Areias do Tempo – por José Renato Ferraz da Silveira
E então... “Qual Brasil queremos deixar para nossos filhos, netos e bisnetos?”
“Que te ignorem, que te ataquem, que te intimidem, mas que nunca te silenciem”.
Bertrand Russell
O Tempo é implacável. Nem rochas o podem enfrentar. Nem porta de aço ao Tempo é impermeável? Nem o belo do Tempo pode se ocultar?
O Tempo consome vidas. O Tempo consome desejos. O Tempo enterra sonhos e expectativas. O Tempo revela que o ser humano não basta a si mesmo. Ele não sobrevive no vazio. Somos simples elo na cadeia da vida. Dependemos de outras espécies vivas. Dependemos da atmosfera, dos oceanos, das águas, do universo material a ser “hominizado” na visionária expressão de Teilhard de Chardin.
O Tempo revela a Verdade escrita por Thomas Jefferson – na Declaração da Independência dos Estados Unidos – o homem tem direito inalienável à vida, à liberdade e “à busca da felicidade”.
O que é essa misteriosa “busca da felicidade”? Na atualidade, a “busca da felicidade” está ligada ao direito ao desenvolvimento, ao bem-estar e a prosperidade para todos. Neste sentido, não podemos sobreviver num mundo onde um quarto é próspero e três quartos miserável. “Os direitos humanos pressupõem, como direito-síntese, o direito ao desenvolvimento, à realização integral de cada um e de todos” (Rubens Ricupero).
Pensemos no Brasil. Como podemos construir um projeto de país sem definir os objetivos com clareza? Se não sabemos identificar adequadamente os fins, é provável que nos enganemos na escolha dos meios. Por exemplo, no período da ditadura militar, falava-se em Brasil grande, sinônimo de potência econômica, suporte do poder militar, com seu corolário de programa nuclear, de indústria de armamentos.
E hoje? Políticas de integração e pleno emprego? Medidas de redistribuição de renda, de elevação cultural? Medidas de redução substancial das desigualdades de renda e oportunidade herdadas e agravadas ao longo do Tempo? Medidas para conter o desmatamento, as queimadas e privilegiar a ideia de desenvolvimento sustentável? Qual ou quais projetos queremos construir para o Brasil de nossos sonhos? Qual Brasil queremos deixar para nossos filhos, netos e bisnetos?
As palavras do dominicano padre Lebret, fundador da Economia e do Humanismo, deveriam se tornar um mantra no nosso dia a dia: “colocar em nosso coração e sobre nossos ombros a miséria do povo (…). Desde que a gente começa a se preocupar seriamente com a miséria, ela chove em volta de nós, ela nos submerge (…). Quem quiser ter muitos amigos, não precisa senão por se a serviço dos abandonados, dos oprimidos (…). O contrário da miséria: não a abundância, mas o valor. O principal não é produzir riquezas, mas valorizar o homem, a humanidade, o universo”.
O Tempo não espera ninguém, conforme o cancioneiro.
(*) José Renato Ferraz da Silveira é Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM
‘[…] padre Lebret, fundador da Economia e do Humanismo […]’. Acredito que existe um ‘e’ a mais na afirmação. O resto é a bobajada de sempre, utopias infantis que a esquerda não cansa de repetir em textos genéricos.