A Arte da Guerra: de manual militar milenar a calço da mesa do salão Oval – por José Renato Ferraz da Silveira e João Pedro Bandeira Soares

No dia 10, a Casa Branca afirmou à imprensa americana que produtos chineses importados pelos Estados Unidos serão alvos de uma tarifa total de 145%. Esse percentual é resultado da soma da taxa anunciada por Donald Trump na quarta (9), de 125%, a uma tarifa de 20% aplicada no início deste ano. Tal esclarecimento feito por Washington é a quarta mudança anunciada na relação comercial com a China, a segunda maior fonte de importações dos Estados Unidos, em pouco mais de uma semana.
Mesmo assim, a China diz que não vai recuar e os “Estados Unidos estão se colocando contra o resto do mundo”.
A China também anunciou a entrada em vigor de tarifas de 84% sobre importações americanas.
Pequim declarou que está aberta ao diálogo com base no respeito mútuo e ponderou que não aceitará intimidações caso os Estados Unidos continuem a ofensiva. A Embaixada da China nos Estados Unidos resgata fala de Mao Tsé Tung: “Nunca nos renderemos”.
Xiao Lu, autoridade do Ministério do Comércio chinês, durante coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (09) disse que “o vasto potencial do mercado chinês continua a ser explorado, enquanto medidas para estabilizar a economia e o comércio externo vêm sendo implementadas de forma gradual”.
Especialistas afirmam que a firmeza do governo Xi Jinping mostra resiliência da economia chinesa e que o país está cada vez mais voltado para uma autossuficiência em que toda demanda interna não necessite de importações.
De qualquer modo, a inconstância de Trump (muitos recuos) aliado ao risco de colapso financeiro e dano à economia dos Estados Unidos evidenciou que o presidente americano (diferente do que disse) “não sabe o diabo que está fazendo”.
As enormes tarifas que ele “impôs” deixaram os mercados globais em parafuso. Nesse sentido, o pesquisador associado da FGV/ibre, Samuel Pessôa, afirmou que a “política de Trump é meio desastrada (…) e que a democracia americana produziu uma equipe econômica que parece amadora”.
O economista chinês Li Daokui, da Tsinghua, pondera que Trump não entende a “A Arte da Guerra” e que estimulará avanços significativos a China.
Parafraseando Sun Tzu, “devemos avaliar o panorama estratégico antes de qualquer tomada de decisão. Não podemos ocasionar mudanças nesse panorama, mas podemos elaborar planos diante da ocorrência de uma possível mudança”.
Dessa forma, a tarefa é elaborar um plano tático de batalha com base em quaisquer mudanças que possam ocorrer nesse cenário estratégico.
Sun Tzu dizia que o poder de evitar a derrota está em nossas mãos.
E a China entende bem isso. Sabe se colocar fora do alcance da possibilidade de derrota.
Como afirma o professor de economia da ESPM, Leonardo Trevisan, hoje a China que conhece as regras do jogo, sabe e aprendeu como funciona, estudou como as principais economias ocidentais agem e como aluno exemplar mescla “tradição/renovação” e utilizará a OMC como instrumento/barganha político/diplomático/estratégico de que as disputas comerciais devem ser balizadas pelas atuais regras/leis do comércio internacional. “Com muitos cálculos, pode-se vencer uma guerra, com poucos, não. Quão pequena é a possibilidade de vitória daquele que nenhum cálculo faz! Mediante tais critérios, examina-se a situação e o que há de acontecer se tornará claramente visível” (Sun Tzu).
Parece que o errático governo Trump precisa ler/reler a Arte da Guerra de Sun Tzu para lidar com a China e o mundo
Aliás, falando em “A Arte da Guerra”, é quase irônico que o próprio Trump e sua equipe pareçam ter virado fãs de livros de cabeceira que foram criados para o mundo corporativo moderno, como se uma guerra comercial fosse uma convenção de vendas em Las Vegas. Livros como “A Arte da Guerra para Executivos” e “Estratégia de Guerra no Mundo dos Negócios” lotam as prateleiras de quem acha que um Estado milenar como a China pode ser tratado como uma start-up do Vale do Silício. Trump parece genuinamente acreditar que vai ganhar na força bruta contra quem tem séculos de experiência em sobreviver a dinastias, invasões e crises globais. Ingênuo ou arrogante? Talvez os dois.
