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Titi Roth, a Arte como Alma da Vida – por Mauro Gaglietti

Texto produzido em memória de João Luiz de Oliveira Roth (1951-2024)

Há vidas que transcendem o tempo, e Titi Roth, nosso João Luiz de Oliveira Roth, foi uma dessas raras almas que não apenas habitam o mundo, mas o recriam. Sua partida não é ausência, mas transmutação, como as cores que se mesclam na paleta antes de ganharem forma na tela, como se agora ele próprio fosse parte da composição invisível que dá sentido ao nosso olhar.

A obra de Titi é um espelho inquieto da alma humana. Suas figuras – garras, fardas, camaleões e mulheres subjugadas – são metáforas da condição humana: o heroísmo que se torna patético, a humanidade que se revela monstruosa. Máscaras pequenas ocultam quase nada, enquanto envelopes verde-amarelos flertam com ambiguidades de um chão que reconhecemos, mas que escapa ao entendimento. Cada tela é uma teia caleidoscópica de fragmentos, na qual o ancestral se dissolve no pós-moderno, como um jogo de espelhos que nos desafia a desvendar o que somos — reflexos de vida ou sonhos inventados.

Conheci Titi nos anos 1980, e logo vi que ele era um artista do (des)avesso, um artesão de destinos. Ao lado de Neca e seus filhos, ele tecia uma força criadora que, junto aos amigos e também professores da UFSM como Anna Jamile, Pistoia, Motta, Robson, Albano Pepe e Rossatto, construiu não apenas uma universidade, mas um espaço de encontro, criação e humanidade.

Como Pró-Reitor de Assuntos Estudantis na histórica gestão do Reitor Gilberto Aquino Benetti, o primeiro eleito democraticamente pela comunidade da UFSM – com voto direto e o primeiro no Brasil a assumir o cargo – durante o regime militar, Titi foi uma pincelada firme na luta pela democracia, moldando os anseios de estudantes e professores.

Mesmo após 2015, quando um aneurisma o afastou dos pincéis, Titi permaneceu vivo na dedicação de sua esposa, Désirée Motta Roth, e no carinho de sua família. Ele nos deixou quadros, telas, universos. Sua arte não era confinada a galerias e museus; espalhava-se por corredores, gestos e afetos, pintando sonhos e relações.

Hoje, ele não se foi; transformou-se. Como uma obra que nunca cessa de sugerir, Titi Roth vive na textura das lembranças, nas cores que ainda vibram e nas linhas invisíveis que unem aqueles que criam e sonham. Descanse em paz, querido amigo. Sua eternidade é leveza – a leveza de quem, ao partir, permanece.

(*) Mauro Gaglietti é graduado em História pela UFSM, mestre em Ciência Política pela UFRGS e Doutor pela PUC-RS e atua como professor universitário. O texto acima foi originalmente publicado no Facebook, no domingo, 29.

(**) A imagem de Titi Roth, que ilustra este texto, é uma reprodução.

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