MOÇAMBIQUE. Irmã Lourdes Dill relata os desafios de sua missão na África: Pobreza, Fome e Felicidade
Religiosa atua junto a comunidades que não possuem eletricidade ou água
Por Maiquel Rosauro
Irmã Lourdes Dill, 72 anos, prepara-se para passar seu primeiro Natal na África. Em outubro, a ex-coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança iniciou sua missão de evangelização em Micane, Moçambique. No continente africano ela enfrenta enormes desafios, em uma realidade completamente diferente do Brasil.
“O povo africano é muito feliz e hospitaleiro. Um povo de muita fé, coragem e resistência. Um povo que vive com pouco, é solidário e sabe partilhar o pouco que possui”, relata a irmã.
Conforme a religiosa, as pessoas vivem em moradias simples, feitas com blocos de barro e cobertas por capim. A comida, em sua maioria, é feita em fogo de chão ao lado da moradia. Ela relata que diversos moradores, à noite, dormem em esteiras sob as árvores devido ao calor. Esta época do ano é marcada pelas altas temperaturas e estiagem. A partir de janeiro, inicia o período de chuvas.
“Na maioria das comunidades do interior não tem luz elétrica e os que possuem condições têm um telefone simples sem internet para ligações. As famílias não têm água em casa. Elas buscam com balde, em locais distantes, já que diversos poços secaram devido ao calor e a falta de chuvas. As mulheres carregam baldes de 20 litros na cabeça e caminham sem segurá-los. Uma verdadeira arte”, comenta a religiosa.
A irmã afirma que a base da alimentação é mandioca, arroz, amendoim e farinha de milho branco. Além disso, algumas regiões plantam feijão e gergelim. Sacos de mandioca para tempos de fome e de chuva são deixados do lado de fora das casas para secarem ao sol.
“Há frutas em boa variedade e são saborosas. O povo vive com pouco, não acumula. É um povo feliz, sabe louvar a Deus pelo pouco que tem. A grande motivação é a força da religião e a participação na comunidade”, relata.
Por outro lado, a irmã afirma que o trabalho social é um grande desafio, pois não existem políticas públicas.
“Estou fazendo rodas de conversa com as crianças sobre o Natal e são muitas crianças. Consigo dar pirulitos para elas e a maioria nem a isso tem acesso. As crianças brincam com pauzinhos como era antigamente no Brasil. Eles não têm noção de brinquedos porque não possuem e não conhecem”, afirma.
A educação é precária em Micane. De acordo com a irmã, muitas crianças que estão na quarta e quinta séries não sabem ler e escrever.
“Outro dia, visitamos uma escola aqui em Micane que tem 3.200 alunos e apenas 24 professores. Não há servidores e, muito menos, merenda. Com as crianças, nós irmãs trabalhamos o básico, ensinando palavras e sílabas para, mais adiante, formar frases e eles aprenderem a ler”, comenta.
Irmã Lourdes está na África acompanhada das irmãs Ilca Welter, Maria Madalena de Andrade e Rita Lori Finkler. As quatro pertencem à Congregação Filhas do Amor Divino e batizaram a missão de Comunidade Luz da Aurora, inspirado na Páscoa e no fato de o sol nascer cedo em Moçambique, por volta das 4h.
Há também dois padres – Luiz Weber e Henrique Neis – e dois leigos – Maria Bernarde e Benedito Ataguile – que moram em Moma – a cerca de 25 quilômetros do local onde as irmãs estão sediadas. Os oito missionários atendem duas paróquias que possuem cerca de 180 comunidades, algumas distantes e acessíveis apenas por estradas de chão. Não existe asfalto naquela região.
O trabalho é feito de forma integrada e as ações são planejadas em conjunto. A missão existe há 29 anos e faz parte das Igrejas Solidárias entre a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Sul e a Arquidiocese de Nampula, em Moçambique.
Santa Maria
Mesmo distante, irmã Lourdes busca forças em Santa Maria para seguir na missão. Em suas orações, ela não esquece de Dom Ivo Lorscheiter e de Nossa Senhora Medianeira.
“O tempo passa e três meses praticamente se foram. Eu tinha este sonho de vir para esta missão, mesmo sabendo que seria desafiador. Deus dá força e coragem. Dom Ivo e a Medianeira me inspiram muito para esta missão”, afirma.
O que mais tem chamado a atenção da irmã é a felicidade do povo de Micane. Nos encontros e nas celebrações, a comida é feita em fogo de chão e nunca falta animação.
“Mesmo com toda esta pobreza, o povo é feliz, tem muita fé e resistência. O ponto da vida dos cristãos é participar da vida da comunidade, por isso as celebrações são muito animadas e o povo caminha quilômetros para chegar até suas comunidades”, comenta a religiosa.
Lugar ideal para a irmã, 10 mil Km de SM.