Artigos

Nova Gare – por Orlando Fonseca

“Testemunho ainda vivo do núcleo fundante do nosso desenvolvimento”

Dentre tantas notícias ruins, uma que se destaca, por ser muito boa, é o começo das obras de restauração da Gare. Depois de muitas idas e vindas (e não se trata dos antigos e românticos trens de passageiros), décadas em que o tempo deixou marcas de degradação, finalmente podemos imaginar um prédio histórico como a cidade merece.

A cidade somos nós e as circunstâncias espaciais que nos identificam – somos santa-marienses todos, nascidos ou chegados, dá na mesma – e por vezes, pelo descaso da nossa parte, nossa identidade vai se perdendo, na pintura que se esmaece, no reboco que cai, no telhado que desmorona.

Por vezes pensamos que a nossa parte seja apenas lamentar, e que cabe ao Poder Público reparar as marcas que o tempo deixa. Sem pensar, que, como cidadãos, é nossa também a responsabilidade de contribuir para que o tempo deixe marcas significativas de uma história fundamental para entendermos nosso lugar, neste momento. A notícia, portanto, nos enche de esperança. E o Coletivo Memória Ativa tem todos os motivos para se encher de orgulho e de esperança.

Desde a sua primeira reunião, o Coletivo tem tido um olhar atento para a o patrimônio cultural de nossa cidade. Somos profissionais de várias áreas, o que inclui arquitetos e urbanistas, fundamentais para que se tenha um olhar especializado para o tema.

No entanto, eu diria, sendo um profissional da área das Letras, não é preciso mais do que afeto por Santa Maria para saber que o cuidado para com o Centro Histórico é definidor de autoestima cidadã, base para as políticas públicas que abrangem os projetos ligados à manutenção deste espaço geográfico como cidade. A nossa cidade.

Por isso, desde agosto de 2018, temos procurado sensibilizar a comunidade e as autoridades para um olhar atento sobre o acervo Art Déco da Avenida Rio Branco, a revitalização da Vila Belga e o resgate da Gare como um lugar de celebração de nosso passado ferroviário, embrião do progresso da cidade. Desse modo, saudamos com satisfação o início da recuperação daquele verdadeiro monumento, uma obra aguardada há muitos anos, e que agora a Prefeitura coloca em andamento.

Todos que participaram, nos últimos anos, de algum evento cultural no largo da Gare, sabem que ali não se trata de apenas um logradouro público, apropriado para grandes eventos. Quem já ouviu – e cantou – o trecho da canção do Beto Pires, sabe que o apito do trem ainda ecoa na sensibilidade de quem dedica afeto por Santa Maria.

 Portanto, não é um simples sítio histórico que tem estado degradado há tanto tempo, mas é o testemunho ainda vivo do núcleo fundante do nosso desenvolvimento. O primeiro ciclo econômico que chegou até aqui com a instalação da malha ferroviária e com a presença de engenheiros, técnicos, empreendimentos que impulsionaram a economia e a cultura local.

Os eventos culturais nos mostram o acerto com o trabalho de revitalização, tanto para marcar a memória ferroviária quanto para constituir um ambiente de lazer e celebração deste esforço por fazer grande o Coração do Rio Grande.

O Coletivo Memória Ativa teve uma atuação decisiva, em maio de 2020, quando contestou publicamente, e depois junto ao Ministério Público, a fim de que o edital da Gare seguisse os procedimentos devidos, para que o trabalho de restauração pudesse se efetivar de modo justo e adequado.

Com a conscientização do valor do espaço, e com a necessidade da devida condução do processo, nossa solidariedade com o Poder Público que, além de seguir os devidos trâmites, apresenta um projeto que faz jus ao significado que tem a Gare para o povo santa-mariense.

Como é da índole deste Coletivo, estaremos vigilantes para com os desdobramentos quanto à destinação, ao uso e ao processo de parcerias público-privadas que darão vida e sustentação daquele monumento e espaço cultural.

