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Os Animes e a necessidade de limites para nós e para a Inteligência Artificial – por Gibsy Caporal

“A apropriação de um trabalho e uma cultura incorporada e distribuída pela IA”

Nós damos o limite para a Inteligência Artificial? Nos últimos dias vimos como a inteligência artificial (IA) produziu dezenas de Animes a partir de comandos simples na Open AI, expandindo mais uma vez o poder da tecnológica e das plataformas como Instagram, X e Facebook. Estive pensando sobre esses desdobramentos e fiz diversos questionamentos sobre a cultura, a comunicação e o trabalho que se inserem nesse tema. Mas antes de explicar aonde eu quero chegar, gostaria de falar para os ansiosos por saber o que está acontecendo com o sucesso dos Animes nos últimos dias, sobre o que são os realmente os Animes e dizer que seu sucesso não depende da IA, mesmo que pareça ser assim. Como está no Instagram @ghiblibrasil, o marketing da IA produziu uma esvaziamento, onde parece que todo um universo começou hoje e é de propriedade da IA.

Para contextualizar, os Animes são desenhos japoneses criados em uma forma através da qual sua estética e traços são únicos, dando-lhes uma característica baseada em um desenho de personagens que se destacam por olhos grandes e arredondados, assim como expressões exageradas que captam facilmente a atenção. Falo dos filmes Animes infantis, por ter vivido grandes experiências com meus filhos, Leonardo e Laura, em um universo diferente e muito interessante.

Ponyo foi o filme que apresentei ao meu filho Leonardo, na época com oito anos. Fomos envolvidos por muitas tardes de sábado vendo, por mil vezes, como é a prática desta fase da vida, o peixe que deseja se transformar em uma menina. Com um desenho laranja e olhos enormes, o peixe nos atraiu para um mundo diferente dos desenhos da Pixel e da Disney, dos quais estamos acostumados.

Anos depois, a Laura, com 5 anos, se maravilhou, e se assustou, admito, com A Viagem de Chihiro, quando vimos os pais de Chihiro serem transformados em porcos enormes e a menina ser acompanhada por um fantasma gigante, enquanto procurava pelos pais em um mundo cheio de criaturas da cultura japonesa, da qual pouco entendíamos, mas nos impressionávamos.

Ambos os filmes são do Studio Ghibli, no qual seu maior expoente é Hyao Miyazakii, no entando, são muitos artistas de Anime que acompanham a arte produzida em desenhos à mão e quadro a quadro, sem o componente digital, já muito usado por outros tipos de arte e muitas produtoras de cinema.

Com esse detalhe de produção manual e de característica cultural japonesa, eles venceram o Oscar de melhor animação em 2000, e receberam diversos outros prêmios, sendo a A Viagem de Chihiro escolhida, por especialistas, como um dos melhores filmes do século XXI. Conto tudo isso para chegar a minha questão principal que é entender como o trabalho detalhado e minucioso de desenhistas, artistas e cineastas da cultura japonesa foi capturado pela inteligência artificial e propagado pelo Instagram, Whatsapp e Facebook, como se cada um de nós, através da a ajuda promocional da IA, fossemos donos desta arte.

Nós damos limite para a Inteligência Artificial? Foi a pergunta que não saiu da minha cabeça na última semana, quando me deparei com o Instagram mostrando conhecidos, amigos e familiares se transformando em desenhos japoneses. Então chego ao tema por detrás dos desenhos, a apropriação do trabalho pela Inteligência Artificial, tema que fez parte das pesquisas que me levaram a minha Tese de Doutorado em Comunicação, onde analisei por quatro anos, como o trabalho dos jornalistas estava sendo moldado pela cultura digital (e isso poderia ser assunto para um próximo debate por aqui). Contudo, sobre os Anime, mais uma vez percebo uma apropriação e, desta vez, explícita, de um trabalho e de toda uma cultura sendo incorporada e distribuída pela IA. As relações de trabalho, portanto, sendo reconfiguradas pela inserção da tecnologia em um mundo cultural que passa a não ser mais deles, mas de qualquer um. Ou melhor passando a ser da plataforma de IA que “se apropria de uma filosofia artística e de valores que vão na contramão da indústria” (@ghiblibrasil, postagem de 2 de abril de 2025).

