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Fila do pão – por Orlando Fonseca

Falta de padeiros, mortes em Gaza e o PIB: sim, tudo a ver!

Quem é você na fila do pão? Esta é uma frase que se tornou clichê, na mídia, em entrevistas, comentários ou memes de redes sociais. Algo a indicar um questionamento a respeito da autoridade ou do conhecimento de alguém sobre determinado tema. Os cronistas, na verdade, não se questionam a respeito disso, acostumados a dar pitaco a respeito de tudo (com ou sem autoridade).

De forma que, agora, a expressão veio à minha cabeça, em função dos assuntos que recolhi, semana passada, para esta crônica, uma vez que ao menos em três notícias que bombaram na TV o pão está envolvido: ninguém quer ser padeiro, está sobrando vaga para profissionais no país; ironicamente, as manchetes de guerra atiram, em nossa cara, mais de 100 mortos e 700 feridos na fila do pão em Gaza. Por fim, o desemprego no país caiu, o que recoloca muitos trabalhadores em outra fila, a que lhes  garante o pão de cada dia. 

Segundo um levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Panificação, no Brasil, há 140 mil vagas de padeiro abertas, as quais o mercado de trabalho no setor não tem conseguido preencher. Trata-se de uma crise inédita, que se soma a outros fatores, como o preço dos insumos, majorados nos últimos anos, devido a fatores internacionais (guerra na Ucrânia, por exemplo) e climáticos.

Apesar dos avanços da Inteligência Artificial, o pão é ainda um produto que exige humanos botando a mão na massa. Mas não é todo mundo que aprecia dormir cedo, acordar de madrugada e assumir seu posto junto aos fornos.

Em São Paulo, o Sindicato das Panificadoras criou um programa para contratar profissionais com mais de 50 anos e, em Campinas, cursos de panificação também estão abertos para gente nessa faixa etária. Para se ter uma ideia, anualmente, o Brasil consome 2,3 milhões de toneladas de pão francês. Ou seja, se as vagas não forem preenchidas vamos ter de esperar mais tempo na fila do pão.

Ironicamente, semana passada ficamos estarrecidos com as cenas que rodaram o planeta: na Cidade de Gaza, centenas de famélicos palestinos cercando caminhões com ajuda humanitária, sendo alvejados por soldados israelenses, como se a fome não tivesse a pressa que tem. Resultado: ao menos 112 pessoas mortas e 760 feridas, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas.

Como as imagens não deixam dúvidas, os números e as causas passam pela rotina das narrativas de guerra. No entanto, não deixa de ser brutal a morte de pessoas que para justamente fugir da morte por inanição, acabam encontrando a morte na fila do pão.

Entre marchas e contramarchas, inoperância de organismos internacionais, como a ONU, e passividade das autoridades das grandes potências, um cessar fogo urgente vai-se adiando, com o número de mortos cada vez maior. O que só atesta a estupidez da guerra.

Para fechar, a boa notícia que vem da economia neste início de março. A taxa de desemprego caiu para 7,4%, em um ambiente de crescimento, pois esta notícia vem acompanhada de um dado muito animador. O PIB do Brasil voltou a crescer, e, inclusive, ultrapassou a meta. Com isso, o país volta a figurar entre as 10 maiores economias do mundo.

Vivemos, no entanto, assimetrias sociais gritantes: ainda que os números de desempregados venha caindo, há muitos brasileiros que permanecem abaixo da linha de miséria. Uma das metas do atual governo é erradicar a fome, e na condição de liderança no G20, com números positivos a mostrar, cresce também a mobilização no sentido de que esteja na agenda de todos os países do grupo o objetivo de erradicar a fome no mundo.

Desse modo, pode-se esperar que o mínimo para a sobrevivência não se torne risco de vida, e que haja emprego e renda que garantam a dignidade cidadã na fila do pão.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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11 Comentários

  1. ‘[…] que garantam a dignidade cidadã […]’. O que é dignidade cidadã? Mais um amontoado de palavras ‘fofas’ que a esquerda gosta de usar e não tem definição clara. Onde vai parar? No ‘Nós não vamos colocar uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, nós dobramos a meta.’ Puro discurso vazio.

