Comentaristas falam em politização da questão “apagões” da Enel em SP. Ué, mas não é isso mesmo? Ainda que a população não tenha alcance para entender, isso resulta da opção por um modelo de gestão pública, oriunda do pensamento neoliberal, o estado mínimo. Aliás, na contramão do mundo, em que quase 900 cidades ao redor do planeta reestatizaram os serviços de energia e gestão da água.
Assim como os serviços entram em colapso, por causa da emergência climática, também existe um apagão que acontece nas mentes de uma boa parcela da população. Aquela que escolhe deliberadamente viver na ignorância. Diante de um período eleitoral, em seus últimos dias antes do segundo turno, é importante acender aquela luzinha de alerta e perceber que as coisas estão interligadas.
Não é de hoje que o tema do tamanho do Estado vem à tona no debate político. Não nos esqueçamos que, ao tempo em que o Rei Luís XIV declarava “o estado sou eu”, os cidadãos iluminados (sim, o Iluminismo francês) colocaram em marcha aquela que talvez seja a mais profunda das revoluções. O mundo já havia passado pelo feudalismo, pelo absolutismo dos déspotas e dos déspotas esclarecidos, e agora o povo queria a república e a democracia.
Bem, por este tempo também tomava corpo o pensamento do liberalismo econômico, em que o Estado (que havia sido até ali o rei) era o proprietário e o maior beneficiário das riquezas. A revolução burguesa ganhou força com as revoluções industriais, gerou mais riqueza e foi, aos poucos, escanteando a massa de trabalhadores. Enfim, surgiram os movimentos proletários, anarquistas e socialistas (no XIX); virou o século e vieram as guerras mundiais, a guerra fria, a queda do muro de Berlim, a queda das torres do World Trade Center (início do século XXI).
Um pouco antes disso, ainda na década de 80, do século passado, ressurgiu o tema do tamanho do Estado, agora sob os preceitos do neoliberalismo. Bem, é bastante coisa para estudar e entender, mas seria bom dar uma passada de olhos na História, porque só ela explica os atuais descontentamentos da população paulista com os apagões. Muitos países já deram um jeito nisso.
Conforme aponta um estudo do Instituto Transnacional (TNI), sediado na Holanda, de 2000 a 2019, 312 cidades em 36 países reestatizaram seus serviços de tratamento de água e esgoto. Entre elas, Paris, Berlim, Buenos Aires e La Paz, e muitas outras no Japão, Índia, Canadá e Estados Unidos. E prestem atenção neste último citado, referência para o sistema capitalista, figura na terceira posição do ranking, tendo registrado 67 reestatizações no período monitorado.
Atualmente, cerca de 90% dos sistemas de água no mundo são de gestão pública, houve mais de 1.400 casos de reestatização de serviços públicos. Esses dados podem ser verificados no banco de dados coordenado pelo TNI e pela Universidade de Glasgow (Escócia).
O que estamos vendo é que as privatizações (baseadas no tal neoliberalismo), havidas desde os anos 80, se mostraram ineficazes quanto à ampliação e melhoria do serviço. As empresas estavam muito mais preocupadas em distribuir dividendos do que investir na capacidade de oferecer o produto aos cidadãos. Essa é a regra básica da acumulação capitalista: primeiro vem o lucro, depois a provisão adequada do serviço e a saúde da população.
Os casos recentes de reestatização consistem em respostas a essa dinâmica dos mercados. A Enel não tem descontentado apenas os paulistas. No Chile, um tribunal de Santiago condenou a empresa Enel a indenizar 127 mil clientes, resultando em uma quantia que soma 8 bilhões de pesos. Diante da crise, o presidente Gabriel Boric anunciou que avalia a revogação da concessão elétrica da empresa italiana.
Portanto, é bom o eleitor ficar atento, mesmo em uma votação municipal. O que está em jogo é o tamanho do estado e a prioridade entre a lucratividade ou a eficácia dos serviços essenciais. No século das luzes, a revolução francesa resultou do pensamento Iluminista, ou seja o uso da razão, o que pode ajudar, nos tempos atuais, para dirimir o apagão intelectual (e seu sintoma colateral mais severo o apagão ideológico).
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera III. Papinho de neoliberal, Estado Minimo, é conversa da decada de 80. Bolhas. Velharada comunista. Depois abstenção é alta e não gostam. Depois levam lambada na eleição e não gostam. Ideologia que já não explica o mundo ou é irrelevante.
Resumo da opera II, a missão. Exemplo. Falam em ‘investimento’ na educação. Educação isto e aquilo. Jogam dinheiro em cima. Dai de cada 100 reais 99 ficam na burocracia no meio do caminho. Setor publico é assim.
Resumo da opera. Deng Xiao Ping disse ‘Não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato’. As coisas teriam que funcionar. População brasileira não tem pode aquisitivo por motivos diversos. Quer pagar duas merrecas e serviço nivel Suiça. Obvio que não. Sem levar em conta a esculhambação.
