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Que a opressão não tenha vez entre países irmãos – por Michael Almeida Di Giacomo

O caso “Venezuela-Guiana” e a necessidade de diálogo para manter a paz

Na obra “As Veias Abertas da América Latina”, Eduardo Galeano, logo na introdução, afirma que o nosso continente “continua trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as necessidades alheias”, onde a “estrutura da desigualdade alastra a pobreza e concentra a riqueza”. O ano era 1971.

O escritor uruguaio fala que para cada nação se atribuiu uma função, sempre em benefício da metrópole estrangeira, sob uma “infinita cadeia de sucessivas dependências – que tem muita mais que dois elos” – onde, dentro do continente, também compreende “a opressão de países pequenos pelos maiores, seus vizinhos”.

O pensamento do autor parece ser um tanto atual, um pouco do que estamos a acompanhar com a ação por parte do regime de Maduro, presidente da Venezuela, ao reivindicar a soberania sobre o território Essequibo, no nordeste da América do Sul.

Isso, pois se como diz Galeano, “a história do subdesenvolvimento da América Latina integra a história do desenvolvimento do capitalismo mundial”, a ação de Maduro, “legitimada” em plebiscito interno, nos remete ao tempo em que os exploradores europeus determinavam a jurisdição e o modo a vilipendiar nossas riquezas.

E, penso que independentemente do viés pelo qual se pretenda defender uma ou outra posição sobre a anexação ou não do território à Venezuela, ter-se-á, obrigatoriamente, como ponto de partida o domínio dos territórios na região por parte da Grã-Bretanha a partir de sua expansão colonial, desde o início do século XIX.

E, se a miséria do continente – como narrativa da nossa classe dominante – “aos que concebem a história como uma contenda não é outra coisa senão o resultado de seu fracasso” – como escreveu Galeano – a incapacidade centenária de resolver o imbróglio na região, hoje, alimenta o discurso e a prática daqueles que promovem o permanente subdesenvolvimento social e econômico da América Latina.

Assim, a reunião que irão se encontrar Nicolás Maduro e Irfaan Ali, presidente da Guiana, na próxima quinta-feira, é também a oportunidade para demonstrar que já atingimos a maioridade em relação aos nossos colonizadores/exploradores. E que o ato civilizatório de diálogo, sirva para resolvermos as questões geopolíticas do continente, sem opressão entre países irmãos. 

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15

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2 Comentários

  1. Ocorreu arbitragem em 1899 em Paris. Venezuela ficou com 10% do territorio e a então Guiana Inglesa ficou com 90%. Depois ficou independente. Depois a Venezuela tentou reabrir o caso porque mimimi. Uma reunião é só uma reunião e já se fala em uma base ianque nova. Ao que uns gritarão ‘imperialismo’. Podem gritar a vontade, nada muda.

  2. 2014. Segunda Bienal do Livro de Brasilia. Entrevistaram Eduardo Galeano. Jornal El Pais (que é, pleonasmo, de esquerda) publicou materia. O que disse sobre o Veias Abertas? “Eu não seria capaz de ler de novo. Cairia desmaiado”. “Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é chatíssima. Meu físico não aguentaria. Seria internado no pronto-socorro”. “A Veias Abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu não tinha a formação necessária”. Comentou o fato de Chavez ter dado o livro de presente para Obama. Teria sido ‘cruel’ porque o presidente ianque não conhecia o idioma. Um completo arigó, se fosse em ingles o politico americano não leria o livro. Que só tem importancia em alguns nichos de esquerda nos cafundós mais atrasados.

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