  2. ‘O que só atesta a estupidez da guerra.’ Nunca ningém disse isto antes. ‘Como sou legal! Sou contra a guerra!’

  3. ‘[…] inoperância de organismos internacionais, como a ONU, e passividade das autoridades das grandes potências, […]’. Gaza é um conflito regional, melhor que fique assim, sem interferencia de grandes potencias. Cessar fogo com o Hamas ainda ativo, com refens e centenas de Km de tuneis é muito dificil. Reforma dos organismos internacionais resolve nada, pura cortina de fumaça. Torna-los mais ‘democraticos’ é ilusão de bagrinhos. Reforma do Conselho de Segurança outra cortina de fumaça. Digamos que entre a India (que também reclama) e a Alemanha. Basta a Russia ou a China sairem e fica tudo inoperante. Vide a Liga das Nações que o Congresso Ianque não aprovou.

  4. ‘[…] na condição de liderança no G20 […] cresce também a mobilização no sentido de que esteja na agenda de todos os países do grupo o objetivo de erradicar a fome no mundo.’ Andrade fez um discurso a respeito no encontro. Repercutiu em lugar nenhum. Foi um ‘não fato’. Ninguém da a minima para Andrade aqui, vão dar la fora? Não são burros, vide a ‘fila’ PIB/IDH. Repercussão zero. Ainda mais com Macron falando m., envio de tropas da OTAN para a Ucrania, escandalo de generais alemães falando em ataque a pontes russas. Alas, pode ser que acabe a fome no mundo, vire um deserto radioativo.

  5. ‘Uma das metas do atual governo […]’ é utilizar a politica externa como cortina de fumaça. Semana passada o ex-primeiro ministro israelense Naftali Bennett foi entrevistado pelo britanico Piers Morgan. Repercutiu no antigo Twitter. O israelense chamou o Rato Rouco de idiota.

  6. ‘Apesar dos avanços da Inteligência Artificial, […]’. Euforia já arrefeceu, como aconteceu com o Bitcoin. Mas já causa desemprego em economias mais avançadas. No Brasil é como o 5G, um dia chega.

  7. ‘[…] centenas de famélicos palestinos cercando caminhões com ajuda humanitária, sendo alvejados por soldados israelenses, como se a fome não tivesse a pressa que tem.’ Situação não bem clara. Vide noticia do ‘ataque israelense ao hospital’ la do inicio. ‘Mais de mil mortos’. No final foi um foguete dos proprios palestinos que caiu no estacionamento e matou uma duzia (ou menos). O que se pode ter alguma confiança (até o momento) é que o comboio, diferente de vezes anteriores, foi atacado. Que tanques faziam a segurança do comboio e que tiros foram disparados. Não se sabe se havia quem quizesse pegar alimentos para vender depois e a causa das mortes.

  8. ‘O PIB do Brasil voltou a crescer, […] Com isso, o país volta a figurar entre as 10 maiores economias do mundo.’ É a falacia do ‘lugar na fila’. Primeiro lugar é da Ianquelandia que é 20 vezes maior. China em segundo mais de 10 vezes maior. Outros na frente: Japão (pouco maior que Goias), França (uma Bahia), Alemanha (outro Goias), Reino Unido (menor que o RS), Italia (pouco maior que o RS). Agora é colocar o indice de desenvolvimento humano: Brasil cai la para o lugar 90 (por aí). Lei de Ricupero só funciona com os muito trouxas.

  9. Da seria serie ‘propaganda de todos governos’. ‘A taxa de desemprego caiu para 7,4% […]’. Qual a definição de desempregado? Pessoa acima de 14 anos que não têm trabalho e procuram oportunidade. Estudantes não entram na conta. Informais e aplicativos (ao menos muitos deles) idem. Os quase 11 milhões de nem-nem contribuem.

  10. As 140 mil vagas é só o numero final. Diz nada. Não tem distribuição geografica, salario, etc. Alas, não só nas padarias falta gente, no agro e outras areas também. Indiretamente leva a concentração em grandes empresas.

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