Alô, Jojo Todynho: se não fosse o SUS… – por Valdeci Oliveira
O articulista e o “desrespeito com o maior sistema de saúde gratuito do mundo”

Diz a sabedoria popular, imortalizada num pequeno texto do dramaturgo alemão Bertold Brecht, que o pior analfabeto é o analfabeto político, que sequer sabe sobre seu papel na sociedade, a parte que lhe que cabe nesse latifúndio chamado vida. Também não sabe o porquê, por quem e de que forma lhe é oferecida a exploração como modo de vida a ser aceito. Sequer sabe que o maior “perigo” que lhes oferecem aqueles contra quem luta é tirar dos seus braços e pernas os grilhões que aprisionam seus sonhos e futuro.
Nestes tempos estranhos que vivemos, um dos sintomas é que as manifestações em redes sociais de famosos e subcelebridades pautam e tomam conta da discussão pública – e política. Como numa tempestade perfeita, o que vemos diante dos olhos é a precariedade do debate, a não contribuição para as transformações que realmente importam e precisam ser feitas, a tristeza de constatar o quão raso chegamos com a desonestidade intelectual tentando dar as cartas para desacreditar o oponente, despindo-o de qualquer veste com traço minimamente humano.
E foi com esse pano de fundo que o SUS e a influenciadora digital chamada Jojo Todynho ficaram, na semana que passou, no que se chama de “assuntos do momento” numa rede social, em que ela tem milhões de seguidores.
Sem dados ou comparativos (ela poderia começando com os Estados Unidos, onde famílias vão à falência quando são obrigadas a pagar os altos custos de cirurgias ou tratamentos contra o câncer, por exemplo), Jojo afirmou em um vídeo que ‘só fala bem do SUS quem não usa’ e que o Sistema só oferece filas sem atendimento, exames não realizados e escassez de remédios. Reduz o SUS a algo inoperante e caótico, num rosário de críticas do senso comum e com descomunal desconhecimento de causa.
Bastaria uma rápida pesquisa no espaço que ela atua com tanta destreza – a internet – para corrigir uma desinformação flagrante sobre o assunto. Se tivesse dado um simples “Google”, descobriria que o SUS é prevenção, vacinas, ambulâncias, remédio gratuito, transplante de órgãos, pesquisa, fiscalização. Pasmem, Jojo ficaria sabendo que, só em 2024, o Sistema Único realizou 13,6 milhões de cirurgias eletivas, o recorde da história.
Talvez ainda garimpasse rapidinho a informação de que, desde sua criação, o SUS garante que todos os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso aos serviços de saúde. Poderia também aprender que o SUS foi pioneiro no controle da epidemia de AIDS, e o Brasil possui o maior programa público de transplantes do mundo graças ao SUS.
Indo um pouco mais além no debate, é preciso lembrar ainda que, não fosse o SUS, e apesar dos desmandos do presidente na época, teríamos sucumbido à pandemia da covid-19, e milhões de brasileiros não teriam acesso a 100% de gratuidade em todos os 41 medicamentos do Farmácia Popular.
Certamente Jojo desconhece também que o SUS oferece tratamento inovador para Atrofia Muscular Espinhal tipo 1 a toda a população que necessita e que pela primeira vez terá seu medicamento incorporado ao Sistema, fazendo com que o Brasil agora faça parte de um pequeno grupo de apenas 5 países que seguem esse modelo.
A postura da influenciadora, que cotidianamente busca ficar em evidência no pantanoso terreno “caça cliques” do mundo virtual, não tem nada de preocupação com quem necessita de saúde gratuita para viver. Ela usa o SUS para se firmar como liderança entre as vozes da extrema-direita negacionista no segmento das celebridades. E o faz num momento em que, coincidentemente, o cerco se fecha em torno de suas lideranças políticas por conta das comprovadas tentativas de assassinato de autoridades da República e de um golpe de estado.
Jojo critica o SUS para acertar Lula num momento em que o debate verdadeiro é sobre as taxações de Trump em desfavor da nossa economia – que essa turma apoia – e a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil – que essa turma é contra. Ela busca é desviar a atenção do real interesse do projeto de “anistia”, vendido como se fosse para os presos do 8 de Janeiro, mas que visa unicamente livrar da cadeia o maior beneficiado dos crimes cometidos.
A postura de Jojo não só é um desrespeito com o maior sistema de saúde gratuito do mundo, como também contém o componente do “absurdo”: o espectro ideológico no qual ela é militante defendeu, em 2019, a privatização do SUS (que seria só para pobres e indigentes, mas a pandemia os obrigou a voltar atrás) como de todo serviço público, incluindo a educação.
Desde que “abriu” seu coração para a versão chucra da direita brasileira, Jojo ilude quem nela se espelha e ignora sua origem em troca de ser aceita pelos verdadeiros responsáveis pelas mazelas jogadas sobre os mais pobres. Sugestão para ela: gravar vídeos defendendo melhores condições de financiamento para o SUS e cobrando a implementação integral do Piso Nacional da Enfermagem.
Em alto e bom som: Viva o SUS! Mais SUS, menos desinformação!
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.
Resumo da opera. Ao inves de debater problemas Tonho Aideti, o mesozoico, cria uma ‘briga imaginaria’ com uma influencer que pouco ou nada tem a ver com o RS. Fica patente a total falta de capacidade de exercer um mandato.
