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O Terrível Diabo de Plástico – por Marcelo Arigony

"A tecnologia trouxe poder sem medida a qualquer pobre-diabo". E Belzebu...

Antes de o ser humano existir, no Céu existia um anjo chamado Lúcifer, o qual Deus colocou numa posição de querubim da guarda, cargo de destaque… Lúcifer era perfeito, sábio, belo e formoso… (Ez 28:14,15, 28:17).

Acho que ali começa a história do Capeta. Mas lá na origem esse Cara não era vermelho, nem tão poderoso como alardeiam por aí. Sua feição foi sendo modificada, e ele só ganhou o status de big boss lá pelas cansadas do século XII, na Terra dos Francos e antigo Reino Unido, dizem…

Uma breve pesquisa mostra o quão desafiador é traçar uma linha evolutiva do Ser Maligno. A noção de Demônio – inerente à cultura religiosa – vem impregnada por influências midiáticas, econômicas, políticas e sociais.

A despeito de controvérsias, enfoques e simbolismos, é consenso que representa o Mal; e que tem influência negativa sobre as pessoas. O legado das artes ao longo da história está aí para ilustrar o rastilho funéreo do Cabuloso.

Ainda nessa toada, ao lado de Deus, o Chifrudo acaba dando corpo à incrível dialética que balanceia as cousas todas: o belo e o feio, o quente e o frio, o bem e o mal, o tricolor e o alvirrubro.

Tal qual Belzebu, que ganha novas formas e matizes cadenciado pelo novo tempo, o Direito anda a reboque do fato. As regras precisam ser adaptadas ao longo dos anos, ajustando-se ao tempo-espaço-cultura. É o Direito Posto; é o crime de plástico, que vão sendo forjados.

Falemos então em crime de plástico, para atender à conveniência e oportunidade, como o crime Carolina Dieckmann: invasão de dispositivo informático. Esse tipo penal não teria sentido em 1940, quando nosso Codex surgiu.

E o Diabo de Plástico já está entre nós, para nos trazer o Mal pelas novas tecnologias. O upgrade tecnológico reconfigurou a vida de relação, campo fértil a esse Diabo Novo, remasterizado. O Diabo não perde uma chance.

Imagine-se que conhecer sempre foi poder. E que as maiores maldades da história foram praticadas por poucos – que sabiam e podiam – influenciados pelo Diabo de Antanho, certo que sim!

Hoje a internet proporciona qualquer informação a qualquer um. Tá ali a receita do bolo de aipim, ao lado da instrução para a bomba de plutônio. São programas, protocolos e aplicativos, para o bem e para o mal.

Até há pouco tempo, poucos podiam. Mas hoje qualquer adolescente com parcos conhecimentos de informática pode lançar o diabo de um ataque cibernético, da penumbra do quarto que divide com as irmãs.

Os demônios enviam maldades diabólicas sem fim pelos aparelhos celulares. A tecnologia trouxe um poder sem medida, a qualquer pobre-diabo. O grande desafio será nos proteger do Diabo de Plástico, vermelho, azul… o diabo de nós mesmos… como sempre foi.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a imagem (pixabay) que ilustra este texto foi reproduzida deste link.

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4 Comentários

  1. Se alguém deixar a porta de casa ou do carro destrancada existe a chance de que alguém entre e furte alguma coisa. Idem para equipamentos de informatica. Sim, a vitima tem responsabilidade, ignorancia não é desculpa. Se uma mulher tirar fotos com celular, dela ou de terceiros, pensando que ‘comigo não vai acontecer’ existe o risco de virar estatistica. ‘[…] o crime Carolina Dieckmann: invasão de dispositivo informático.’ E daí? As fotos dela estão disponiveis na web, 100% garantido. Pessoal do juridico tenta ‘regular’ o que não entende.

  2. ‘Mas hoje qualquer adolescente com parcos conhecimentos de informática pode lançar o diabo de um ataque cibernético, da penumbra do quarto que divide com as irmãs.’ Sem pé nem cabeça, excesso de imaginação, pervertida ainda por cima. Para começo de conversa, crimes cibernéticos, como todo tipo de ilegalidade, tem uma cadeia alimentar. Os melhores não deixam vestigios. Os que se acham ‘espertos’ são pegos rapidamente. Segundo, é necessario um certo conhecimento tecnico, coisa que a maioria não tem disciplina, vocação ou paciencia para adquirir. Editar videos para colocar no Tik Tok é outra historia.

  3. Decada de 80. Revista ianque Hustler. Seção ‘Beaver Hunt’ (os padrões de depilação eram diferentes). Fotos de mulheres nuas ou seminuas eram publicadas. Detalhes da vida pessoal das mesmas idem. Nem tudo que foi publicado foi enviado pelas proprias, o que rendeu diversos processos judiciais. O caso é conhecido por conta da grande circulação da publicação. Mais ou menos na mesma epoca o crime organizado mundo afora também era ‘criativo’ no que diz respeito ao pagamento de dividas de consumo de drogas. Obvio ululante, tecnologia só tornou mais fácil, mais pratico.

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