Madame de Stäel – por Elen Biguelini
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Anne Louise Germaine Necker de Stäel-Holstein, a Baronesa de Stäel-Holstein, mais conhecida como Madame de Stäel é uma das “salonnières” mais conhecidas da História. Isto devido ao fato de que, além de ter comandando um salão em seu lar, ela também foi autora de uma grande quantidade de obras, bem como teve uma importância política, social e até mesmo filosófica.
Filha de um banqueiro que se tornou ministro de Luís XVI, Jacques Necker e sua esposa Suzanne Curchod (a Madame Necker, outra famosa “salonnière”), a futura Madame de Stäel nasceu em 12 de abril de 1766 em Paris.
Presente, então, nos salões de sua mãe e com um contato frequente com a elite cultural, não é estranho que tenha sido influenciada pelo desejo pelo conhecimento e literatura ainda cedo. Aos 12 anos já compunha versos, e aos 15 escrevia novelas; sendo assim conhecida como um prodígio pelos conhecidos de seus pais.
Casou-se aos 20 anos com o barão Erik Magnus Stäel von Holstein (1749-1802), que era embaixador da Suécia, com quem teve três filhos. Quando assumiu a função de baronesa, tornou a casa de seu marido em um local de discussões filosóficas invejado e desejado por toda a elite parisiense. Um local onde todos gostavam de estar.
Em 1800 se separou do marido, o que não impediu suas relações com a intelectualidade local, iniciando um salão na “Rue du Bac” no 7º “arrondissement” de Paris. A popularidade dos salões literários entre a elite parisiense da época se demonstra no fato de que foi necessária a escolha de um dia da semana que não houvesse outros salões na cidade para a reunião literária de Stäel: a sexta-feira.
Ao mesmo tempo, passou a participar Revolução Francesa, comandando o Partido Liberal e Constitucional, manteve-se relativamente segura até 1793 quando se mudou para o Castelo de Coppet, na Suíça, que pertencia a seu pai. Napoleão Bonaparte a via como uma figura perigosa que impedia sua posição política. Ela acreditava em um retorno a uma monarquia como a britânica, enquanto Napoleão tinha objetivos diferentes para o comando do país. Ainda que tenha retornado a França por alguns períodos, durante os próximos dez anos perambulou pela Europa, saindo oficialmente exilada da França em 1803.
Foi durante esta sua estadia no Chateau da família paterna que a autora escreveu algumas de suas obras literárias mais conhecidas: “Delphine” (1802), “Corinne ou l’Italie” (1807). Foi claramente um período de grande criatividade para a autora, que antes destes romances já havia publicado suas cartas para Rousseau (“Lettres sur les ouvrages et le caractère de Jean-Jacques Rousseau”, 1788) na qual demonstrava suas opiniões políticas.
Em 1810 se estabeleceu no Castelo de Chaumont sur Loire, um belo castelo francês, conhecido por suas escadas desenhadas por Leonardo Da Vinci. Neste local estabeleceu outro salão, bem como escreveu mais uma obra: “De l’Allemagne” (1813).
Em 1811, já viúva há vários anos, casou-se novamente, desta vez com Albert de Rocca, um jovem militar genovês. Ela já tinha 48 anos, enquanto ele tinha 23 anos. O casal tem um filho.
Retornou a Paris somente em 1813, após a queda do Império Napoleônica. Com a nova morada, estabeleceu outro salão literário na cidade. Apesar do exilio durante o governo do Imperador, ela não apenas o apoio, como ofereceu seus serviços à Napoleão e visitou sua esposa Josefina.
Assim como muitos intelectuais, aristocratas e ricos do período, tornou-se viciada ao ópio. Além de sua carreira de literata e escritora, é conhecida por seu romance com o pensador francês Benjamin Constant (1767-1830). Seu casamento foi, segundo os modelos matrimoniais da época, uma união sem amor e a “salonnière” encontrou o amor apenas fora do casamento.
Faleceu em 14 de julho de 1817, após uma hemorragia cerebral, em sua casa em Paris.
Lista de suas obras publicadas e encontradas digitalizadas pela Biblioteca Nacional Francesa: https://gallica.bnf.fr/services/engine/search/sru?operation=searchRetrieve&version=1.2&maximumRecords=10&page=1&query=(dc.creator%20all%20%22Germaine%20de%20Sta%C3%ABl%22%20or%20dc.contributor%20all%20%22Germaine%20de%20Sta%C3%ABl%22).
Referências
Broglie, Jacques de. “Madame de Stäel et sa cœur au Château de Chaumont”. Acesso via BnF Gallica: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k3382086n
Diversas imagens da autora no site Europeana, que organizou uma exposição sobre Stäel. Acesso via: https://www.europeana.eu/en/exhibitions/pioneers/madame-de-stael
Leitão Bandeira, Lourdes. “Salões culturais abertos por figuras femininas: O salão ‘Univeristas Gratie’”. Lisboa: Carvalho e Simões Lda, 2006. pp. 114-117.
Menzel, Peter. “Anne Louise Germanie, Baronne de Stäel-Hostein. Acesso via: https://oll.libertyfund.org/pages/germaine-de-stael-birthday-biography-april-1766
Oliveira, Americo Lopes de. “Dicionário de Mulheres Célebres”. Porto: Livraria Lello e Irmãos, 1981. Pp 1849-1850.
Página de Madame de Stäel na Enciclopédia Britanica. Acesso via: https://www-britannica-com.translate.goog/biography/Germaine-de-Stael
Página francesa de Madame de Stäel na Wikipedia. Acesso via: https://fr.wikipedia.org/wiki/Germaine_de_Sta%C3%ABl
Rinehart, Melanie. “Na Extraordinary eccentric woman: Madame de Stael”. Acesso via: https://www.amphilsoc.org/news/extraordinary-eccentric-woman-madame-de-stael
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
‘Napoleão Bonaparte a via como uma figura perigosa que impedia sua posição política.’ Sim, ela comandava um exercito com mais de um milhão de soldados! Kuakuakuakuakuakuakua! Outra piada! Kuakuakuakuakua!
‘[…] é uma das “salonnières” mais conhecidas da História.’ Nunca tinha ouvido falar.