Bicho Feroz, nem tanto! – por José Renato Ferraz da Silveira e Pietra Souto Lemberck
A semelhança entre a música do gênio Bezerra da Silva e Eduardo Bolsonaro

Bezerra da Silva foi um dos cronistas urbanos mais afiados (provocadores) da música popular brasileira – em seus quase 50 anos de carreira – também como violonista e percussionista pernambucano.
Seu samba, embalado pelo repique e pelo tantã, era a voz das vielas, dos becos e dos barracos. Mas não era só batucada e malandragem – era denúncia, era ironia fina, era o dedo apontado para os falsos valentes e os falsos moralistas. Ele sabia que, no Brasil, sempre teve muito “cabra-macho” que, na hora do aperto, mostrava ser mais um “bicho feroz” de fachada.
Com sua sagacidade, Bezerra retratava tipos que se faziam de durões com um revólver na cintura, mas que, sem a arma, eram apenas mais um “peão” na multidão.
Sambas como “Malandro Rife” desmascaravam os que pregavam coragem, mas corriam ao primeiro sinal de perigo. Ele conhecia bem essa turma que falava grosso na rua, mas ficava mansinha quando a maré virava.
Uma das conhecidas canções de Bezerra da Silva é a música “Bicho feroz”.
Bicho feroz é um retrato contundente da vida nas periferias urbanas e do universo do crime. A letra descreve um indivíduo que, armado, se mostra agressivo e intimidador, mas que sem o revólver, revela sua verdadeira natureza covarde e submissa.
A música sugere que essa pessoa, ao ser presa, não manteve a postura de “malandro” e acabou por se submeter às regras e hierarquias do sistema prisional, chegando a “lavar a roupa da malandragem”.
Esse contraste entre a postura nas ruas e na prisão serve para desmascarar a falsa imagem de poder e respeito que o indivíduo tenta projetar.
Se estivesse vivo, Bezerra talvez se divertisse com a cena de certos políticos que já ameaçaram fechar o STF, mas que, quando o cerco apertou, pediram licença e saíram de fininho.
Hoje essa música faz muito sentido com o pedido de licenciamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ele apresentou na quinta-feira (20) um pedido formal de licença da Câmara dos Deputados por um período total de 122 dias.
O filho do ex-presidente Bolsonaro alega que embora não seja alvo da investigação, ele afirma temer ser preso e justifica sua decisão dizendo que pretende “buscar sanções” contra Moraes e outras autoridades do Judiciário.
Lembremos de um episódio sinistro de Eduardo Bolsonaro. Na Copa do Mundo no Catar, após aparecer em jogo da seleção, Eduardo Bolsonaro disse que foi para lá entregar pen drives sobre a dramática “situação do Brasil”.
O mesmo “licenciado deputado” dizia que era necessário somente “um soldado e um cabo” para fechar o STF”.
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, retrucou que “o soldado, o cabo e o coronel agora estão presos”.
Curioso notar que Eduardo Bolsonaro, sempre tão corajoso nas redes sociais, agora decide se afastar da linha de frente. O mesmo deputado que outrora sugeriu um novo AI-5 e que falava em fechar o STF com um cabo e um soldado, agora pede licença e se afasta da disputa. Como na música de Bezerra, Bicho Feroz mesmo é só quando está armado – quando a coisa aperta, a valentia desaparece, e resta apenas o silêncio de quem percebe que o jogo virou.
Vale destacar que a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) faziam parte da ala mais favorável a Jair Bolsonaro (PL) dar um golpe de estado em 2022 após perder as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva. É o que revela a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Pelo visto, Eduardo Bolsonaro que já tem uma vivência pelo mundo (já fritou hambúrgueres nos Estados Unidos e distribuiu pen drives na Copa do Mundo), reforçará o provérbio popular de que “cão que late não morde”.
Como bom observador da vida real, Bezerra diria que certos “valentões de Brasília” não passam de “bicho feroz” até a hora que a sirene toca. E aí, meu irmão, a marra some, e só resta lavar a roupa da malandragem.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)
Pietra Souto Lemberck (Pink) é estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria e membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).
Resuma da opera III. Kuakuakuakuakuakuakua!
Resumo da opera II. Esther Grossi fez escola. Problema é que só os mais antigos lembram quem ela foi.
Resumo da opera I. Provocações ‘corajosas’ de quem anda sem segurança na rua, além de acrescentar nada, é pedir uma garoa com vento. Nesta hora algum(a) militante com uma marca de sorvete tatuada na testa vai dizer ‘está ameaçando!’. Não, só recomendando mais cautela.
Noutro dia alguém reclamou do fechamento do Departamento de Educação. Nos EUA. Medo de que copiem Trump. O que, pelo exposto, não seria má idéia.
Filho 03, como deputado também deve ter segurança, falou, mas falou majoritariamente em BSB. Não escondido na insignificancia a 2 mil quilometros de distancia. Não existe espaço para desenho no site, mas para resumir ‘muito corajoso’.
Xandão nunca mais vai poder andar na rua sem segurança armada ao redor. Incluindo a familia proxima. Obvio.
Quando dirijo nas ruas da aldeia e algum motorista faz o favor de inopinadamente interceptar a trajetoria do veiculo que dirijo agradeço. Pura e simplesmente porque não tem como saber qual o tipo de maluco(a) que está no outro carro.
Kuakuakuakuakuakua! A falta de café no bule descambou para a provocação militante! Kuakuakuakuakuakua!