Da Tempórea Assessoria de Comunicação / Com fotos de Charles Guerra
O caminho mítico e milenar de Peabiru, que ligava os oceanos Atlântico ao Pacífico e por onde foram guiados por povos originários diversos personagens históricos da era pré-colonial instigou a curiosidade do jornalista, pesquisador e professor universitário Carlos Dominguez, que atuou em Santa Maria como repórter, editor e colunista do Diário de Santa Maria.
“Escrever sobre o Caminho do Peabiru, rota ancestral do Atlântico ao Pacífico foi um aprendizado de culturas e pessoas que têm outra experiência de viver em harmonia. Há muita sabedoria na vida dos povos andinos e guaranis. O Peabiru é um símbolo vivo de que existem alternativas” – afirma o autor.
Há cinco anos, quando soube da existência desse caminho, marcado por pinturas rupestres gravadas em pedras pelos povos que o atravessavam, o jornalista não tinha ideia que ele se transformaria em um livro-reportagem. Mas o encantamento pelo tema o levou a começar a investigação, que teve início em Florianópolis e foi sendo desenvolvida com os registros fotográficos dos profissionais Álvaro Pouey, Charles Guerra, Daniela Xu e Dea Amaral, que emprestaram seus imaginários para 50 páginas de fotografias dos locais e pessoas que teimam em não desaparecer e preservam as memórias de outras maneiras de viver em paz, guiados pelo sol e pelas estrelas.
“Viver este caminho e registrar suas imagens e pessoas foi uma experiência única para conhecer a cultura e o modo de vida de todo o continente” – relata o fotógrafo Charles Guerra, que atuou no Diário de Santa Maria.
Foram cinco anos de pesquisas, entrevistas, viagens, investigações, inspirações, imersões, além do contato em um mergulho jornalístico nas entranhas do continente, no ambiente, na natureza, nos povos, nos costumes, nas tradições dos verdadeiros donos da terra confrontados com a barbárie de 500 anos de colonização, genocídios, roubos e domínio estrangeiro.
Dominguez recorda de suas andanças pela Região Central que, aqui, também temos marcas da passagem dos povos originários.
“Na Região Central, existem muitas gravuras rupestres que indicam a permanência e cultura de povos que viviam aqui há muitos anos. A Pedra Grande, em São Pedro do Sul, e a Canhemborá, em Dona Francisca são dois sítios arqueológicos que têm vestígios gravados nas rochas. Todos os caminhos têm essas indicações, sinais que busquei procurar durante as investigações” _ relembra.
Esta reportagem em profundidade mescla a investigação científica com a narrativa de uma epopeia secular, desde o ancestral mundo andino até a chegada dos primeiros europeus ao litoral sul do Brasil. É a história de pessoas que vivem e estudam o caminho.
O livro “Peabiru – Do Atlântico ao Pacífico”, impresso na Gráfica Pallotti, de Santa Maria, já foi lançado em Pelotas, Portugal, Florianópolis e Porto Alegre.
O caminho
Há milhares de anos, um sistema de estradas ligou as civilizações do litoral Norte do Peru até o berço da cultura Inca, no Lago Titicaca, através da Cordilheira dos Andes. A expansão de seu território foi erguendo vias de pedra em quatro direções até as terras baixas, na Bolívia, Norte da Argentina e do Chile, Paraguai, e o litoral Sul do Brasil, em Florianópolis e São Vicente.
O centro do continente era dominado pelo povo Guarani. Hoje, o legado milenar de interações, trocas, festas sagradas e migrações, sintetizado pelas vias do antigo caminho, permanece vivo nas culturas dos povos originários que ainda vivem na rota sagrada do sol e das estrelas.
Pelo caminho do Peabiru, estrada sinalizada na rocha por gravuras rupestres milenares, mapas que orientavam os viajantes no passado, passaram os primeiros colonizadores do nosso continente, como Aleixo Garcia, que fez, em 1523, o trecho do Peabiru de Florianópolis até a Bolívia; e Alvar Ñunes Cabeça de Vaca, que foi de Florianópolis até Assunção, no Paraguai, conforme relatam os cronistas de 1500.
A visão dos povos andinos e a visão dos povos das terras baixas. Incas e Guaranis se enfrentaram inúmeras vezes antes da chegada dos europeus e hoje continuam vivendo junto ao caminho sagrado do Tape Aviru (guarani) ou Qhapac Ñan (quechua). E resistindo ao avanço do agronegócio predatório que destrói o ecossistema natural onde viveram em equilíbrio por milhares de anos.
O autor
O autor Carlos Dominguez é jornalista, pesquisador, professor universitário e escritor. Escreveu as reportagens de profundidade “Rio Vacacaí-Mirim, o lado verde de Santa Maria” e “O Segredo de Sambaqui”.
É repórter e editor da Ponga Reportagem de Profundidade (http://pongapress.com/), um coletivo composto por jornalistas, fotógrafos, editores, pesquisadores e designers que trabalham para oferecer uma imersão detalhada em universos que estão escondidos, mas muito próximos do cotidiano. Produziu as videorreportagens: “Ribeirinhos do Rio Uruguai”, “O Silêncio dos Afogados” e “Às margens da Democracia”. Escreveu os livros “O silêncio dos afogados – O ethos jornalístico e a complexidade ambiental em GarabiPanambi”, publicado pela Editora Imaginalis (https://www.ufrgs.br/imaginalis/editora/silencioafogados/).
Atualmente, é professor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e PhD em Comunicação e Informação-Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é membro do grupo de pesquisa Imaginalis do PPGCOM-UFRGS. Sua tese de doutorado é uma reportagem-ensaio que aborda a questão ambiental na fronteira Brasil-Argentina. Foi editor de Política, repórter e colunista do Diário de Santa Maria e do Jornal de Santa Catarina.
Lançamento em Santa Maria
Lançamento do livro Peabiru – Do Atlântico ao Pacifico, pelo mítico caminho sagrado
Quando: 23/10, às 18h
Onde: Bar da Casa, Rua Bozano, 890
Sobre o livro: www.pongapress.com
Onde comprar
No Brasil – Pelo e-mail do autor: [email protected] e nas sessões de lançamento diretamente com o autor
Em Portugal – No site da editora In-Finita https://www.in-finita.com
‘[…] têm outra experiência de viver em harmonia. Há muita sabedoria na vida dos povos andinos e guaranis. O Peabiru é um símbolo vivo de que existem alternativas.’ Mito do bom selvagem que vivia em harmonia com a natureza, não poluia e não guerreava. Mito utilizado para propagar vermelhices. Poucos comprarão, poucos lerão. No futuro os Werners Rempels da vida utilizarão para confirmar os proprios argumentos.