A Ilusão do Simples – por Amarildo Luiz Trevisan
O ódio de Trump ao simples aperto de mão. Mas é bem mais que isso. E...

Donald Trump, o presidente-rei dos Estados Unidos – como o denominou Elon Musk após sua última vitória na corrida pela Casa Branca – tem fobia ao aperto de mãos. Sua aversão a germes é tamanha que, no livro The Art of the Comeback (A Arte do Retorno, em tradução livre), ele declarou: “Uma das maldições da sociedade americana é o simples ato de apertar a mão”.
O detalhe poderia ser apenas uma excentricidade pessoal, um capricho de magnata transformado em líder político. Mas, na verdade, diz muito sobre uma confusão maior entre o simples e o complexo, que não é exclusividade de Trump. Vivemos tempos de soluções fáceis para problemas difíceis, embaladas pela instantaneidade das tecnologias, pelo mundo reduzido à palma da mão e pelo pensamento binário que divide tudo entre certo e errado, amigos e inimigos, sucesso e fracasso.
Trump não está sozinho nessa crença de que desafios profundos podem ser resolvidos com respostas imediatas. Ele acha que basta expulsar imigrantes para que os empregos se multipliquem e a violência desapareça. Que a paz na Ucrânia virá como um passe de mágica, pois, em sua visão simplista, bastaria que Volodymyr Zelensky aceitasse o acordo por ele proposto para que o conflito cessasse, ignorando as complexidades geopolíticas, os interesses em jogo e, sobretudo, a própria soberania ucraniana. Que a crise americana se resolve com slogans de campanha, protecionismo econômico e o fechamento das portas ao mundo.
Essa lógica simplista se repete em expressões do cotidiano, como o famoso “simples assim”, um bordão que parece ter se tornado um mantra universal. Mas o que parece simples, na maioria das vezes, é apenas uma ilusão conveniente. A história dos Estados Unidos, por exemplo, é a história da imigração – foi o acolhimento de povos expulsos da Europa, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, que ajudou a construir a potência que conhecemos hoje. No entanto, em tempos de crise, essa memória se apaga, e um bode expiatório precisa ser encontrado.
Enquanto Trump demoniza imigrantes e universidades, acusando-as de serem antros de comunistas, a China faz o oposto: investe em pesquisa, envia milhares de jovens para as melhores instituições do mundo e fortalece sua base intelectual. Os Estados Unidos, por outro lado, preferem cortar verbas da educação e alimentar discursos de ódio e de medo. No Brasil, não é muito diferente – alguns acreditam que bastaria amordaçar professores para impedir a “doutrinação comunista” e, como num passe de mágica, os índices da educação subiriam.
Se Trump vê um simples aperto de mão como uma maldição, talvez seja porque não compreendeu que, no jogo das relações humanas e políticas, ele é um gesto pequeno, mas carregado de complexidade. O aperto de mão simboliza compromisso, diálogo e reconhecimento mútuo – elementos fundamentais para a construção de pontes em um mundo de muros cada vez mais altos.
Mas e se, no fundo, for mais confortável acreditar em soluções fáceis? E se a rejeição ao complexo não for um acaso, mas uma escolha? No fim, semelhante a Donald Trump, será que buscamos de fato compreender a realidade, ou apenas nos agarramos a atalhos que nos confortam, evitando o desafio de enfrentá-la?
(*) Amarildo Luiz Trevisan é Licenciado em Filosofia no Seminário Maior de Viamão, tem o curso de Teologia, é Mestre em Filosofia pela UFSM, Doutor em Educação pela UFRGS e Pós-doutor em Humanidades pela Universidade Carlos III de Madri. Desde 1998 é docente da UFSM. É professor de Ciências da Religião e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFSM)
Resumo da opera II. ‘[…] ignorando as complexidades geopolíticas, os interesses em jogo […]’. ‘[…] talvez seja porque não compreendeu que, no jogo das relações humanas e políticas, ele é um gesto pequeno, mas carregado de complexidade.’ Quem não ignora e compreende são os professores do CE da UFSM? Os ‘genios’ paroquiais da beirada do final do mundo? Temos que lançar uma campanha ‘doe um espelho para um professor universitario’.
E dai? Professores da UFSM podem ter a opinião que mais lhes aprouver sobre Trump e a politica americana. Simplesmente porque, como todos os habitantes da aldeia, são completamente irrelevantes. Resumo da opera: texto ‘desancando’ o mandatario ianque refletindo os valores dos comunas. Acrescenta nada.