E conclamamos a população para que se junte a nós, de modo a acompanhar as obras de revitalização, cuidar para que a Gare renovada contemple democraticamente todas as manifestações culturais, e quando prontas encher de vida aquele lugar, digno de nosso afeto, cuidado e respeito.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

10 Comentários

  1. Como disse Rubens Ricupero “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Nenhuma palavra sobre a Casa de Cultura da aldeia. Que continua uma tapera. A la Sotéia, só que bem no centro.

  2. ‘[…] conclamamos a população para que se junte a nós […]’. Se a população não aparecer até 2088 é porque ela não vai. Bom esperar sentado. No que algum ‘genio da comunicação’ dirá ‘basta pingar algum no meu bolso e se faz uma campanha de “conscientização”‘.

  3. ‘[…] estaremos vigilantes para com os desdobramentos quanto à destinação, ao uso e ao processo de parcerias público-privadas que darão vida e sustentação daquele monumento e espaço cultural.’ Ou seja, a esquerda quer seu naco. Esperam que a iniciativa privada coloque dinheiro em empreendimentos no fim do mundo e financie as alucinações vermelhas. Obvio que esta conta não fecha. Vide o Mercado Publico privado que abriram por lá e não decolou.

  4. ‘[…] esforço por fazer grande o Coração do Rio Grande.’ Santa Maria é uma ilha cercada de espelhos por todos os lados. Voltados para dentro óbvio. Nossos(as) escritores(as) são os/as melhores que há. Nossa ‘UFSM’ é uma das melhores do mundo. Nossos fosseis são os mais importantes ou mais antigos. Nosso xis não perde para ninguém. Nossa arquitetura só perde para Miami. Nossos politicos são altamente qualificados, da para lotar um fusca com os exemplos. A lista não termina porque todo dia inventam uma nova.

  5. ‘[…] celebração de nosso passado ferroviário, embrião do progresso da cidade.’ Piramide etaria da urb é mais ‘gorda’ dos quarenta e poucos para baixo’. Diminui nas idades menores. Maioria nasceu depois que o trem deixou de circular. Celebração do passado ferroviário é uma artificialidade empurrada de cima para baixo, bem ao gosto dos autoritarios e dos vermelhos (pleonasmo).

  6. ‘[…] acervo Art Déco da Avenida Rio Branco […]’. Isto é algo que só interessa uma bolha, arquitetos(as) e dubles de intelectuais. ‘[…] a revitalização da Vila Belga […]’, Bric da Vila Belga, por exemplo, surgiu de iniciativa local e depois foi ‘encampada’, o sucesso tem muitos pais e muitas mães, o fracassso é orfao (donde surge algum(a) imbecil: ‘dããããã, tá falando mal dos órfãos, dãããããããã’).

  7. Soviet Memoria Ativa é um lobby. No meio desta brincadeira a esquerda (que se esconde) recebe a retribuição (um naco da Gare) por ter apoiado a eleição de Indigesto Nãosoubom. Outra função do grupo de interesse é promover os proprios integrantes, uma coleção de egos inchados.

  8. ‘[…] é nossa também a responsabilidade […]’. Quem morreu e deixou no inventario para o autor a tarefa de atribuir responsabilidades para os outros?

  9. ‘A cidade somos nós […]’. ‘Nós’ quem cara-palida? ‘[…] pelo descaso da nossa parte, […]’. Não tem descaso nenhum da ‘nossa parte’. A grande maioria paga impostos em dia, o alcaide recebe um salario de 5 digitos e os(as) edis idem. Se alguém é pago para realizar determinada tarefa espera-se que a cumpra. Simples assim. Diluição de responsabilidades so serve para o ‘ninguem foi’.

  10. ‘[…] podemos imaginar um prédio histórico como a cidade merece.’ Cidade ‘merece’ ruas sem buracos, mais limpas e sem pichações. Gare tem importancia? Sim, mas uma ‘laranja de amostra’ não resolve o resto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo