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A Guerra do Aço: o Brasil na mira das tarifas de Trump – por José Renato Ferraz da Silveira e Gabriela Martins de Oliveira

Imposição reflete “postura protecionista que vai além de questões econômicas”

As tarifas de 25% sobre aço e alumínio de “todos os parceiros comerciais, sem exceções ou isenções”, implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entraram em vigor na quarta-feira (12). A medida havia sido anunciada em fevereiro. “As tarifas podem aumentar com o passar do tempo. Elas podem aumentar, não sei se é previsibilidade”, disse Trump.

Segundo dados do governo dos Estados Unidos, no ano passado, o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 20,9% do total, seguido pelo Brasil (16%, com 3,88 milhões de toneladas, e o país com maior crescimento em relação às exportações de 2023) e o México (11,1%).

O Brasil ficou atrás do México em valores: recebeu US$ 2,66 bilhões, ante US$ 2,79 bilhões dos mexicanos e US$ 5,89 bilhões dos canadenses. Em janeiro, o Brasil foi o maior exportador do mês em volume (499 mil toneladas), ultrapassando o Canadá (495 mil toneladas).

Risco e segurança nacional

De acordo com especialistas, o foco dado pelo governo Donald Trump ao aço como um tema de segurança nacional reduziu a margem do Brasil e de outros países exportadores para negociar isenções à tarifa. “Quando anunciou a sobretaxa, em fevereiro, Trump citou a expressão segurança nacional nada menos do que 27 vezes”. Isso frustra qualquer negociação.

Na visão do republicano, as cotas de importação do produto abertas para o Brasil e outros países nos últimos anos representam um risco para a segurança nacional americana, ao contribuírem para que a indústria siderúrgica do país opere numa capacidade de utilização abaixo de 80%. Trump deseja reindustrializar o país à “fórceps”.

Vale destacar que cerca de metade das exportações de aço do Brasil vão para os EUA, o que coloca em risco uma fatia importante da produção siderúrgica brasileira.

China: a concorrência predatória

Outro ponto citado em fevereiro por Trump é que a China estaria inundando de aço barato países que têm acesso privilegiado aos EUA.

Esses países – ainda na visão de Trump – estariam direcionando sua produção local de aço para os EUA, o que também contribuiria para o enfraquecimento da indústria americana.

O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, recebeu com perplexidade o anúncio de Trump e rebateu o argumento.

Em nota, a instituição negou que o Brasil estaria importando grandes quantidades de aço chinês para enviar a produção nacional para os EUA.

“Cabe ressaltar que o mercado brasileiro também vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela qual o Instituto Aço Brasil solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial”, disse o Instituto no documento.

A Importância da Negociação entre Brasil e EUA sobre as Tarifas do Aço: Perspectivas Econômicas e Geopolíticas

A imposição de tarifas de 25% sobre o aço brasileiro pelo governo de Donald Trump reflete uma postura protecionista que vai além de questões econômicas. De acordo com Robert Baldwin, em sua obra The Political Economy of Protectionism, políticas tarifárias muitas vezes são justificadas sob o argumento de segurança nacional, mas, na verdade, são influenciadas por pressões políticas internas e pela necessidade de proteger setores estratégicos.

Por sua vez, a decisão de Trump de sobretaxar o aço pode ser compreendida não apenas como uma medida contra a concorrência chinesa, mas também como parte de sua promessa de reindustrialização dos EUA, atendendo aos interesses da indústria siderúrgica americana. Por essa perspectiva, o Brasil, como segundo maior fornecedor de aço para os EUA, expressou sua insatisfação, classificando a medida como “injustificável e equivocada”, e anunciou a intenção de acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Nesse contexto, o Brasil busca uma postura diplomática, evitando retaliações e apostando no diálogo com a Casa Branca. Assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, reforçaram a importância da reciprocidade e do entendimento mútuo, destacando que o “caminho no comércio exterior é o ganha-ganha”. Além disso, a criação de um grupo de trabalho bilateral para discutir as tarifas comerciais, mediada pelo Itamaraty, é um passo estratégico para evitar uma escalada da disputa e proteger os interesses da indústria siderúrgica brasileira.

Em suma, a negociação entre Brasil e EUA sobre as tarifas do aço é essencial para evitar uma guerra comercial que poderia impactar negativamente a indústria brasileira. A postura cautelosa e diplomática do governo brasileiro, aliada à busca por acordos na OMC e ao fortalecimento de alianças estratégicas, são fundamentais para preservar os interesses econômicos do país e fortalecer sua posição no cenário global. O desafio do Brasil, portanto, é equilibrar suas relações com os EUA enquanto se posiciona como um player relevante no mercado global de aço, em meio à concorrência chinesa.

Pessimismo

Antes da confirmação das tarifas pela Casa Branca, diplomatas brasileiros estavam pessimistas em relação à possibilidade de recuo na taxa ao aço e ao alumínio e já falavam sobre a necessidade de tentar reverter o tarifaço.

A leitura é que a decisão sobre a tarifa é exclusivamente do presidente americano e passa por fatores independentes da negociação comercial.

Integrantes do governo brasileiro avaliam não estar claro o ganho específico que Trump terá com a imposição das tarifas aos produtos do Brasil, “mas creem que se trata de uma estratégia para manter a promessa de campanha de reindustrializar o país”.

Nas últimas semanas, além das conversas entre ministros brasileiros, o vice-presidente Alckmin e autoridades americanas, a embaixada brasileira nos Estados Unidos também procurou interlocutores no Congresso em busca de respaldo na negociação.

“Em caráter reservado, auxiliares de parlamentares relataram incômodo com a forma como Trump tem lidado com as tarifas e a forte pressão por parte de empresas para tentar brecar as negociações. Os republicanos, porém, que são maioria no Senado e na Câmara, evitam se posicionar contra o presidente Trump publicamente”.

Até quando? A resposta a essa pergunta é incerta.

(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)

Gabriela Martins de Oliveira é graduanda do 5º semestre em Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Participa do Grupo de Teoria, Arte e Política, integra como extensionista o GIDH – Gênero, Interseccionalidade e Direitos Humanos, e atua como co-coordenadora do Coletivo Manas – RI, voltado para debates sobre os papéis de gênero nas Relações Internacionais da UFSM. Seus principais interesses de pesquisa incluem análise de política externa, questões ambientais e as interseções entre gênero e Relações Internacionais. ([email protected])

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