Trump volta ao poder – por Leonardo da Rocha Botega
Algumas explicações para o retorno à Casa Branca, na reflexão do articulista
O que parecia uma possibilidade, objetiva e real, se concretizou. Donald Trump foi, mais uma vez, eleito presidente dos Estados Unidos da América. Mesmo depois da fatídica tentativa de golpe que culminou com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a sua condenação, em maio deste ano, em um processo por fraude contábil na campanha eleitoral de 2016. Mesmo com estas questões, que nunca foram pequenas para o eleitorado estadunidense, o candidato republicano conseguiu vencer a democrata Kamala Harris.
Diferente do que se esperava, a vitória de Trump sobre Kamala Harris foi ainda mais significativa do que a sua vitória anterior sobre Hilary Clinton. O republicano não apenas conseguiu a maioria do Colégio Eleitoral, como em 2016, mas obteve também a maioria absoluta dos votos. Desde 2004, um republicano não conquistava a maioria absoluta dos votos.
Trump conquistou também a maioria do Senado e, provavelmente, terá maioria na Câmara dos Representantes. Soma-se a isso a maioria republicana na Suprema Corte e Trump terá plenas condições de implementar seu programa de governo.
O programa trumpista que não flexibilizou em quase nada a retórica xenofóbica, anti-imigração, misógina, contra os direitos das minorias, defensora do padrão do Wasp estadunidense em relação à 2016 e 2020.
O grande diferencial foi que desta vez conseguiu ir além do “branco, algo-saxônico e protestante” estadunidense, ampliando sua votação junto aos latinos, aos asiáticos, aos indianos e outras etnias. Grupos que nas últimas eleições votaram amplamente nos democratas. O único grupo étnico que seguiu a tendência de voto massivo nos democratas foram os afro-americanos.
Uma explicação para o crescimento do voto de latinos, asiáticos, indianos e, sobretudo, de árabes, em Donald Trump foi a não flexibilização do apoio dado pelo governo Biden ao genocídio promovido por Netanyahu na Palestina. Não que Trump seja diferente neste aspecto.
No que tange ao conflito Israel-Palestina, a “ditadura do partido duplo” da política externa estadunidense é bastante evidente. Porém, boa parte do eleitorado árabe-democrata esperava, pelo menos, uma postura de condenação do governo Biden aos ataques israelenses a Palestina e ao Líbano.
Outra explicação advém da conjunção destes votos de boa parte das (não tão) “minorias étnicas” com o voto da classe trabalhadora precarizada estadunidense. 54% das pessoas sem ensino superior votaram em Donald Trump. São estas pessoas que compõe majoritariamente a classe trabalhadora estadunidense.
Este dado contradiz profundamente o discurso de que a economia estadunidense vai bem no governo Joe Biden com o PIB crescendo e o mercado financeiro tendo recorde de ganhos, apesar da instabilidade inflacionária.
No que diz respeito ao emprego, ao longo do governo Biden foram gerados aproximadamente 16 milhões de empregos, o que representou uma recuperação em relação as perdas do período da Pandemia. Porém, a recuperação do emprego não representou uma melhora significativa na vida da classe trabalhadora estadunidense.
Apesar do crescimento da renda média semanal nominal, os ganhos salariais dos trabalhadores durante o governo Biden foram inferiores aos mesmos ganhos no período Trump. Aqui pode estar a chave do voto dos trabalhadores no candidato republicano.
A melhora da economia real não pode ser resumida somente como melhora nos índices financeiros ou meramente quantitativos. A melhora da economia real ocorre quando a vida das pessoas melhora, quando uma geração percebe que está vivendo melhor ou tem perspectiva de viver melhor do que a geração anterior. Isto está muito além dos índices gerais de emprego e desemprego. Não basta qualquer emprego. O emprego deve ser uma alavanca para a melhoria da vida das pessoas.
Isso é a economia real, cotidiana, a economia que corresponde à vivência da classe trabalhadora. Como escreveu o senador Bernie Sanders em suas redes sociais, “não devia ser uma grande surpresa um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descobrir que a classe trabalhadora o abandonou”. A precarização não é o caminho sem volta do mundo do trabalho, mas pode ser o caminho que leva o trabalhador desesperado a aderir ao que há de pior na política.