‘[…] a implementação integral do Piso Nacional da Enfermagem.’ Jogaram dinheiro num problema para fazer outra cortina de fumaça. Resolver problemas é só aumentar salarios?
‘[…] gravar vídeos defendendo melhores condições de financiamento para o SUS […]’ Por que o Rato Rouco não coloca mais dinheiro no SUS? O governo reclamando dele mesmo!
‘[…] ser aceita pelos verdadeiros responsáveis pelas mazelas jogadas sobre os mais pobres.’ Luta de classes. Falaciosa ainda por cima, vamos fazer uma auditoria no patrimonio dos politicos vermelhos.
‘[…] é um desrespeito com o maior sistema de saúde gratuito do mundo […]’. Tenho um carro que é uma lata velha. O sistema é publico, res publica. Logo é de todos, pode ser criticado a vontade. Totalitarios não gostam, mas é a liberdade de expressão do art. 5º da CF. Clausula Petrea. O que não gostam que deem um no na canela e saiam gritando.
‘[…] desviar a atenção do real interesse do projeto de “anistia” […]’. Quem presta atenção nisto são Molusquistas e Cavalistas. Os demais tem outros problemas. Cortina de fumaça.
‘[…] e a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil – que essa turma é contra.’ Outra cortina de fumaça. Governo alertou sobre colapso das contas publicas depois de 2027. Sem problema, é depois da eleição.
‘[…] num momento em que o debate verdadeiro é sobre as taxações de Trump em desfavor da nossa economia […’. Obrigação de todos é prestar atenção na cortina de fumaça porque os autoritários querem.
Existe uma semana de conscientização do autismo. Atinge cerca de 3% das crianças. Como se o unico problema das crianças autistas fosse o autismo. Por que não existe uma semana do SUS? Ver como estão os outros 97% (na verdade são 100%) das crianças?
‘[…] não tem nada de preocupação com quem necessita de saúde gratuita para viver.’ Não vi o que a moça disse. Mas é o velho espantalho dos vermelhos. Qualquer critica é um ‘ataque’, uma ‘tentativa de privatização’. E uma exposição da falta de capacidade dos politicos. O debate morre e tudo fica na base do ‘é o que a casa tem para oferecer’.
‘[…] oferece tratamento inovador para Atrofia Muscular Espinhal tipo 1 […]’. Não deve ficar sem tratamento, é certo. Mas são menos de 1600 casos por ano. Numa população de mais de 211 milhões. Truquezinho: citar as minorias para fazer parecer que funciona para a maioria.
‘[…] não fosse o SUS […] teríamos sucumbido à pandemia da covid-19 […]’. Situação episódica. Unica caracteristica do sistema que importou foi a capilaridade.
‘[…] o SUS garante que todos os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso aos serviços de saúde.’ É por isto que a maioria corre para planos de saude, ainda que furados, assim que pode. São ‘burrões’, o sistema funciona como se fosse suiço.
‘[…] só em 2024, o Sistema Único realizou 13,6 milhões de cirurgias eletivas, o recorde da história.’ A fila tinha aumentado 26% em relação a 2023. No final da contagem mais de 1,3 milhão continuaram esperando e a fila não para de crescer. Corrigiram a estatistica, não o sistema.
‘[…] o Sistema só oferece filas sem atendimento, exames não realizados e escassez de remédios.’ Demanda é muito maior que a oferta. Simples assim. Da metade do ano passado para cá começou a faltar insulina na rede privada. E na rede publica também. Nem remédio é.
Fiscalização. Algumas mulas imbecis andaram falando que a vigilancia sanitaria era parte do SUS. Como se o foco do debate fosse este. E o tipo de serviço que ninguém presta atenção.
‘[…] prevenção, vacinas, ambulâncias, remédio gratuito, transplante de órgãos, pesquisa, fiscalização.’ Até parece que é perfeito. Existem filas para consultas e exames. Demoram. Se a pessoa tem uma doença grave pode morrer antes do tratamento ou ficar muito prejudicada antes que comece. Vacinas as vezes faltam, mas não tem importancia porque a procura não é grande de qualquer forma. Remedio gratuito mas não todos e nem para todo mundo (universal?). Transplante de orgaos é algo importante mas faltam doadores. Pesquisa é só estatistica.
‘[…] Estados Unidos, onde famílias vão à falência quando são obrigadas a pagar os altos custos de cirurgias ou tratamentos contra o câncer […]’. Ianques tem o Medicaid para pessoa sem poderes aquisitivos. Também existe o Medicare para pessoas acima de 65 anos ou com idade inferior com necessidades especiais. Empresas com mais de 50 funcionarios em tempo integral são obrigados a pagar o seguro saúde dos empregados (Affordable Care Act ). Anti-americanismo acéfalo.
‘[…] o que vemos diante dos olhos é a precariedade do debate […]’. ‘[…] a tristeza de constatar o quão raso chegamos com a desonestidade intelectual […]’. No começo existe um chamado a Jojo Todynho. Jojo Todynho.
‘Nestes tempos estranhos que vivemos, […]’. Depois que caiu o asteroide os dinossauros devem ter pensado a mesma coisa.
O que se ve do caso do analfabetismo politico é puro autoritarismo. Vermelhos passam o tempo vigiandoe analisando os outros e prescrevendo regras de como deveriam se comportar e ‘tocar’ a vida.
Bertold Brecht era um comuna alemão. Dizem que não se pode falar mal a respeito dos mortos. Bertold Brecht está morto. Bom. Aviso: isto é plagio e não lembro o autor.