Podemos e precisamos pensar juntos sobre isso. Vamos deixar a Inteligência Artificial dominar as culturas e os valores, se apropriar do trabalho dos artistas para, ao fim e a cabo, gerar uma exposição individual no Facebook ou Instagram como se tratasse apenas de uma brincadeira, esvaziando, nas palavras do próprio estúdio “esvaziar” seu maior propósito.

Vamos aceitar que para animar a plateia de internautas, sem custos e sem limites, a Open AI do ChatGpt, cause um custo imenso quando pensamos nos artistas e desenhistas japoneses que veem seu trabalho ser copiado pela Inteligência Artificial e pelas plataformas sendo entregue de bandeja aos consumidores dessas redes, sem respeito algum pela sua propriedade intelectual e pela subjetividade artística.

Tendo claro a complexidade que o tema envolve, precisamos estabelecer limites à tecnologia. Principalmente porque a aura de que as redes não tem dono, possibilita que toda uma indústria milionária por trás da Open AI e do ChatGpt, neste caso, esteja cada vez mais ganhando por esta apropriação “free”, “Instagramável” que gera muitas “curtidas” e que diverte os internautas enquanto geram lucros para as plataformas, a partir do trabalho “de outros” que, segundo percebe-se nos entrevistas dadas pelo próprio Hayao Miyazaki, a arte feita a mão é única e sequer autorizaram tal cópia ou uso de seu trabalho.

E então, essa apropriação vai se estender ao trabalho além da arte? Respondo que de certa forma já chegou em todos os trabalhos e os campos da nossa vida. Informações que compartilhamos nas plataformas, fotos, estudos, textos como este aqui, estão circulando e, portando, estão de posse das plataformas. Assim, não havendo Regulamentação para as Plataformas e IA, essas redes foram sendo tratadas em um ambiente de abstração, geográfica e de responsabilidades. O que não permite uma identificação clara de sua origem, objetivos e, principalmente, impactos gerados na sociedade e na economia. O que elas podem ou não fazer? Qual é o seu limite quando já vemos uma pirataria cultural acontecer e da qual participamos.

Além disso, se nós não nos questionarmos sobre o limite que cada um de nós precisa dar às ofertas irresistíveis apresentadas pela IA, é questão de tempo para que elas se apropriem dos nossos trabalhos também, em um futuro não muito distante, portanto, consciência coletiva e conhecimento, acompanhadas de regras e leis que regulamentem essas empresas poderia ser uma solução.

A viagem de Chihiro: fantasma que aparece com a menina seria uma personificação da consciência que a acompanha (Foto Divulgação)

Como no filme “A Viagem de Chihiro”, segundo indicam algumas falas de seu diretor, o fantasma que acompanha a menina seria uma personificação da consciência que a acompanha. Podemos então concluir sobre como nossa consciência coletiva está sendo moldada pelo impacto das novas tecnologias, pelo ambiente das redes ao nosso redor e, sobretudo como precisamos conhecer e compreender mais sobre o ambiente dos negócios das plataformas e IAs e seus impactos no trabalho, na cultura e na sociedade.

Dito isso, não podemos assumir como Polianas, todas as ofertas das plataformas, como foi a oferta dos Animes como lindas e belas imagens instagramáveis, a consciência coletiva precisa superar a ingenuidade. Mas esse é outro filme, e Polianas vivem de uma narrativa bem diferente da realidade vivenciada pelos artistas de Animes, nesses últimos dias.

