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Quem planta Golpe, colhe Grades! – por Valdeci Oliveira

E o “show de horrores, desfilar de mentiras, teorias conspiratórias, ataques...”

O Brasil realmente é um país peculiar. Nosso famoso “jeitinho”, ou “gambiarra”, seria uma tática dos pobres para enfrentar a desigualdade a que são cotidianamente submetidos. A tese, bem fundamentada, é de uma professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Sabrina Sedlmayer, em seu livro “Quem não tem cão, caça com gato: estudando a gambiarra”.

Para Sedlmayer, é onde os “vencidos e dominados inventam a vida cotidiana, resistem e tentam sobreviver.” Mas como tudo numa cultura, até a “gambiarra” tem seu conceito absorvido, remodelado e deixa de ser uma exclusividade de quem o criou.

A “gambiarra” do momento responde pelo nome de “Anistia”. Proposta pela ala mais radical da política brasileira, ela foi repetida durante a manifestação à imprensa do ex-presidente Bolsonaro, logo após o STF torná-lo réu, junto com outros sete, por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Digno de um show de horrores, foram mais de 40 minutos de um desfilar de mentiras, teorias conspiratórias, desinformação e ataques às urnas eletrônicas, ministros da Suprema Corte e ao presidente Lula. Na busca insana por parecer vítima de uma “perseguição política”, a fala do agora réu deve render muitos cortes a serem disparados a seus seguidores, que ato contínuo os distribuem a amigos, parentes e colegas de trabalho.

Com a milícia digital alimentada, a gambiarra da Anistia será um dos elementos da guerra que a extrema-direita passará a travar nos próximos meses. Outro flanco é a articulação externa com vistas a intervenção de um governo estrangeiro sobre o Judiciário brasileiro, levado a cabo pelo filho que fugiu para os Estados Unidos, numa inequívoca demonstração de ataque à nossa soberania e interesses do Brasil enquanto nação. Se dizem patriotas, mas nos veem como colônia.

Ao pedir Anistia, o ex-presidente réu usa o argumento da conciliação do país, o mesmo utilizado em 1979 pelos coturnos que pisotearam nossa Democracia, em 1964. E o faz com o mesmo objetivo, o de beneficiar os únicos criminosos.

Na Ditadura Militar, a Anistia vestiu a falsa roupa de que vinha para pacificar opostos em conflito que, em tese, cometeram crimes um contra o outro – como se houvesse tido paridade de armas e um dos lados não fosse o Estado, com sua força bruta, tanto em escala quanto em extensão.

No fim das contas, ela varreu para debaixo do tapete, na tentativa de retirar da nossa memória, as perseguições, prisões, tortura, morte e desaparecimento de opositores do regime vigente e deu em troca o direito de exilados voltarem ao país e reencontrarem seus familiares, suas vidas.  A de agora, quer fazer sumir, entre outras barbaridades, atentados a bombas, destruição dos Poderes constituídos, planos de assassinato e a tentativa de jogar o Brasil numa espiral de caos e violência.

A diferença é que há 46 anos a proposta veio depois de cometerem crimes e atrocidades por década e meia. Agora, bastou pouco mais de um ano e vem antes mesmo do julgamento do núcleo pensante do golpe, como se a proposta fosse para os chamados “patriotas”, aqueles que fizeram o serviço sujo para um líder radical que os incentivou e insuflou, para em seguida partir rumo ao exterior, assistindo a tudo de camarote.

Sabemos todos que, em 1979, a “solução” imposta à sociedade civil organizada foi para salvar a pele daqueles que participaram de um regime assassino e que se mostrava putrefato, cuja economia esfarelava e a crueldade dos desmandos cometidos contra sua própria população apareciam aqui e acolá. Ao acompanhar o comunicado à imprensa pelo agora réu, vi o mesmo, além de um homem tentando se segurar em qualquer coisa, até mesmo no irreal, como velhinhas com Bíblia e cabelereira com batom, para fugir das suas responsabilidades.

Ainda assim, me pergunto: não sabia ele que quem planta um golpe de estado, colhe grades, colhe a Papuda? Achou ele que as instituições do Estado brasileiro ficariam inertes diante de algo tão sério como é atentar contra a Democracia, principalmente depois de passarmos por experiência recente que durou longos e tenebrosos 21 anos? Parece que sim.

Enquanto isso, Luiz Inácio fez mais uma produtiva missão internacional. A ida ao Japão já garantiu a assinatura de dez acordos e quase 80 instrumentos de cooperação entre Brasil e o país asiático nas áreas de transição energética, agricultura, pecuária, educação, saúde comunicações, ciência e tecnologia e aviação – como a compra de 15 jatos da Embraer, num negócio de R$ 10 bilhões.

Assim como o ex-presidente e agora réu, o que Lula está colhendo também é resultado do que ele plantou durante a sua vida pública, utilizando sementes com as marcas da defesa incondicional da Democracia, do diálogo, da igualdade de oportunidades, da equidade, da inclusão social e do desenvolvimento econômico capaz de distribuir renda para o seu povo. E isso faz toda a diferença.

Sem Anistia!

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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