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Mais um covarde ataque do governo Leite à educação gaúcha – por Valdeci Oliveira

Dizem que a propaganda é a alma do negócio. Não sei se é completamente verdade, mas o governador Eduardo Leite soube usá-la muito bem na sua campanha à reeleição. E entre vários temas, escolheu à época usar como “chamariz” a Educação. A utilizou como mote, como compromisso, como prioridade para o próximo mandato que, se os gaúchos e gaúchas acreditassem nele, começaria nos meses seguintes à disputa. Fechadas as urnas, a realidade nem mesmo precisou esperar pela posse para se mostrar o quanto diferente daquilo seria.

Por mais que tenha dito que fez bastante pela “causa” e que por ela faria ainda muito mais, não sem antes culpar a existência dos problemas às gestões ineptas de seus sucessores e, à boca pequena, uma parcela dela aos próprios educadores e gestores de escolas, quem acompanha ou participa da cena política gaúcha sabia que se tratava de mero discurso. E assim se avaliava, principalmente, porque o autor da promessa já havia tido a chance de mostrar esse compromisso nos quatro anos anteriores, mas o que externou de fato foi, a partir de projetos de lei por ele apresentados no Parlamento estadual, a retirada de direitos, a dificuldade a uma aposentadoria digna e a aniquilação do plano de carreira dos educadores e educadoras, entre outros ataques ao serviço público. Caso isso não fosse suficiente para demonstrar como se desenhavam seus reais interesses, há o fato de que ele nunca teve (e continuará a não ter) nenhuma aproximação com a educação plural, inclusiva, popular, de integração e emancipatória, assim como olhava para o outro lado quando alguém o questionava sobre valorização e reconhecimento daqueles e daquelas que de fato fazem a educação acontecer no dia a dia. E se ainda assim pairasse alguma dúvida, bastava relembrar o ocorrido ainda no primeiro ano do seu mandato, quando servidores, incluindo professoras e professores que recebiam seus proventos de forma parcelada, foram para frente do Palácio Piratini com o intuito de defender seus empregos e dignidade e protestar contra o desmonte de suas carreiras. Em resposta, apanharam da Brigada Militar.

Mais um tempo se passou e mais uma demonstração de desrespeito à educação gaúcha feita pelo governador Eduardo Leite chegou à Assembleia Legislativa. Desta vez na forma de um projeto de lei para reajustar o subsídio do magistério em 6,27%. O que à primeira vista deveria parecer positivo, quiçá justo, a proposta na verdade realça toda a sua repulsa e desrespeito a essa importante e fundamental categoria de trabalhadores e trabalhadoras.

Em regime de urgência, cujo trâmite não permite o debate sério e transparente, a proposta do governador, que conta com votos suficientes no Legislativo gaúcho para aprovar suas matérias, não incide sobre outros ganhos e pega as vantagens já conquistadas com muitos anos de trabalho, como triênios, para descontar da reposição, ou seja, dá com uma mão e retira com a outra. Desta forma, muitos receberão muito pouco ou até mesmo nada. Mas o faz-de-conta traz outra grande injustiça, que é negar a reposição aos funcionários de escolas e professores e professoras aposentados, que não irão receber um centavo sequer e já amargam perdas de 70% em seus ganhos – a última vez que viram um reajuste salarial pela frente foi há dez anos, de minguados 6%. Somente de funcionários de escolas estamos falando de 5 mil mães e pais de família que pagam aluguel, alimentam bocas e têm contas a honrar.
Nossa bancada não aceita mais essa covardia, mais essa injustiça em cima de quem educa e ensina nossos filhos e netos e está propondo emendas em favor dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação, que não discrimine ativos e aposentados e que realmente enxergue o trabalho dos funcionários de escolas como sério, necessário e não como almas invisíveis que estão ali para servir sem reclamar.

De forma definitiva, a Educação não é prioridade do governador. Fosse, sua administração também não culparia diretoras e diretores de escolas pelos problemas sérios em cerca de 80 unidades, com fez a secretária da pasta em entrevista recente a um programa de TV, dizendo serem estes, por conta das respectivas gestões, os únicos casos em toda a rede de ensino, formada por mais de 2,3 mil escolas. E também não teríamos, tendo em conta que o forte calor é uma das marcas registradas do RS (agravado pelas questões climáticas), pouco mais de 600 unidades com ar-condicionado e outras tantas carentes de bebedouro. E para o governador ter que admitir que em cerca de 800 há problemas estruturais, dá para imaginar o real cenário.

Em sua visão de mundo, se aproveita das necessidades de muitas famílias para distribuir uniformes aos alunos – úteis, sem dúvida – e assim fazer a sua propaganda e repassar R$ 200 milhões à iniciativa privada para a confecção e distribuição de 7 milhões de peças, o que nos coloca diante do velho ditado popular dos “dois coelhos com uma só cajadada”.

E com isso o governador novamente deixou claro: a propaganda é a alma do seu negócio.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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2 Comentários

  1. Em tempo. Como só sabem jogar dinheiro nos problemas fica parecendo que ‘educação’ é só uma questão de salario. Olhando por cima o salario medio (obvio que varia muito) de um professor de escola publica no Japão é de 2000 dolares ianques por mes. Um operario de fabrica com 200 horas por mes ganha na media 1600 dolares. O salario de um professor frances do primario, utilizando paridade de compra, é algo como 13 mil reais por mes. O dobro de um trabalhador de fabrica. Ou seja, não é tão simples assim.

  2. Joguinho mesozóico. ‘Se estivessemos no poder seria melhor’. Cascata. Seriam iguais ou piores. Porque existe um negocio chamado piso nacional do magisterio. Porque existe lei de responsabilidade fiscal. Porque falta dinheiro, estado está em decadencia, acelerada pelos eventos climaticos. Dudu Milk está num partido que está minguando e . ninguém quer para incorporar ou fundir. Tonho Aideti é o fechador da Rua 7. Da Travessia Urbana que não termina nunca. Resumo da opera: estes papinhos não colam mais.

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