Dom Ivo Lorscheiter faz muita falta! – por Valdeci Oliveira
Saudades e lembranças, os 18 anos da morte do “Gigante da Esperança”

Na última quarta-feira, 5 de março, a passagem do grande Dom Ivo Lorscheiter, bispo emérito de Santa Maria, aquele que foi e sempre será o nosso “Gigante da Esperança”, como era carinhosamente conhecido, completa 18 anos. Nessas quase duas décadas de saudades e lembranças, o tempo nos mostra que ele, o tempo, passa rápido, não volta e o que fica, no caso de Dom Ivo, é o exemplo de que toda luta, quando justa, vale a pena, que a opção por estar ao lado dos injustiçados, desvalidos e marginalizados é inegociável e que a esperança deve ser onipresente, eterna. E talvez o mais importante nesses tempos que ousam em continuar estranhos, é que o legado desse religioso, que comandou a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por mais que alguns tentem, jamais será tirada da memória do povo santa-mariense, gaúcho e brasileiro, jamais terá sua história reescrita por quem prefere vê-la apagada, menosprezada.
Dom Ivo faz falta. Nos faz falta a sua firmeza diante de situações agudas que eram sempre acompanhadas com a ternura que também lhe era peculiar. Nos faz falta a sua seriedade, por vezes ilustrada pelo cenho franzido, emoldurada pelo bom humor de quem tem o coração aberto e permanentemente disposto a doá-lo. Nesses tempos que continuam estranhos, com gente poderosa ameaçando o mundo, nos faz falta sua delicadeza no trato com o outro, sua palavra de fé, sua mão a proteger aqueles que sentem medo diante do abismo. Nos fazem falta suas palavras de conforto diante das incertezas e finitude da vida. Nos fazem falta suas orações pela saúde de um certo Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, hoje fragilizado pela idade. Aliás, duas figuras umbilicalmente unidas em se tratando de justiça social.
Dom Ivo faz falta no embate entre a fé e os falsos profetas, que exploram seus rebanhos “vendendo” a prosperidade com uma Bíblia embaixo do braço e um relógio de luxo no pulso a reluzir sobre os altares da religião. Ou na busca pela lucidez coletiva, mostrando os verdadeiros algozes que usam o nome de Deus para justificar o preconceito, o ódio e a perseguição ao diferente.
Nesses tempos estranhos, em que nossa Democracia continua a ser covardemente testada por quem nega as atrocidades de uma Ditadura verde e amarela, nos faz falta sua experiência forjada a duras penas como um dos principais dirigentes da Igreja Católica brasileira quando os coturnos trouxeram a censura, a tortura e a morte de quem ousava lutar por liberdade e contra as mazelas sociais. Num dos períodos mais obscuros daquele triste e horrendo passado, no início da década de 1970, já à frente da CNBB, Dom Ivo deu voz e vez a homens e mulheres que não tinham nem um e nem outro. Aos perseguidos pelo regime, abriu as portas da Confederação, oferecendo abrigo e proteção.
Eu, que tive a honra de ter integrado as pastorais no período que Dom Ivo coordenava a Diocese de Santa Maria, tenho muito a agradecer por todo o aprendizado humano e social que tive com ele. A minha formação, felizmente, tem muito desse “Gigante”. E tenho certeza que, lá do outro plano, lá da “Casa do Pai”, ele, com a sua postura sempre determinada, segue iluminando a caminhada de todos aqueles e aquelas que se erguem contra as injustiças e as desigualdades e que enfrentam com vigor a pobreza e a miséria imposta a muitos brasileiros e brasileiras.
Mestre da inclusão e professor da resistência pela fé, entre tantas e tantas jornadas de luta, Dom Ivo nos apresentou a economia solidária, o Banco da Esperança, o Projeto Esperança/Cooesperança, o Feirão Colonial e a Feicoop, a Feira de Economia Solidária e do Cooperativismo Alternativo que hoje (com o grande trabalho da irmã Lourdes Dill e equipe) virou Internacional e que é simplesmente o maior evento de Santa Maria, o que mais atrai visitantes para a cidade.
Apesar da saudade e da falta sentida, ao falarmos de Dom Ivo nos sobra carinho, nos sobra o sentimento de que para muitos ainda é preciso resistir para existir, nos sobra a confiança de que o ser humano ainda pode dar certo.
E cabe a todos os lutadores e lutadoras sociais manter viva a memória, relembrar os passos e levar às novas gerações os ideais, o exemplo de força, a lucidez e a coragem que Dom Ivo externou ao longo da sua trajetória.
Para a nossa sorte e alegria, passadas quase duas décadas de sua passagem, temos a plena convicção de que Dom Ivo, com seus ensinamentos sempre coletivos, solidários, fraternos e transformadores, ainda está aqui.
Dom Ivo, Presente! Dom Ivo, Sempre Presente!
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.
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