A verdade inconveniente para Washington é que os Estados Unidos nunca souberam lidar com adversários que recusam as regras capitalistas convencionais. Foi assim com a União Soviética nos anos 1980, quando os americanos tiveram que forçar os soviéticos a seguirem suas próprias regras para, então, saírem vitoriosos. Mas eis a ironia do momento atual: a China não só jogou conforme as regras do mercado global como, para o desespero de Washington, venceu dentro delas. Resultado? Agora os EUA tentam desesperadamente mudar as regras do tabuleiro, rasgando o manual que eles mesmos escreveram.
No fundo, a tentativa americana de resgatar um jogo perdido soa como aquelas crianças mimadas que, ao perderem no tabuleiro, pegam todas as peças e jogam longe, gritando que o jogo era injusto. O problema é que, desta vez, não se trata de brincadeira. Trump e sua trupe estão apostando que destruir o tabuleiro inteiro será suficiente para conter a China. Mas Pequim, astuta como sempre, já está jogando em vários outros tabuleiros ao mesmo tempo e, ao que tudo indica, vencendo em todos eles.
Jabbour, Elias, and Alberto Gabriele. China: o socialismo do século XXI. Boitempo Editorial, 2021.
Kissinger, Henry. “On China.” (2019)
Tzu, Sun, et al. A arte da guerra. Editora Évora, 2010.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).
João Pedro Bandeira Soares é graduando em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).
Resumo da opera II. Para escrever panfletos não precisa doutorado.
Resumo da opera. Não tem como saber o que sai disto. Vermelhos sem mentiras não têm argumentos. Os atuais ‘defensores da democracia’ torcem e apoiam um regime totalitário. Talvez sonhem com a China uma potencia unica que vai perpetua-los no poder.
‘[…] já está jogando em vários outros tabuleiros […]’. Não existe mercado do tamanho e nem com o mesmo poder aquisitivo que o ianque. Para ter uma base o PIB ianque é mais que 14 vezes o brasileiro. O PIB per capita é 8 vezes maior.
‘[…] rasgando o manual que eles mesmos escreveram.’ Vantagem competitiva é algo que saiu da academia. No papela parece bonito. Mas não leva em conta as consequencias sociais e politicas.
‘Mas eis a ironia do momento atual: a China não só jogou conforme as regras do mercado global como, para o desespero de Washington, venceu dentro delas.’ Outra cascata. Com dumping social, mão de obra barata, atraiu empresas do ocidente para aquele pais. Promessas de abertura de mercado. Transferidas as manufaturas para lá, o mercado continuou controlado. As empresas que para lá se mudaram tiveram tecnologia copiada. Uma empresa fabrica telefones, transfere para lá suas operações. Não custa nada construir outra fabrica do lado e fazer os empregados da empresa ocidental treinarem os da fabrica pirata. Os componentes já estão todos la mesmo.
‘[…] quando os americanos tiveram que forçar os soviéticos a seguirem suas próprias regras para, então, saírem vitoriosos.’ Cascata. Qualquer livro de historia mostra a verdade. Reagan começou uma corrida armamentista e a economia sovietica que já estava caindo de podre ruiu.
O guru das tarifas do Agente Laranja é um sujeito chamado Peter Navarro. Musk na rede social que possui o chamou de idiota e ‘burro como um saco de tijolos’.
‘[…] Leonardo Trevisan, hoje a China que conhece as regras do jogo, sabe e aprendeu como funciona, estudou como as principais economias ocidentais agem e […]’ e utilizará a OMC como instrumento/barganha […]’. China ajudou a afundar a OMC, principalmente no que toca o acordo TRIPS. Não respeitam propriedade intelectual, pirataria é o que mais se pratica por la, sem falar no dumping social.
Sun Tzu escreveu o tal manual. Não é o unico, mas é o mais famoso no ocidente. Afirmar que os chineses o seguem é basicamente chute. Ou seja, um livro famoso citado para encher linguiça e obter credibilidade.
China culturalmente trabalha num horizonte de tempo diferenciado. ‘Pensa’ mais a longo prazo. O regime, apesar das aparencias, é totalitario. Com uso amplo de tecnologia para controlar a população. Agente tem dois anos. Até as eleições de meio de mandato. Simples assim.
É um festival. Por isto que a Academia perde credibilidade. Não é uma análise, é um manifesto anti-Agente Laranja e a favor da China. Elias Jabbour é figura conhecida. Tese de doutorado na USP ‘ Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado na China de Hoje’. Era assessor de Dilma, a humilde e capaz, nos Brics. Onde esta escrito ‘assessor’ leia-se ‘ocupa um cabide’.
“Homem primata, capitalismo selvagem”. A boa notícia é que Harvard não se rendeu. Para todos aqueles que não gostam de livros e nem da academia desejo “feliz aniversário, envelheço na cidade!”