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Marielle e os mortos que não estão seguros – por Leonardo da Rocha Botega

“A mentira é a única saída para criminosos que temem a memória dos mortos”

“Só terá o dom de atiçar no passado na centelha da esperança aquele historiador que tiver apreendido isto: nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer”.

A frase acima, escrita pelo filósofo Walter Benjamin em seu texto “Sobre o conceito de História”, tem martelado as minhas reflexões desde o último dia 24 de março, quando os prováveis mandantes do assassinato de Marielle Franco foram presos. Escrita sob o terror do Nazifascismo, a afirmação desperta não apenas a eterna pergunta do “como poderia ter sido?”, mas também uma reflexão sobre o que foi e o que é.

As noticiais sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes mal chegavam aos meios de comunicação, no dia 14 de março de 2018, e um vendaval de mentiras começava a inundar as Redes Sociais. Ex-mulher do traficante Marcinho VP, eleita pelo Comando Vermelho (que a teria matado por traição), defensora de bandidos foram (e são) algumas das mentiras que circularam (e circulam) impulsionadas, principalmente, por grupos ligados à extrema-direita brasileira.

Todas estas mentiras foram caindo uma a uma, à medida que a própria figura de Marielle Franco foi ficando mais conhecida no mundo todo. Para além de seu assassinato político, Marielle se tornou um símbolo da luta pelos Direitos Humanos em um momento onde o Brasil vivenciava a negação oficial das pautas dos Direitos Humanos. Um símbolo incômodo para aqueles que buscavam impor ao país todo o modelo político-miliciano que hoje domina o Estado do Rio de Janeiro.

Marielle Franco representa um paradigma afrontoso ao status quo dos controles territoriais, do uso das funções públicas e da violência paraestatal para o enriquecimento ilícito e a perpetuação de clãs político-milicianos. Não à toa, os presos foram um deputado, Chiquinho Brazão, um membro do judiciário, Domingos Brazão, e um delegado de polícia, Rivaldo Barbosa. Rivaldo chegou, inclusive, a consolar a família logo após o crime. Uma demonstração do grau de conforto que os criminosos estatais possuem quando tem certeza do controle do poder.

A aceleração das investigações, desde a mudança de governo no último ano, tem revelado as entranhas monstruosas das alianças que envolvem as estruturas corruptas do Estado, o uso manipulado da fé e o uso da força em um único projeto de poder. A lenta “investigação” do caso, por longos cinco anos, era parte deste projeto. A destruição da imagem de Marielle Franco também.

“Nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer” não é apenas uma reflexão escrita em um momento onde o terror impunha o desespero. É a revelação de um perigoso método político. Um método utilizado pelos agentes da Ditadura Civil Militar que se instaurou no Brasil sessenta anos atrás. Wladimir Herzog, Carlos Lamarca, Carlos Marighella, João Goulart, Juscelino Kubitschek foram algumas das vítimas deste método.

Não é mera coincidência que aqueles que defendem hoje o Golpe Civil-Militar de 1964, sejam os mesmos que propagam as mentiras sobre as investigações e o assassinato político de Marielle Franco e Anderson Gomes. Eles precisam da mentira. A mentira é a única saída para os criminosos que temem a memória dos mortos quando essa é transformada em esperança nas lutas dos que ousam manter viva a chama da justiça. 

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

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6 Comentários

  1. ‘[…] esperança nas lutas dos que ousam manter viva a chama da justiça.’ ÓÓÓÓÓÓ. Quanta ‘grandiloquencia’! Quase não é um chavão! Kuakuakuakuakuakuakua! Podem continuar ‘lutando’! Kuakuakuakuakuakua! Dou a maior força. Sugiro fazer umas camisetas. E colocar umas faixas em lugares de grande visibilidade. Kuakuakuakuakuakua!

  2. ‘Eles precisam da mentira.’ Lenin: ‘Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é’. Para isto não precisa ir longe. Continuam falar na ‘fabrica de chips’ do RS que já era ultrapassada quando foi recebida de presente. Ou na ‘reindustrialização do Brasil/RS’ como se pudesse colocar industria de qualquer coisa em qualquer lugar e fosse facil como abrir uma carrocinha de cachorro quente.

  3. ‘[…] um membro do judiciário, Domingos Brazão,[…]’. Não é membro do judiciario. É conselheiro do Tribunal de Contas do RJ. Orgão auxiliar do legislativo. Foi eleito com 61 dos 66 votos possiveis da AL do RJ. Foi nomeado pelo Pezão.

  4. Walter Benjamin, Escola de Frankfurt, neomarxismo. Escreveu ‘Sobre o conceito de historia’ em 1940. Não é possivel ensinar truque novo para cachorro velho. Ou comunista. Que muitos dizem ‘não existir mais’. Gleisi Hoffman, fonte é o Estadão, foi a Cuba assinar acordo de cooperação e intercambio do PT com o Partido Comunista Cubano. Semelhante ao que assinou com o Partido Comunista Chines ano passado. Lembrando que a economia cubana foi para o esgoto e o modelo economico chines quebrou.

  5. Maioria da população já não perde tempo com o discurso da esquerda. Ultrapassado. Têm que ficar ‘causando’ para ter alguma atenção. Simples assim.

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