(*) Gibsy Caporal é Doutora em Comunicação pela UFSM, Mestre em Administração e Competitividade, Administradora,  Professora do Instituto Federal Farroupilha e integra o Grupo de Pesquisa em Comunicação Institucional e Organizacional – GCinco-CNPQ-UFSM

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16 Comentários

  1. Resumo da opera II. A ideologia do ‘todos são iguais, todos podem fazer tudo, tudo tem valor igual’ foi para o vinagre. Inteligencia artificial acaba com a mediocridade e a submediocridade. Inclusive na academia. Os verdadeiramente criativos, inovadores e com ideias originais irão se destacar. Simples assim.

  2. Resumo da opera. Brasil está em desvantagem no campo da IA. Pouca pesquisa no assunto. Para o treinamento das estrangeiras também perde. Mais da metade do conteudo da internet utiliza o ingles. Portugues fica em 6 com 4%. Perde ainda para o espanhol, alemão, japones e frances. Praticamente empata com o Russo.

  3. ‘[…] precisa superar a ingenuidade.’ Só os vermelhos não são ingenuos. Afinal, são ‘iluminados’ e sua função é ‘salvar a humanidade’.

  4. ‘[…] a consciência coletiva precisa […]’. Uma especie de citação de Jung (o inconsiente coletivo). Mais repetição.

  5. ‘[…] não podemos assumir como Polianas, todas as ofertas das plataformas […]’. Claro que podemos. Poderimos dizer ‘não deveríamos assumir’. Mas vermelhos não conseguem ficar sem defecar regras para os outros. Não deixa de ser engraçado.

  6. ‘[…] o ambiente dos negócios das plataformas e IAs e seus impactos no trabalho, na cultura e na sociedade.’ Vermelhas e suas repetições aporrinhadoras.

  7. ‘[…] é questão de tempo para que elas se apropriem dos nossos trabalhos também,[…]’. Existe curadoria no material para treinar IAs. Não é qualquer porcaria.

  8. ‘Tendo claro a complexidade que o tema envolve, precisamos estabelecer limites à tecnologia.’ Ludismo. Como a esquerda só sabe chafurdar no passado e não tem projeto de futuro quer fazer o tempo parar.

  9. ‘Assim, não havendo Regulamentação para as Plataformas e IA, […]’. Eis o objetivo, regular redes sociais. Controlar o discurso e a população. O stalinzinho interior sempre aparece.

  10. ‘[…] impactos gerados na sociedade e na economia.’ Nenhuma adoção de tecnologia historicamente se preocupa com isto. Porque se fossemos passar os proximos 100 anos debatendo o assunto a humanidade ainda não teria saido das cavernas. Padrão vermelho, ‘vamos debater e empurrar o problema para as calendas ate conseguirmos impor a nossa ideologia’.

  11. Texto em boa parte repete um corte do canal de Youtube ‘Quadrinhos na Sarjeta’. O thumbnail é ‘Estilo Ghibli meu ovo’. Um comuna azedo muito engraçado.

  12. ‘Podemos e precisamos pensar juntos sobre isso.’ ‘Vamos aceitar que […]’. Narcisismo megalomaniaco vermelho. Não ‘precisamos’ p0##@ nenhuma. ‘Vamos aceitar’ indica um ‘coletivo’ que não existe e que, segundo o discurso, teria alguma coisa para fazer para alterar a situação. Ou seja, figuras de linguagem furadas.

  13. Adendo: no Japão, segundo a legislação de propriedade intelectual, todos os trabalhos são permitidos para treinamento de inteligencias artificiais. Atraiu muitos investimentos por lá inclusive. Num pais com economia estagnada é um fato positivo.

  14. ‘Nós damos o limite para a Inteligência Artificial?’. O obvio. Fica parecendo que a opinião de cada um(a) importa. Nada mais longe da realidade. Limites não serão impostos, mas se alguma coisa acontecer neste sentido será longe daqui. Em BSB ensaiaram alguma coisa, mas é irrelevante.

  15. Antes de mais nada outra questão. Um pais como o Brasil, com todas as deficiencias, precisa de um doutorado em comunicação ou um doutorado em direito em cada esquina?

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