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As catacumbas na história – por Luiz Carlos Nascimento da Rosa

“Na Professor Braga ela subsistia sob oito andares da Casa do Estudante”

Historicamente, catacumbas eram canais subterrâneos usados para serem descartados indesejados cadáveres. Catacumbas foram cemitérios clandestinos feitos para personas non gratas na sociedade de seu tempo. Como hoje, por incrível que pareça, os excluídos são, mesmo em vida, seres humanos literalmente descartáveis e pela dinâmica da nossa sociedade do consumo e pelos cânones do mundo das trocas. Somos descartáveis para a vida egoísta que caracteriza o mantra Capital.

Lembrando das recentes Olimpíadas de Paris, na cidade mais turística do mundo, as catacumbas eram um profano lugar para descartar indesejados e desprotegidos corpos que não possuíam as benesses do dinheiro. Era o local daqueles que não possuíam títulos ou qualquer papel humanamente social. É nessa mesma Paris que existe uma estética da morte e da putrefação da carne humana.

Mas, não quero falar de Arqueologia e, sim, de História.

Na rua Professor Braga existia uma moderna Catacumba. Ela subsistia sob oito andares da Casa do Estudante II. Além de frequentar a Catacumba, dividia, no quarto 81, solidariamente, o espaço com amigos e colegas da UFSM. Havia muito preconceito com os moradores das Casas de Estudantes, mas não ligávamos a mínima para isso e, para a tristeza dos elitistas, fomos muito felizes desfrutando esse solidário espaço.

Era um espaço do Diretório Acadêmico Central da UFSM, conhecido como DCE (Diretório Central dos Estudantes). Lá bebíamos barato e escutávamos Pink Floyd e Led Zeppelin. Curtíamos música de qualidade. Consolidei minha consciência política fazendo parte dos movimentos organizados pelo nosso Diretório Central.  Quantos amores perdi na Catacumba do DCE?

A Professor Braga e o DCE eram  lugares lúdicos de encontros. Não tínhamos preocupação de ter ou não ter dinheiro. Nos parcos horários de folga dos estudos queríamos estar juntos para partilhar as miserabilidades e, solidariamente, projetar um olhar no vir a ser.

A vida é assim. Nos apresenta o possível e fazemos dela o necessário para a possibilidade de um futuro melhor fundado pela generosidade, solidariedade e o amor. Hoje penso que o amor que alimentávamos na alma era coletivo. Hoje penso que o que nos cativava era o amor universal. Nas escadas da Catacumba do DCE queríamos amar, de forma singular, a universalidade da humanidade…

(*) Luiz Carlos Nascimento da Rosa é professor aposentado do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM

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8 Comentários

  1. Resumo da opera II, a missão. ‘Nos apresenta o possível e fazemos dela o necessário para a possibilidade de um futuro melhor […]’. Possivel é produzir textos, proferir discursos e esfregar a barriga na mesa. Preferencialmente no ar condicionado. Video antigo. Governo Dilma, a humilde e capaz, no Planalto. ‘Professor’. Graduado em historia, depois migro para sociologia. Tem um livro de poesias intitulado ‘Meta Amor Fases’. https://www.youtube.com/watch?v=-Y-2aUP1aaE

  2. Resumo da opera. ‘[…] generosidade, solidariedade e o amor.’ ‘[…] o amor que alimentávamos na alma era coletivo.’ ‘[…] o que nos cativava era o amor universal.’ ‘[…] queríamos amar, de forma singular, a universalidade da humanidade…[…]’. Como são ‘evoluidos’ os comunas! Falam sempre a mesma coisa” De forma diferente é claro!

  3. ‘Não tínhamos preocupação de ter ou não ter dinheiro.’ Acessivel. Até os ‘elitistas’ davam uma passada por lá.

  4. ‘Era um espaço do Diretório Acadêmico Central da UFSM, conhecido como DCE […]’. Que tinha sua serventia. Saida do onibus da Excal era em frente ao SENAC. Quando o fiscal da prefeitura e o da empresa não conseguiam mais socar gente dentro do onibus e ele não partia alguém dizia: ‘chama alguém la no DCE’. Vinha alguém e fechava o tempo.

  5. ‘Havia muito preconceito com os moradores das Casas de Estudantes, […]’. Habilidade vermelha de ler o pensamento dos outros. Alas, na Boate do DCE o pessoal da CEU tinha uma vantagem, era descer e entrar na festa.

  6. É uma generalização. ‘Catacumbas foram cemitérios clandestinos feitos para personas non gratas na sociedade de seu tempo.’ Império Romano perseguindo cristãos. Também. Igreja Ortodoxa tinha as suas durante o periodo stalinista.

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