O Brasil sufocado – por Leonardo da Rocha Botega
Barbárie ambiental põe em xeque modelo de desenvolvimento adotado no país
Estamos vivenciando, ao longo das últimas semanas, um dos piores momentos da longa trajetória de crimes ambientais no Brasil. Entre os dias primeiro e doze de setembro, o país registrou quase cinquenta mil focos de incêndios, o maior número desde 2007. As fumaças das queimadas chegaram a encobrir 60% do território nacional. Uma verdadeira barbárie ambiental que coloca em xeque o modelo de desenvolvimento que país adotou ao longo das últimas décadas.
Desde a metade dos anos 1970, com o fracasso do “Milagre Econômico” e com o advento da chamada “Revolução Verde”, os blocos que se revezaram no poder empurraram a economia nacional para um único caminho: o agronegócio exportador. Um caminho facilitado pela falência do desenvolvimentismo nos anos 1980 e pela hegemonia das concepções neoliberais desde a eleição de Fernando Collor de Mello para a presidência em 1989.
Este caminho único veio ao encontro de um discurso, muito presente na formação do Brasil moderno, segundo o qual o país, de vasta expansão territorial, possui uma série de vazios improdutivos. Tal discurso, que ganhou forma oficial na Era Vargas, balizou os projetos de “integração nacional” de Juscelino Kubistchek e da Ditadura Civil-Militar. A proposta era a expansão das fronteiras produtivas do país independente do que estivesse pela frente, fossem os povos indígenas ou as próprias florestas.
No rastro dos novos espaços urbanos, das novas estradas e dos novos latifúndios, biomas inteiros foram sendo reduzidos. Mesmo assim, o país ainda manteve preservada boa parte dos biomas que ocupam esta área de expansão desenfreada. São justamente estes biomas, Amazonia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, que tem sofrido os principais ataques nos últimos anos. A maioria destes ataques partem justamente de setores ligados ao agronegócio exportador.
Estes mesmos setores promoveram em 10 de agosto de 2019, oitos meses após o início do governo Bolsonaro, o “Dia do fogo”, uma série de incêndios florestais concomitantes nos municípios de Altamira e Novo Progresso, no sudoeste do Pará. Naquele dia, a incidência de focos de incêndio nos dois municípios aumentou em 300%. Posteriormente, a Polícia Federal descobriu que os incêndios criminosos haviam sido combinados, através das redes sociais, por fazendeiros e empresários.
O “Dia do Fogo”, acobertado pela política governamental de “passar a boiada” da desregulamentação das normas ambientais, foi um alerta do potencial destrutivo destes grupos sociais. Outro alerta são os constantes massacres que vem ocorrendo nos últimos anos contra as populações indígenas, sobretudo, nos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, onde inúmeras aldeias têm sido atacadas por milicias à serviço dos fazendeiros.
Enquanto isso, o lobby do agronegócio segue firme e forte no Congresso e na mídia. No Congresso, a bancada ruralista, aliada ao centrão e à extrema-direita, procura avançar inúmeras medidas como a eliminação da proteção de toda vegetação não florestal no país, o esvaziamento do poder do IBAMA, a PEC das praias, o Marco Temporal e a anistia aos devastadores. Ao todo são vinte e cinco projetos de lei e três propostas de emendas constitucionais que tramitam no Congresso com forte potencial de destruição ambiental.
Na mídia, o lobby ganha forma nas propagandas com o slogan “O agro é pop”. Talvez até seja, afinal, como diz a música dos Engenheiros do Hawaii, “o pop não poupa ninguém”. O agro não poupa a floresta. Não poupa os povos indígenas. Não poupa os trabalhadores, sendo recordista no índice de escravizados contemporâneos. Não poupa a democracia, a maior parte dos financiadores do 8 de janeiro são do agro. Não poupa sequer o ar que respirados. O agro tem sufocado o Brasil. Até quando vamos tolerar isso?
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Baboseira de sempre. Distorções, invencionices. JBS virou ‘campeã nacional’ em qual governo? Pode continuar achando ruim. Não muda nada.
E o negacionismo campeia solto no País e também aqui na nossa aldeia. Inclusive nesse espaço, não demora aparece um “iluminado” dizendo que “não é bem assim”.