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Imprensa precisa ir além do óbvio com Musk. O que ele pensa sobre Mandela? – por Carlos Wagner

“O berço onde nasceu é um bom começo” para entender o dono do X. Que tal?

Ao contrário das previsões catastróficas das redes sociais da extrema direita, o Brasil não voltou à era analógica nos dias seguintes à retirada do ar do aplicativo X (antigo Twitter). Na sexta-feira (30/08), uma intimação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão do aplicativo no país.

De maneira resumida, a intimação aconteceu porque a empresa não tem representante no Brasil e não pagou as multas que lhe foram aplicadas por ter desrespeitado decisões do STF, mantendo no ar perfis de usuários envolvidos com atentados à democracia. Toda essa bronca aconteceu porque o proprietário do X, o bilionário Elon Musk, 53 anos, resolveu não só descumprir as determinações da Justiça do Brasil como também encher de desaforos o ministro Moraes.

O ministro não é a primeira autoridade que o empresário ataca. Faz parte de uma longa lista de desaforados, em que aparecem pessoas como o primeiro-ministro da Inglaterra, Keir Starmes, 62 anos. Também há uma lista de personalidades para quem Musk vive rasgando elogios, entre elas o ex-presidente e candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), 78 anos, e o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL), 69 anos.

A bronca do empresário com o STF ainda está longe de terminar. E tem merecido atenção diária da imprensa ao redor do mundo – tudo está internet. Lembrei-me do caso para colocar em discussão “um canto escuro” dessa situação que vem passando batido pela imprensa. Vamos a nossa conversa.

Durante as quatro décadas que trabalhei em redação, na maior parte do tempo estive envolvido com reportagens sobre conflitos agrários, ocupação de fronteiras agrícolas e crime organizado nos países vizinhos ao Brasil. Nunca me interessei muito por assuntos fora da minha área. Até por falta de tempo.

No caso de Musk, fiquei interessado nele quando li que havia nascido na África do Sul. Por quê? Na década de 90, fui enviado a Angola, na África, para produzir matérias sobre a guerra civil que se arrastava havia mais de duas décadas. Fui enviado porque o Brasil vendia armas, munição, veículos e novelas para um dos lados, o governo que era dirigido pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Em Luanda, capital do país, existia um grande mercado a céu aberto chamado Roque Santeiro, título de uma popular novela da Rede Globo (exibida entre 1985 a 1986), escrita por Dias Gomes (1922-1999) e Aguinaldo Silva, 81 anos. O MPLA travava uma guerra contra a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), uma organização anticomunista. Falar com o pessoal do governo foi tranquilo. Porém, tive dificuldades para entrar no território dominado pela UNITA.

Tive sorte de ser apresentado por um colega americano ao pessoal da Embaixada da Inglaterra. Foram eles que me colocaram dentro de um avião das Nações Unidas (ONU), cheio de jornalistas do mundo inteiro, que estava indo para a província de Huambo, um estado de Angola dominado pela UNITA. No aeroporto de Huambo, os guerrilheiros da UNITA não queriam deixar eu e o fotógrafo descermos do avião por sermos brasileiros.

Os colegas pressionaram e conseguimos desembarcar da aeronave, mas vigiados de perto por um guerrilheiro com um fuzil AK-47. A conversa começou a rolar e o ambiente foi ficando tranquilo. Foi ali que, pela primeira vez, ouvi de um dirigente da UNITA a referência ao Batalhão Búfalo. Cheguei a engatilhar uma pergunta sobre o assunto, mas desisti ao levar uma pisada no pé de um colega chinês.

Soube depois que o batalhão funcionava na África do Sul, que na época vivia sob o apartheid, o regime de segregação racial que separava os brancos da maioria negra da população. O Batalhão Búfalo tinha como missão incentivar e manter a guerra civil de Angola. Na década de 80, houve um movimento mundial contra o apartheid, que envolveu até os roteiristas de Hollywood.

Ficou famoso o filme Máquina Mortífera, uma comédia policial que virou uma bem-sucedida franquia e tinha como personagens principais os policiais Martin Riggs (Mel Gibson, 68 anos) e Roger Murtaugh (Danny Glover, 78 anos). Foram quatro filmes, o segundo sobre o apartheid da África do Sul.

O apartheid acabou em 1991. Em 1994, foi eleito presidente da República Nelson Mandela (1918-2013), advogado, poeta, escritor, líder rebelde, prêmio Nobel da Paz (1993) e preso político durante 27 anos. Um ano depois, em 1995, ele usou a Copa do Mundo de Rúgbi, realizada na África do Sul, para unir os brancos e os negros do país. A história virou o filme Invictus (2009), do diretor Clint Eastwood, estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon.

Musk nasceu em 1971, em Pretória, a capital administrativa da África do Sul, onde viveu a infância e parte da adolescência. O seu pai, o engenheiro Errol, 78 anos, ficou rico com a exploração de pedras preciosas. A África do Sul não é apenas mais um país entre tantos outros. É uma terra com uma história muito rica em lutas populares.

O que o bilionário Musk pensa a respeito do berço onde nasceu? Por que isso interessa ao nosso leitor? Musk é empresário de um novo tempo, onde as comunicações levam segundos para dar a volta ao mundo. Levando mentiras, intrigas e discurso do ódio livremente. Li um artigo interessante sobre o assunto de um pensador americano. Ele adverte que o empresário flerta com forças políticas de extrema direita que acredita que pode manter sob controle.