Trump volta ao poder nos braços da classe trabalhadora estadunidense. Uma classe trabalhadora revoltada com as ruinas que vem sendo construídas pelo neoliberalismo. Revoltada com a ascensão de uma perspectiva medíocre, egoísta e hostil às aspirações dos menos favorecidos. Reflexo de uma sociedade cada vez mais niilista, fatalista e ressentida. Uma sociedade que, diante da falta de alternativas concretas oferecidas pelos progressismos, se joga nos braços da retórica violenta dos neofascismos. Uma longa madrugada nos espera, espera que pelo menos ainda possamos sonhar.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Nota do editor: a foto de Donald Trump, que ilustra este artigo, é uma reprodução obtida na internet.
Resumo da opera. Problemas novos empilham em cima dos antigos. Esquerda perdeu o bonde da historia. Não tem respostas para os novos desafios, acreditam que a ideologia tem todas as respostas. Religião. Acham que sabem tudo e não conseguem se adaptar. Parafrases do mesmo de sempre, atitudes as mesmas de sempre. Sem problema, para mim está ‘funcionando’.
Governo no Reino Unido e de esquerda. Foi eleito com a população de nariz torcido e teve uma queda historica na aprovação. Governo na Alemanha é de esquerda; Desintegrou, é um pato manco.
‘Reflexo de uma sociedade cada vez mais niilista, fatalista e ressentida.’ ‘Uma sociedade que, diante da falta de alternativas concretas oferecidas pelos progressismos, se joga nos braços da retórica violenta dos neofascismos.’ A culpa é sempre dos outros, da sociedade no caso.
‘ Uma classe trabalhadora revoltada com as ruinas que vem sendo construídas pelo neoliberalismo.’ Se fosse assim uma das bandeiras de Trump não seria a desregulamentação. Muita intervenção do Estado.
Desemprego nos EUA tem explicação. Empresas ianques transferiram manufaturas para a Asia, China principalmente. Alem da divida publica estourando o deficit na balança comercial nunca foi pouco nos EUA. Eles podem gerar a maquininha, mas muito estimulo gerou uma inflação dificil de controlar. Crise de 2008, pandemia, guerra na Ucrania, Oriente Medio. Trump já declarou, quem atacar o dolar vai levar fumo.
‘[…] abandonou a classe trabalhadora descobrir que a classe trabalhadora o abandonou”’. Artistas famosos cantaram aqui no Brasil para acabar as queimadas na Amazonia. Que continuou queimando. Depois apoiaram o Boules em SP que não se elegeu. Nos EUA os absurdos se empilharam. Ben Stiller gravou video apoiando Kamala. Mais ou menos assim ‘Vou votar nela porque é mulher. Depois porque é negra. Todo branco judeu gostaria de ser negro’. Sem falar nas abobrinhas que não dizem nada: ‘pela defesa da democracia’, bla, bla, bla. Desindustrialização, economia, custo de vida, politica internacional, nada disto foi mencionado acima de um determinado nivel. No andar de baixo os candidatos democratas simplesmente começaram a copiar os republicanos: ‘mais recursos para a policia’, ‘endurecer a politica contra migração’, etc. Sobrevivencia para tupiniquim nenhum botar defeito.
‘A melhora da economia real não pode ser resumida somente como melhora nos índices financeiros ou meramente quantitativos. A melhora da economia real ocorre quando a vida das pessoas melhora, quando uma geração percebe que está vivendo melhor ou tem perspectiva de viver melhor do que a geração anterior.’ Não tem como discordar disto, até porque é obvio. Menos para certas classes politicas que vivem numa bolha. STF, também é politica, licitando lagosta e vinhos finos enquanto existe fila para mamografia no SUS porque não existem aparelhos suficientes.
‘ 54% das pessoas sem ensino superior votaram em Donald Trump. São estas pessoas que compõe majoritariamente a classe trabalhadora estadunidense.’ Originalmente o Partido Republicano era o partido da ‘massa’. Lincoln era republicano. Teddy Roosevelt também (combateu monopolios, evitou greves com negociação, regulamentou o comercio, lutou pela segurança alimentar no sentido de evitar contaminantes). FDR não conseguiu espaço e, coisa que politicos tupiniquins conhecem bem, pulou a cerca. Grande Depressão mudou os partidos.
‘[…] não flexibilização do apoio dado pelo governo Biden ao genocídio promovido por Netanyahu na Palestina.’ Estudantes judeus impedidos de frequentar universidades na Ianquelandia. Professores idem. Muitos sofreram bullying.
‘O único grupo étnico que seguiu a tendência de voto massivo nos democratas foram os afro-americanos.’ Trump quase dobrou seu eleitorado em relação a 2020. ‘Voces não são afro-americanos, voces são americanos’.
‘Mesmo com estas questões, que nunca foram pequenas para o eleitorado estadunidense, […]’. Voto popular afirma outra coisa.