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Apesar da reação contrária, Trump insiste na ideia de desocupar a Faixa de Gaza – por Carlos Wagner

O que eram apenas frases soltas no meio de um turbilhão de palavras ditas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, finalmente começaram a fazer sentido na entrevista coletiva que ele concedeu na última terça-feira (4/2), na Casa Branca, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 75 anos. A história é a seguinte. Em 7 de outubro de 2023, terroristas do Hamas e de outros movimentos que operam na Faixa de Gaza, um território de 41 quilômetros de extensão por 12 quilômetros de largura, às margens do Mediterrâneo, na fronteira entre Egito e Israel, onde vivem 2,1 milhões de palestinos, invadiram o território israelense, mataram 1,2 mil pessoas e levaram 250 como reféns. Israel retaliou e desde então vem atacando Gaza sistematicamente, transformando as cidades da região em montanhas de escombros e, segundo o Hamas, matando 41 mil civis. Atualmente, vigora uma trégua, com troca dos reféns por prisioneiros. A proposta de Trump para resolver o problema de Gaza, feita durante a entrevista: a população não deve retornar para as suas cidades, mas ser enviada para países vizinhos, entre eles o Egito. Alegou que a desocupação é necessária porque além das casas terem sido destruídas pelas bombas israelenses, em meio aos escombros existem explosivos que não foram detonados. Propôs que os Estados Unidos assumam a reconstrução de Gaza, transformando o lugar em um aprazível recanto turístico junto ao Mediterrâneo. E completou que, se necessário, poderia enviar tropas americanas para Gaza.

Assisti à entrevista coletiva, que foi transmitida ao vivo. E também tenho acompanhado a guerra entre Israel e o Hamas. Esta não é mais uma das dezenas de conflitos entre árabes e israelenses. Ainda há muitas perguntas sem resposta. Em 8 dezembro de 2023 fiz o post Pistas para entender as perguntas sem resposta da guerra Israel versus Hamas. Na quarta-feira (5/2), a porta-voz da Casa Branca, Karolina Leavitt, 27 anos, leu um comunicado negando várias afirmações feitas por Trump durante a coletiva, principalmente o deslocamento dos palestinos para países vizinhos. Leavitt colocou panos quentes na fala de Trump porque líderes de vários cantos do mundo, incluindo o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, posicionaram-se contra a proposta. Há um farto material sobre o assunto na internet. Fiz um resumo de toda a história por julgar necessário para a reflexão que vou propor aos meus colegas repórteres e aos leitores. Vamos começar pelo fato de que, por ser presidente da maior potência militar e econômica do planeta, tudo que Trump diz vai parar nos espaços nobres dos noticiários. Incluindo as bobagens. Já foi assim no seu primeiro mandato (2017 a 2021), quando inaugurou um modo totalmente novo de se relacionar com a imprensa. Começou a rechear seus pronunciamentos com bobagens que ao natural acabavam nas páginas dos jornais. Tempos depois, fomos descobrir que tal procedimento não era obra do acaso. Tratava-se do aperfeiçoamento, para os dias atuais, de uma técnica de comunicação inventada por Joseph Goebbels (1897–1945), ministro da propaganda da Alemanha nazista de Adolf Hitler (1889–1945). A técnica consiste em camuflar uma situação muito séria como se fosse um fato banal e introduzi-la nas conversas do dia a dia da população. Foi assim que Goebbels convenceu a população alemã que os judeus e outras minorias eram os grandes responsáveis pela situação caótica da economia do país. E que o alemão era uma raça superior. Este foi o berço do Holocausto.

Disse lá no início da nossa conversa que “frases soltas” por Trump fizeram sentido na entrevista coletiva. Lembro que durante a campanha eleitoral de 2024 ele já dizia que tinha a solução para resolver o conflito entre Israel e Hamas, sem entrar em maiores detalhes. Aqui é o seguinte. Vários repórteres e comentaristas políticos escreveram em seus textos, por ocasião da cobertura da entrevista coletiva, que o presidente americano já tinha falado a respeito da sua solução da guerra entre Israel e Hamas, sem especificar os detalhes. Considerei um avanço a lembrança. Por quê? Por considerar que a saída para entendermos o atual governante americano é buscar o conhecimento que adquirimos no seu primeiro mandato. Lá, aprendemos que “uma frase dita por ele pode ser uma bobagem, mas nem sempre é”. Tratei deste assunto no post (4/2) Avisem a imprensa. Trump elegeu-se presidente dos Estados Unidos, e não do mundo. Dentro desta linha de pensamento, fiz uma atenta leitura em tudo que publicamos nos dias anteriores ao encontro entre Trump e Netanyahu. Anunciamos que o primeiro-ministro de Israel era a primeira autoridade estrangeira a ser recebida pelo novo presidente dos Estados Unidos. Mas lá no meio da notícia apareceu um comentário que me chamou a atenção. Dizia que Netanyahu tinha medo de Trump. Conversa fiada, é só olhar o currículo dos dois. Quando o presidente dos Estados Unidos era um jovem rico fazendo festas pelas noites de Nova York, Netanyahu estava dentro das trincheiras em Israel, aprendendo a lutar contra os inimigos. Mais ainda: o primeiro-ministro é um dos políticos mais habilidosos no cenário internacional. Como se diz no Brasil, “é uma velha raposa na arte da política”. Uma historinha que apareceu na cobertura da imprensa da entrevista coletiva. O elogio do primeiro-ministro à ideia de Trump de enviar os palestinos para países vizinhos. Ideia de Trump? Não. Ela nasceu na extrema direita israelense há algumas décadas.

Para concluir a nossa conversa. A reação contrária à proposta de Trump de enviar os palestinos de Gaza para países vizinhos foi o primeiro “chega pra lá” que o presidente americano levou dos líderes mundiais. Mas ele não desistiu de remover a população de Gaza. Essa história vai longe. Só para lembrar. Durante a campanha, Trump também prometeu resolver com um telefonema a guerra entre Rússia e Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro de 2022. O que será que ele vai dizer nesta ligação?

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 74 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. E daí? O que isto muda na vida do afegão médio? Nada! Pior, pode ser trollagem, pode ser um bode colocado no meio da sala. Para os vermelhos pode ser cortina de fumaça. Simples assim. Ficar prestando atenção em tudo o que o Laranjão faz é perda de tempo. Simples assim.

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