A mesma crença que tiveram os grandes grupos econômicos da Alemanha e da Itália nos anos 30. Eles apostaram que podiam dominar Adolf Hitler, na Alemanha, e Benito Mussolini, na Itália. E deu no que deu. Na Segunda Guerra Mundial, que deixou um salto de 70 milhões de mortos. Em nome do bom jornalismo é necessário ir além do óbvio para saber o que o bilionário pensa sobre a realidade que o cerca. O berço onde nasceu é um bom começo.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 73 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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13 Comentários

  1. Resumo da opera II. Até onde vai o voo de galinha bastante baixo da economia? Não vai durar até 2026. Há um cheiro de côcô no ar. Final de agosto Casas Bahia, Americanas e Carrefour fecharam 750 lojas no pais. Falam em 35 mil afetados. Nisto poucos prestam atenção.

  2. Resumo da opera. Por conta do que está errado, ao inves de corrigir, objetivo é fazer recuar as redes sociais na esperança de fazer com que as coisas voltem a ser como antes. Vide empresas de mida querendo remuneração do Google mesmo o link direcionando para acesso pago (famoso paywall). Empresa agora vai deixar os links lá na rabeira e quem via responder as buscas será uma inteligencia artificial. Vide Pablo Marçal em SP. ‘Jornalistas’ não conseguem contrapor as tecnicas do sujeito, não tem treinamento ou capacidade cognitiva para tanto. Querem que ‘alguém com poder faça alguma coisa’. Ja começaram a martelar nos ‘cortes’ do Youtube num contexto eleitoral (será a proxima vitima do Xandão?). ‘Campanha’ na midia também martela os ‘influencers do mal’ (Instagram). Alas, temos que proibir a importação de Porsche no Brasil, atropela gente.

  3. ‘A mesma crença que tiveram os grandes grupos econômicos da Alemanha e da Itália nos anos 30. Eles apostaram que podiam dominar Adolf Hitler, na Alemanha, e Benito Mussolini, na Itália.’ O Marxismo e a ‘explicação’ economica que é o unico fator. Nazismo era dirigista na economia, opondo-se ao liberalismo (onde o Estado só regula). Itália fascista também era intervencionista. Mussolini vem do socialismo, mas troca a ‘luta de classes’ pela ‘colaboração de classes’. NSDAP tinha um ‘socialista’ (dos alemães, fator racial) no meio. Era anti-comunista, anti-burgues, anti grandes corporações e anti-capitalista. Nacional desenvolvimentismo tupiniquim tem sotaque italiano por conta do Gêgê. Logo trata-se de uma tentiva de desqualificação baseada na idéia de que todos os demais são mais ignorantes que os vermelhos. Justamente ai que falha.

  4. ‘ Li um artigo interessante sobre o assunto de um pensador americano.’ Publicado não se sabe onde, escrito por não sei quem. Truquezinho velho, a pessoa indeterminada afirma o que o autor (ou interlocutor) pensa/defende mas para ‘fortalecer’ usa um apelo a autoridad, falacia, capenga.

  5. ‘[…] onde as comunicações levam segundos para dar a volta ao mundo. Levando mentiras, intrigas e discurso do ódio livremente.’ Não levam divulgação cientifica, informações corretas, avisos importantes, etc. Só coisa ruim. Vamos acabar com a internet!

  6. ‘[…] tem merecido atenção diária da imprensa ao redor do mundo […]’. Não, mesmo quando mencionam o assunto é muito marginalmente. Tem eleição nos EUA, guerra no Oriente Médio e na Ucrania. Alas, opinião de muitos la fora, briga de Musk com Xandão (não com o STF, esconder atras da instituição, apesar do corporativismo, é truquezinho) é só um ato secundário dentro de uma briga maior.

  7. Segunda intimação. Via rede social. Carta rogatória é coisa da Globo. Para Musk que preside o conselho de administração (grosso modo). A CEO chama-se Linda Yaccarino. Que ja trabalhou no governo Trump e no governo Biden.

  8. Intimação há coisas que não são divulgadas corretamente. Representante legal renunciou no inicio do ano. Novos assumiram. Versão que existe por aí, andaram intimando o representante antigo. Descoberto o erro tentaram a nova, uma advogada. No endereço errado. Com o endereço correto indicado na Junta Comercial. Conclusão (versão resumida): representante legal está se ocultando para não ser intimado. Dai veio intimação da representante no CPF e não no CNPJ (ou algo parecido). Ameaça de prisão etc. Natureza juridica da representação não está clara (CLT, estatutaria, etc.). Fato é que não apita nada na plataforma. Ameaça de prisão foi a gota d’agua. ‘Vamos fazer a representante de refem até as ordens judiciais serem cumpridas e as multas pagas’.

  9. ‘Ao contrário das previsões catastróficas das redes sociais da extrema direita, o Brasil não voltou à era analógica […]’. Previsões de quem? Não vi nenhuma neste sentido. Até porque a VPN está comendo solta. Meios de comunicação entregaram contas para ‘correspondentes no exterior’. Cereja do bolo : ‘juristas’ afirmando que a decisão não é para punição geral, é só ‘para quem propaga fake news, ataca instituições, etc.’.

  10. Que tal esta? Kuakaukauakuakuakua! Autor meteu um assunto sem pé nem cabeça para incluir a historia da vida dele que interessa meia duzia de gatos pingados! Kuakuakuakuakua!

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