer mais.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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8 Comentários

  1. O nome do destruidor é Destruidor, é o nome do destruidor
    O nome do construtor é o nome do construtor
    A face do construtor, o que ele constrói, a obra do construtor
    O destruidor não pode mais destruir porque o construtor não constrói…

    Titãs

  2. ‘[…] tudo o que a gente faz é enxugar gelo.’ Não, para compensar tem um contracheque gordo. Delegado deve estar ganhando uns trinta contos por mes. Mais um abono por adiar aposentadoria que deve ser maior que o salario de muita gente. Lembra outro, proventos beirando os 40 e criticando a ‘ganancia’ dos outros em microfones por ai. Aposentado abriu banca de advocacia para ganhar mais dinheiro. E tirar espaço de quem precisa de serviço num mercado para lá de saturado.

  3. ‘[…] uma área de vulnerabilidade social onde faltam políticas públicas […]’. E vão continuar faltando. Pior, vão acontecer e não terão o resultado esperado. E a criminalidade só faz é expandir. Alas, na Bahia não faltam programas sociais. Comando Vermelho começou a invadir o estado. Combatia o Bonde do Maluco. Que se aliou ao Terceiro Comando Puro. Antes que algum imbecil fale em ‘guerra as drogas’. Um fuzil ilegal chega a 60 mil reais. Nos primeiros 5 meses de 2023 aprenderam 321 fuzis só no RJ. Quase 20 milhões de reais.

  4. ‘[…] eu precisava mandar este texto semanal […]’. Que é uma parafrase de todos os anteriores. Como diria o pessoal de games, ‘cronicas de um NPC’. Criminologia critica, o unico fator criminologico é a pobreza, ‘falta de oportunidades’.

  5. ‘O ruim é o que vem depois. Formalizar tudo isso de acordo com o devido processo legal, para que a prova não se perca, e o trabalho não vá por água abaixo.’ Por isto que delegado tem que ser bacharel em direito e, até a ultima vez que vi, tinha que ser policial ou ter tres anos de atividade juridica. Quem vai para a area do direito já sabe de antemão que vai ter um vida de burocracia. E quem vai para a policia sabe que corre o risco de levar tiro. Obvio.

  6. ‘[…] cumprir o mandado de prisão, porque é arriscado […]’. No RJ é muito mais. Por enquanto no RS é mais sossegado.

  7. ‘[…] trabalho exaustivo para documentar tudo que é feito na rua.’ Sentar uma laje no sol é muito mais exaustivo.

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