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Marquesa de Sablé – por Elen Biguelini

"Seu salão foi frequentado por uma diversa gama de literatos e pensadores"

Muito antes dos salões da famosa Stäel, Paris já apresentava diversos salões dirigidos por mulheres ilustres. Madelaine de Souvré (1599-1678) foi outra grande ilustre francesa detentora de salões. Nascida em no Chateau de Couranvaux (um lindo castelo do século XV em Bessé-sur-Brave, em 1599 foi filha do marquês de Couranvaux e barão de Lezines, Gilles de Souvré (1540-1624) e de sua esposa Françoise de Bailleul. Seu pai havia sido tutor de Louis XIII.

Casou-se em 1614, aos 15 anos, com Phillipe Emmanuel de Laval-Bois-Deuphin (?-1640), o marquês de Sablé. O casamento não foi feliz, e ambos tiveram diversas relações extraconjugais. Apesar da situação conjugal, era considerada bela e bem vista pela sociedade francesa.

Frequentava o já estabelecido salão de Rambouillet, em Paris, no qual tinham contato com vasta gama de literatos franceses, incluso Balzac e Chapelain.

Seu marido faleceu quando ela tinha cerca de 40 anos em 1640, um de seus filhos faleceu sete anos depois. Ela lutava pelo direito a herança do marido e se via em uma situação econômica complicada. Então, mudou-se para Paris e estabeleceu junto a uma amiga, a condessa de Maure, Anne Doni D’Attichy um salão na “Place Royal”, no centro de Paris.

Seu salão foi frequentado por uma diversa gama de literatos e pensadores franceses do período, sendo que ela levou o título de “Preciosa”, uma designação especifica às mais altas salonnières do período. Dentre seus frequentadores, esteve o pensador moralista François de La Rochefoucauld (1613-1680). Este autor foi o criador do gênero literário das máximas e epigramas, que se tornou comum ao período.

É deste gênero literário um texto do própria salonnière, as “Maximas” de Madame de Sablé, de 1678.
Além de seus contatos filosóficos, a madame de Sablé tinha um grande interesse pela morte, ou melhor, por não alcançar a morte. Devido a isto mantinha contato frequente com médicos renomados e os avanços da medicina. Estes mesmos temores a fizeram se voltar fortemente para a religião.

Em 1652 se mudou para uma localidade mais próxima a mosteiro de Port Royale, e em 1656 se mudou novamente para uma casa que ficava ao lado deste mesmo mosteiro. Segundo Christian Péligry, “com um lado para a Igreja, outro para a rua: o que traduz bem seu estado de alma” (pg 8, tradução livre). Neste local continua seu salão, agora adicionado de figuras locais não menos ilustres daquelas que frequentavam suas reuniões anteriores. Era um local de política e filosofia, mas também de discussão de medicina e receitas milagrosas.

Em 1664 a marquesa esteve em meio a uma situação política complicada entre o rei e seus vizinhos religiosos. Tentou mediar a situação, mas foi criticada tanto por seus amigos religiosos quanto por seus amigos literatos por sua posição de neutralidade na questão. Seus esforços foram recompensados em 1668.

Apartir de 1670 não deixou mais seu quarto, mas não parou de ser visitada por toda sorte de parisienses ilustres e literatas.

Faleceu em 16 de janeiro de 1678 em sua casa.

Referências:
“Maximes”. Via HathitTrust: https://catalog.hathitrust.org/Record/008888292

“Madeleine de Souvre” no “History of women philosophers and scientist”. Acesso via: https://historyofwomenphilosophers.org/project/directory-of-women-philosophers/souvre-madeleine-de-1599-1678/
Barthélemy, Édouard de. “Madame la comtesse de Maure, sa vie et sa correspondance et d’une étude sur la vie de Mademoiselle de Vandy”. Paris: Librarie de J. Gay, 1863. Acesso via Gallica: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5625187t/f8.item.texteImage
Leitão Bandeira, Lourdes. “Salões culturais abertos por figuras femininas: O salão ‘Univeristas Gratie’”. Lisboa: Carvalho e Simões Lda, 2006. pp. 74-75.
Péligry, Christian. “La Marquise de Sablé (1598-1678)”. Acesso via https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=http://www.amisdeportroyal.org/societe/wp-content/uploads/2021/03/bepr_2009_12_peligry.pdf&ved=2ahUKEwi5p5qDjtaLAxWAqJUCHVfXD04QFnoECCIQAQ&usg=AOvVaw18xGJQZRylQiMWEnjNoFu-
Picco, Francesco. “La Marchesa de Sablé, Madelaine de Souvre”. Encliclopedia Italiana. Acesso via: https://www.treccani.it/enciclopedia/sable-madeleine-de-souvre

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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