Para não deixar de falar nas flores. Existe o fator falta de vergonha na cara. Um senador do centro-oeste, depois de assinado o contrato de concessão, pressionando a empresa para instalar um ramal ‘turistico’ numa determinada região. ‘Por fora’, do proprio bolso. SM na duplicação da 287 brigou, via politicos, para incluir a Faixa Nova (votos da UFSM). Só isto importava. Não levou e o contrato foi assinado. Dai começou a briga eleitoreira de duplicar pelas duas pontas. Depois do lugar das praças de pedagio. Depois do valor do pedagio. Enchente levou pontes, não querem pagar pedagio. Ou seja, terceiros, preferencialmente a empresa (que não pode ter lucro, gananciosa, tem que ter prejuizo) tem que pagar a resolução dos problemas dos santamarienses. Alas, na aldeia existe a falsa noção de que a oferta provoca a demanda. Confundem necessidade com oportunidade. Tudo muito ‘racional’.
‘Essa é a regra básica da acumulação capitalista: primeiro vem o lucro, depois a provisão adequada do serviço e a saúde da população.’ No capitalismo empresa que não resolve o problema do cliente quebra. Clientela abandona o negocio. Serviços publicos concedidos, incluindo saúde, são responsabilidade do Estado. Ele tem que fiscalizar e não faz direito (Brasil, bom esclarecer), o que é mais fácil. Vai querer prestar o serviço que entregou para a iniciativa privada porque faltava capacidade/competencia? Que é mais dificila que fiscalizar?
‘[…] o que pode ajudar, nos tempos atuais, para dirimir o apagão intelectual (e seu sintoma colateral mais severo o apagão ideológico).’ Problema da ideologia é o descolamento da realidade. ‘Estado’ é uma entidade etérea pairando no ar. Platonices. No Brasil o ensino estatal é meia boca, a saude estatal é meia boca (qualquer melhora no poder aquisitivo resulta em plano de saude privado; que não é muito melhor), segurança é meia boca. Tudo muito caro, o que arrecadam de tributos é uma grandeza.
‘ No século das luzes, a revolução francesa resultou do pensamento Iluminista, ou seja o uso da razão, […]’. So funciona se as pessoas forem minimamente inteligentes.
‘O que está em jogo é o tamanho do estado e a prioridade entre a lucratividade ou a eficácia dos serviços essenciais.’ Quando a Corsan era estatal ninguém reclamava dela? Falta de agua na região oeste? Em Camobi? E os buracos nas ruas? Levando em conta que os serviços já eram majoritariamente terceirizados e a sede da empresa é em POA onde não fornece agua.
‘[…] é bom o eleitor ficar atento, mesmo em uma votação municipal.’ Entre seis e meia duzia nada muda. Vide Corsan. Era estatal e não entregou, virou privada. Fiscalizar e cobrar é papel do Estado.
Basico, Se acontecer um vendaval numa cidade com 12 milhões de habitantes com muitas arvores nas ruas, postos de gasolina, caixas d’agua mal fixadas, etc. não importa se a empresa for estatal ou privada, vai ter muita dor de cabeça. Em ambos os casos não haverá um numero infinito de equipes para tirar o entulho, retirar as arvores e consertar a rede num espaço curto de tempo. A conta da energia seria proibitivamente alta.
‘O que estamos vendo é que as privatizações (baseadas no tal neoliberalismo), havidas desde os anos 80, se mostraram ineficazes quanto à ampliação e melhoria do serviço.’ Corsan foi privatizada em 2023. Tinha renovado contrato com SM em 2018. Pergunta, desde quando falam em esgoto em Camobi? O que estava previsto no contrato anterior tinha sido cumprido?
‘Entre elas, Paris, Berlim, Buenos Aires e La Paz, e muitas outras no Japão, Índia, Canadá e Estados Unidos.’ Supondo que seja verdade, melhorou? Porque a historia não é ‘reestatizaram’, é ‘reestatizaram e resultou em a, b, c, etc’.
Bobajada historica, o que interessa se Luiz XIV gostava de laranjada ou de suco de uva?
‘[…] quase 900 cidades ao redor do planeta reestatizaram os serviços de energia e gestão da água.’ Por motivos diversos. Em alguns lugares elegeram politicos do PSOL deles e por motivos ideologicos aconteceu a reestatização.
‘[…] isso resulta da opção por um modelo de gestão pública, oriunda do pensamento neoliberal, o estado mínimo.’ Não só por conta de furacões o sistema de energia de Cuba virou um vagalume. Venezuela teve blackouts em 2019. Na Venezuela ocorreram dois em agosto deste ano, um atingiu 12 estados, outro 20. Algumas areas ficaram mais de 20 horas sem energia. Alas, Alfredo López Valdés, ministro da energia cubano, sugeriu que os habitantes comprem seus proprios paineis solares para ficarem independentes do sistema eletrico nacional. Bota neoliberalismo nisto! Kuakuakuakuakua!
‘Ainda que a população não tenha alcance para entender,[…]’. Preconceito de alguns ‘diplomados’, tanto da esquerda quanto do centro e da direita. Os bacharéis não são tão ‘inteligentes’ e ‘espertos’ quanto acham e o pôvú não é tão burro.
Kuakuakuakuakua! Esta é para dar muita risada! Kuakuakuakuakua! Mas os ‘apagões das mentes’ vale! Kuakuakuakuakua!