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SAÚDE. Reportagem da “Arco” apresenta cinco ações que podem ser ineficazes no combate à Covid-19

Alguns protocolos contra o vírus transmitem falsa segurança para o público

Por Paula Apolinário (texto) e Luiz Figueiró (ilustração) / Da Revista Arco/UFSM

Em meio aos avanços das pesquisas da comunidade científica internacional, surgem novas confirmações do que é – ou não – eficaz no que se refere a medidas de segurança contra a  Covid-19. Porém, ao contrário do que indicavam os órgãos especializados em saúde e ciência, entidades públicas e parte da população sugeriram uma antecipação de retorno à normalidade, como a flexibilização do comércio nos momentos em que a pandemia atingia altos índices de internados, ou a volta das aulas presenciais nas escolas. Em forma de convencimento da volta “segura” da população aos afazeres de antes da pandemia, protocolos de enfrentamento à Covid-19 foram apresentados como soluções para o período de flexibilização, mas estes nem sempre são eficazes.

Para a docente do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM, Liane Beatriz Righi, a falta de coordenação nacional e a priorização da economia em detrimento da crise sanitária por parte do poder público impactou na qualidade do enfrentamento da pandemia: “Grande parcela dos governantes atua com a falsa segurança das extensas listas de condutas, das cores dos mapas, de normas de flexibilização sustentadas em cruzamento de algumas informações. Perdemos a possibilidade de enfrentar a crise sanitária ampliando a autonomia das pessoas”.

Iniciou-se, então, o “teatro da pandemia”, expressão utilizada pela socióloga turca Zeynep Tufekci como crítica às ações inúteis da pandemia, segundo o site EL PAÍS. Nesse contexto, há uma maior preocupação em demonstrar as medidas de proteção que estão sendo tomadas do que, de fato, explicar como elas são eficazes contra o vírus – porque, justamente, algumas delas não são. 

A problemática que envolve esse tipo de protocolo é o fato de gerar uma falsa sensação de segurança. Eles transmitem a ideia de proteção para o público, ou seja, que naquele local visitado há um controle para a não entrada e disseminação do vírus, mesmo que, na realidade, as chances de contágio em decorrência dos protocolos não diminuam.

Abaixo, algumas condutas que geram essa falsa sensação de segurança, mas que são – ou podem ser – ineficazes para o controle do coronavírus:

1. Medição de termômetros infravermelhos (e suas práticas no pulso)

A prática de medir a temperatura com termômetros infravermelhos dos visitantes se tornou obrigatória em estabelecimentos com grande fluxo de pessoas, como shoppings, mercados e lojas. As verificações ocorrem na entrada dos espaços e, teoricamente, apenas poderiam entrar aqueles sem indícios de temperatura corporal acima de 37,8° C. Isso se justifica porque um dos sintomas do novo coronavírus é a febre. Então, se uma pessoa está com a temperatura mais elevada, apresentaria riscos de estar contaminada e disseminar o vírus aos que estão no local. Ou seja, a medida é tomada em prol da segurança dos presentes no estabelecimento. Mas será que ela é efetiva?

O médico epidemiologista da Vigilância em Saúde de Santa Maria e professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM, Marcos Antônio de Oliveira Lobato, relata que uma série de motivos comprovam a ineficácia da prática. O primeiro é que, quando contaminadas, algumas pessoas transmitem o vírus antes dos sintomas da doença – chamadas pré-sintomáticas, que são responsáveis por 45% das transmissões da infecção do coronavírus segundo relato da médica Ana Maria Castro, exposto no site Senado Notícia. Além disso, há também os pacientes assintomáticos, que contagiam mesmo que não possuam reações ao vírus, como confirmado pela Organização Mundial da Saúde desde 2020. Ainda, pessoas com sintomas febris poderiam passar despercebidas pelos aparelhos ao utilizarem medicamentos que regulam a temperatura corporal, o que geralmente ocorre quando se busca amenizar o mal-estar provocado pela reação atípica.

Então, mesmo com essas exceções, alguém que esteja com febre em decorrência da Covid-19 e não tenha tomado medicamentos para normalizar a temperatura vai ser notificado pelo aparelho, certo? Errado! Há outra questão: o manuseio errado do termômetro infravermelho. Segundo o professor Lobato, embora haja exceções, esses aparelhos são preparados para realizar a medição na testa das pessoas e, atualmente, na maioria dos locais a ação é efetuada pelo pulso – processo muito intensificado após a disseminação de notícias falsas sobre o aparelho causar danos ao cérebro: “Se um aparelho foi projetado para medir na testa, ele não vai captar a temperatura adequada no pulso. Estudos mostram que a variação pode aumentar em um grau conforme o local que for aferido. É a diferença de 36° C para 37° C, ou 37° C para 38° C. É exatamente entre dizer se está ou não está com febre”.

Ou seja, essa utilização não agrega no controle da pandemia, já que a maioria dos casos de pessoas com Covid-19 não serão notificadas pelo aparelho e, portanto, poderão circular normalmente pelos locais, transmitindo o vírus.

2. Higiene excessiva e fumigação de espaços públicos

Outra prática que não garante eficácia contra a Covid-19 é a higiene excessiva de superfícies, bem como a fumigação de espaços. O professor Lobato explica que essas ações só fazem diferença se realizadas em locais onde haja grande circulação de coronavírus, como em alas de Covid-19 nos serviços de saúde: “As chances de o vírus estar em uma superfície e ser transmitida é muito baixa. Dependendo do local, ele perde sua capacidade de infecção em poucas horas”. No mesmo sentido, uma pesquisa europeia da cientista Teresa Moreno, do Instituto de Avaliação Ambiental e Pesquisa Hídrica, referenciada em matéria já mencionada do El País, encontrou fragmentos do vírus em superfícies do metrô e dos ônibus de Barcelona, mas estes não tinham capacidade de contágio.

Outra prática não mais entendida como eficaz é a higiene excessiva de objetos, como compras, embalagens, etc. Segundo o site GZH, um comunicado feito pela instituição americana Administração de Alimentos e Medicamentos e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ressaltou que as chances de contágio por Covid-19 em alimentos e suas embalagens também são mínimas. O professor Lobato ressalta que a prática não necessita mais de tamanha atenção no que tange a Covid-19, mas que a limpeza de frutas, verduras e embalagens sempre foi recomendada para evitar doenças causadas por bactérias e protozoários, por exemplo.

Entretanto, para os que preferem dar continuidade com a prática em decorrência da Covid-19, é preferível que uma atenção maior seja dada apenas a partes manuseadas dos objetos, como a alça das sacolas de compras, por exemplo. É importante também que, ao praticar essas ações, esteja-se atento ao principal problema que elas acarretam: em meio a tantas informações sobre a doença, outras condutas já comprovadas mais eficazes podem perder o destaque que deveriam ter – como uso de máscaras e de álcool em gel. Se essas ações não forem priorizadas, novamente, pode-se gerar uma falsa sensação de segurança e aumento da circulação do vírus.

PARA LER A ÍNTEGRA, E CONFERIR AS OUTRAS TRÊS AÇÕES, CLIQUE AQUI.

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